sábado, 26 de janeiro de 2013

Centúria-25

E a Coleção SOS Ficção Científica.

Título original: Centuria-XXV
Autor: Curtis Garland
Pseudônimo de: Juan Gallardo Muñoz
Editora: Cedibra  --  Ano livro / história: 1977 / 1974
Tradução de: Margarida Santana Gandra
Páginas: 128  -- Sem ISBN e acabamento barato
Tamanho: de uma foto (+/- 10x15 cm)

Vivendo e aprendendo... Na minha cabeça "Centúria" tinha dois sentidos: um grupo de soldados comandados pelo Centurião, lá no antigo exército romano; e os textos do Nostradamus. Comecei a ler o texto desse livro, que é no futuro, achando que alguém faria alguma menção à ele, dizendo algo do tipo "Veja só <alguma coisa>. Mas já devíamos saber... Nostradamus previu isso na Centúria 25!", mas ao mesmo tempo, eu sempre checo primeiro o nome original dos livros que leio, e lá estava Centuria-XXV. Ok, não deveria mudar nada na minha cabeça... Mas sempre que vejo algarismos romanos penso em séculos, e bolei a teoria número 2: será que centuria é século em espanhol [além de 'siglo'] e o título do livro foi só uma "tradução" muito da  mal feita?

Pois é... Fui checar agora, escrevendo a postagem, e descobri que centúria é sinônimo de século em português mesmo. Morria sem saber.

Mas agora que fiz mais uma das várias confissões de ignorância desde blog [blogar também é cultura], vamos ao que interessa: o livro.

Bem, antes disso, recapitulem o que é ficção de polpa. Esse texto do Wikipedia escreve muito sem falar quase nada, mas servirá. É isso que esse livreto é: ficção de polpa da melhor (?) qualidade. Mocinha em perigo, herói musculoso e vilões exagerados.
Neste livro a mocinha até que mete porrada também, mas ela não perde a chance de ficar assustada e abraçar o sujeito.

Ah, e ignorem a capa. Não há nenhum astronauta no livro. Muito menos 6 saindo de uma nave. E nem é coisa de brasileiro, a original era igual (imagem roubada deste flickr). Capas forçadas, coloridas e chamativas, e não necessariamente conectadas com a história, é bem típico das pulps também.

Eu não ia nem resenhar o livro. Mas esse é um daqueles casos que parece ninguém mais falou dele em site nenhum... Então eu não resisti.

Até uma mini explicação sobre isso antes: esse livro faz parte de uma coleção dos anos 70, da Cedibra, chamada [eu acho] SOS Ficção Científica [na verdade, era só Coleção SOS, mas com o tempo o "Ficção Científica" deixou de ser uma observação no canto para ocupar meia página], que são traduções para o português de livros curtos de ficção-científica barata espanhola. Esse autor, por exemplo, de acordo com o Wikipedia, só de ficção-científica escreveu 142 livros.
E aí você junta algo sem muita informação na internet (FCs espanholas antigas), só algumas menções aqui e ali, ou o site que linkei no nome do autor [excelente e gigantesco site sobre os autores, mas nem tanto sobre os livros], e aí você converte isso para o Brasil (antigos livros vagabundos, traduções de FCs descartáveis, por uma editora que não existe faz 30 anos), e temos algo com ainda menos informações, ao quadrado.
Os livros originais são da Bruguera, nome famoso no ramo, mas mesmo assim... Não há praticamente nada sobre esses livros em nenhum canto. Se fossem americanos teriam dezenas de sites com resenhas, fan-sites, colecionadores, etc. Então... Eu não podia deixar o bichinho des-resenhado em toda a internet.

Vamos que vamos!

A história: um sujeito acorda, meio desorientado... E com razão! Ele estava morto! E ele sabia disso! Ele lembrava de ter sido assassinado quando lutava por justiça contra corporações malignas. Quando ele sai do lugar onde acordou descobre que não só já passou bastante tempo (indefinido inicialmente), como que ele estava em um mausoléu em sua homenagem numa ilha. Porque ele não só foi considerado um herói por sua luta, mas também era famoso por ser o 1º ser-humano anfíbio, geneticamente modificado (ou criado, não lembro) para este fim.
Daí ele arranja um barquinho e vai em busca de entