sábado, 13 de outubro de 2012

Três Dedos: Um Escândalo Animado

Nome original: Three Fingers
Autor: Rich Koslowski
Editora: Gal Editora  --  Trailer
Ano original / no Brasil: 2002 / 2009
Páginas: 140  --  ISBN: 978-85-61780-02-9
Cores: P&B  --  Tamanho: A4 (1 cm a menos)

A história, bem, o trailer acima já (não) explica. Basicamente, é um mundo meio Uma Cilada Para Roger Rabbit (ou Quem Censurou Roger Rabbit?, se você for mais literário), onde desenhos animados vivem e interagem normalmente com as pessoas de carne e osso.
A revista conta o surgimento da amizade e das grandes produções animadas com Rickey Rat e seu amigo humano Dizzy Walters (paródias de Mickey Mouse e Walt Disney) e segue analisando o motivo por trás de outros personagens não terem feito o mesmo sucesso, e os sacrifícios que eles tiveram que fazer para conseguir um lugar ao sol.

A história é toda contada em formato de documentário, com entrevistas intercaladas, fotos e narrações. Tudo num estilo meio noir, já que estamos falando de coisas dos anos 30 aos 50 e a revista é toda em preto-e-branco. Mas já vi gente resumindo como só "é a história do porquê os personagens animados têm só 3 dedos", bem... dá para resumir assim mesmo. Mas soa um pouco de maldade, a história não é muito profunda nem nada, havia margem pouco aproveitada para englobarem muitos mais assuntos, mas dizer só isso parece pouco.

/* A propósito, Momento Biologia: sempre traduzimos fingers para dedos, e isso não está errado, mas há uma pegadinha... Em inglês não é errada a interpretação de que você tem "4 dedos e o polegar" (está assim no dicionário também, não é só opinião de um ou outro, sei lá, deve ser alguma forma mais antiga de falar) e se você quiser dizer que tem 5 'coisas' na mão, aí você diria "5 digits" [origem do verbo digitar?]. Não temos isso em português [que eu saiba]. É tudo dedo.

Lá também não é errado dizer que você tem 5 dedos/fingers. Se alguém te disser isso em inglês e você corrigir, provavelmente receberá o mesmo olhar de desdem que eu dava quando alguém me dizia que dedo do pé não era dedo, e sim artelho... ["Não, meu caro idiota pedante equivocado... É dedo também!", mas eu não podia dizer isso na cara, porque eu era criança e também não conhecia a palavra pedante]

Mas resumindo, isso é só para explicar porque a história toda fala sobre 3 dedos quando na verdade eles têm 4! É que o polegar não está contando. Na própria revista a editora fala que preferiu manter o nome americano, caso contrário teria que mexer muito no texto do autor, para adaptar.

Bem, esse comentário rápido se esticou em 3 parágrafos... voltemos! */

Não li o quadrinho de surpresa, eu já tinha alguma noção da história e o trailer acima já te coloca num pouco de suspense, mas como eu disse, eu esperava um pouco mais de profundidade. Não teria como fugir muito do humor negro, claro, são personagens de Disney e da Warner dando entrevistas!! Mas eles poderiam ter dado um tom mais sério ou se esticado em mais alguns assuntos. Ou simplesmente, se esticado.

O que me leva aos problemas: a revista teve só 2 na minha opinião, que não são grandes, mas poderiam ter transformando uma rápida e boa diversão em algo épico. [sim, eu exagero mesmo as coisas] Um dos problemas é que ela é curta. São 140 páginas, mas o desenho é muito espaçado. Quando eu comecei a ler achei que ia terminar a revista em 15 minutos, de tão pouco texto e figuras grandes em cada folha. Foi só um susto inicial, mas ainda assim, está longe de ser algo denso, literalmente. O texto não é compacto, há espaço de sobra nas páginas. Com mais texto (ou páginas), a história poderia ser esticada, detalhada, seguir outros caminhos ou focar em mais personagens. Da forma como ficou não está ruim, repito, mas queria mais. Terminei com a sensação de ter assistidos um daqueles mini-documentários de 30min do canal E!.

Ok, o problema acima é algo mais pessoal, quando eu gosto da história, quero que ela dure. O outro talvez possa dizer que é mais técnico. O texto todo, desde o começo, com o rato Rickey dizendo "Eu não sabia de nada... não tive culpa..." vai abrindo um certo suspense sobre porque alguns personagens conseguem sucesso e outros não, teorias de conspiração, menções à um certo ritual... (OBS: no link da editora, lá no alto, há essas primeiras páginas para leitura, e mais umas 2 ou 3 soltas do meio. Basta clicar na capa da revista. Não se preocupem, escolheram bem as páginas, você não ficará sabendo de nada de antemão). Mas aí quando finalmente é revelado para o leitor o que é que acontecia por trás dos panos... Ok, legal, mas pelo suspense que foi feito, eu esperava algo um pouco mais realista ou assustador.

Minha teoria inicial, antes de ler a revista, envolvia a Máfia. Achei que, para conseguir bons papéis no cinema, só através da benção dos chefões; e os personagens teriam que mostrar seu comprometimento dando um dedo. Após começar a ler, e a situação toda parecer mais terrível do que só algo meio yakuza de ser, e ainda usavam a palavra "ritual", comecei a achar que a reviravolta seria mais para o lado sobrenatural...
Não. Isso é tudo que entregarei da história, que já falo bem pouco: não envolve a Máfia nem Satã. [que pena, para ambos os casos!]

Mas ok, ficamos sabendo o que acontecia e vamos em frente. A história não fica ruim, mas perdeu toda aquela pegada inicial de você ficar doido querendo saber o que é que estava acontecendo. "Pronto, agora sabe, e vejamos mais entrevistas."

A revista não chega a ser fina mas, como eu disse, lê-se rápido, então não vou desrecomendá-la para ninguém. Não será cansativa nem exige muita atenção ou conhecimentos. Tendo a chance, podem pegar e ler. Dá para qualquer um se entreter e partir para a próxima. Não recomendo para criancinhas, mas a capa, com o "Mickey" fumando e bebendo tequila, já sugere isso.

Isso posto... Ao mesmo tempo, para curtir plenamente a revista, você precisa ter, sei lá, algo entre 25 e 35 anos. Pode ter mais, desde que você ainda assistisse desenhos animados até uns 10 anos atrás. Já sendo mais novo começa a perigar você não pegar as referências mais antigas. Com tanto Pokémon, Naruto e etc hoje em dia, se você tem 18 talvez não saiba quem foi 'Fritz, o Gato', Ligeirinho ou Frangolino. Eu mesmo, por ex., fiquei na dúvida se o macaco que aparece era paródia de algum personagem ou só um macaco qualquer. [nota: ao que parece, era paródia de um tal de Bosko, encontrei cada possível referência nesta página: Grand Comics Database - Three Fingers]

Já entre 25 e 35 de idade, fica mais fácil supor que você tenha assistido à todos aqueles desenhos antigos ainda, reprisados ad infinitum pela Globo e SBT [ou TVS! ha! seu velho!] ou até pela Cartoon Network, então deve ter crescido vendo Popeye, Pernalonga e Patolino, e até os menos pop, como os citados Frangolino ou Ligeirinho, ou ainda Droopy, Tartaruga Touché ou todos aqueles do Tex Avery; e, ao mesmo tempo, ainda ser novo o suficiente para ser da geração Animaniacs. E claro, sendo mais velho aumenta a chance de você reconhecer as várias paródias de fotos clássicas e saber quem foi Kennedy, Luther King ou até a Marylin Monroe [será um dia triste quando as pessoas perguntarem "Quem?", mas depois que vi gente confundir Lênin com Lenon, tudo é possível].

Na dúvida, para aproveitar bem a revista, é melhor ser mais velho do que mais novo.

Ah propósito, a César o que é de César. Como não dá para acompanhar tudo, quadrinhos nunca receberam muito minha atenção. Lia algo da DC, algum X-Men [xismêin!], Tio Patinhas e Recruta Zero, e depois de velho one-shots aqui e ali, ou séries como Planetary [ô, agonia entre as edições, 2 anos entre algumas] e Astro City [se não sabem o que é, descubram!, Planetary também.].
Três Dedos... nunca ouvira falar até 2 meses atrás. Conheci através do link abaixo:
matando-robos-gigantes/mrg-163-quadrinhos-virando-a-pagina-com-tres-dedos
Pela escolha do tema, ficam meus agradecimentos aos podcasteiros do MRG.
(quem for impaciente, sobre a revista é só dos 5 aos 22 min)

OBS: depois de terminar a postagem resolvi reouvir o programa. Só para vocês terem uma segunda opinião, não concordo com a parte de que a história tem que ser lida em partes ou cansa lendo de uma vez só. Você até pode ler em partes, se tiver autocontrole, mas só para fazê-la durar mais. Até mesmo por ter todo aquele jeitão de documentário televisivo, foi como assistir um Globo Repórter. Não li de uma vez só, mas só porque resolvi ler na hora de ir dormir e no meio bateu sono [mas não foi culpa da história, foi culpa de ser 2 da manhã], e no dia seguinte li o restante.

E para quem teve preguiça de clicar no trailer e ia acabar não assistindo, segue abaixo:

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Independência ou Mortos

Autores: Abu Fobiya (Fábio Yabu) e Harald Stricker
Editora: NerdBooks (o braço literário do Jovem Nerd)
Páginas: 160  --  Ano: 2012  --  Cores: P&B
Site oficial: link (imagens e primeiras páginas para leitura)
Acabamento: excelente. Capa dura e papel couché. Ainda vieram umas folhas plásticas por dentro que eu não entendi bem o que eram... [Proteção anti-traça, talvez? Ela começa a comer a capa, aí bate no plástico e volta, sem atravessar o livro? Não sei, foi pro lixo.]  --  ISBN: 978-85-913277-2-0
Tamanho: um pouco menor que uma folha A4.

◄ Clique na capa para ampliar e expandir.

Ok, eu queria mais zumbis! [KZMB, a rádio zumbi! Miôôôlos!]. Mas, isso de lado, gostei bastante da história. Achei pena alguns personagens morrerem quando já nem tinha mais muita página para a morte ter algum uso [até teve, mas um final feliz também era bem-vindo] ainda mais que a história é principalmente de humor, mas está tudo bem. Mas que seja mencionado, nem todas as mortes foram em vão. Uma delas levou à uma excelente cena de desmiolação que eu tiro meu chapéu.

Ouvira o podcast-jabá do JN sobre o tema (Nerdcast 327: Making of Independência ou Mortos, início em 18min,50seg) e esta cena foi alardeada como "A" cena. Ok, Senhor da Oceania [no meu tempo eu usava mais Oceânia - mas as duas formas estão certas], a expectativa não foi em vão. Ficou muito bom!
[eu só não teria escrito "por ora" naquela parte. "Por ora" significa que pode voltar a ser como era ou mudar, o que na situação é uma baita dupla maldade. Não posso explicar sem dar spoilers... fica a sugestão, para a 2ª edição, de trocarem por "doravante"] [hei!, não reclama de eu ser chato não, você viu o nome do blog quando entrou aqui. rs!]

A propósito, ouvir o podcast não é obrigatório, mas é interessante mesmo assim. Independentemente dos autores serem amigos dos donos do site e ser um baita papo de bar, é uma entrevista cheia de curiosidades sobre como foi o processo de criação e desenho. Vale a pena mesmo para quem não já é fã do site.

Se bem que sem ouvir o podcast acima eu talvez não tivesse entendido a cena do bigode logo de cara. Na hora pareceu que ele estava só retesando o maxilar (!?). Fica a dica para prestarem atenção quem for ler depois de passar por aqui [HA! Ninguém! rs! façamos o seguinte, na impossível situação de você ficar conhecendo o quadrinho por ESTE blog... deixe um comentário. Eu não vou dar prêmio algum, mas faz o seguinte, escolha um tema qualquer que farei uma postagem sobre ele. De repente só dizendo que não tenho nada para falar sobre o assunto, caso realmente não tenha, mas prometo que o pesquisarei por uns 15 minutos. Ou, nunca se sabe, talvez o tema me interesse...]

Voltemos ao quadrinho, que é o que importa. Ah, antes disso, para quem for ouvir o podcast indicado acima, de repente é legal também ouvir antes o Nerdcast 172: Histórias do Brasil Império. Onde vários personagens são criados, por assim dizer.

Voltemos novamente ao quadrinho, e acabei de notar que estou com o péssimo hábito de sair falando o que achei antes mesmo de dizer qual a história.

A história: Dom João VI, fugindo de Portugal durante a era Napoleão, vem para o Brasil. Até aí, igual à História com H. O detalhe é que sua mãe, Dona Maria, a Louca, ao invés de doente mental, era na verdade um zumbi. E daí em diante a história oficial sofre um processo de quentintarantinização e despiroca tudo.

Aproveitando, o Wolverine-jovem aparece na história? Vi um cara com o que pareciam 3 garras e aquele penteado meio esquisito. [eu podia dizer a página, mas não vou não]

Como eu disse, queria zumbis mais presentes, mas a história é muito bem desenhada e o enredo é interessante e fácil de acompanhar. Bem, interessante 90% do tempo. Algumas coisas foram mais infantis do que eu gostaria, mas, convenhamos, você pode chamar de Graphic Novel se quiser, mas é um gibi sobre Dom Pedro I matando mortos-vivos. Então vale. Mas só comentando, as partes que menos gostei foram as envolvendo a Carlota Joaquina e o médico. E por falar em infantil, há algumas cenas de sexo, então talvez não seja a revista mais indicada para vocês comprarem para os miúdos no Dia das Crianças. [em que mundo vivemos... eu falo que a revista não é para crianças por causa de peitos e insinuações... não por causa da violência e carnificina].

E novamente voltando, é tudo divertido e levado com muito humor, na cara de pau. Há uma cena rápida onde aparecem catapultas na história, por ex., eu tive que rir ao ver que o som delas era "TOIM!". [ok, pode ser um exemplo cretino, mas meu senso de humor é cretino. tem muito mais piadas do que essa, não se preocupem] Destaque também para referências históricas, ainda que bem embaralhadas, e o discurso inspirador final, com partes de vários hinos, que ficou muito legal.

E tem zumbis! É mais uma chance de, nas palavras dos autores, "... saborear o doce gosto que só a matança amoral de zumbis proporciona."

E é isso. Esse é um daqueles casos com tanto site falando, que posso parar por aqui. Fica a recomendação. E não sou daqueles que recomendam e compram tudo que Jovem Nerd anuncia. Realmente ficou bom. MUITO bom!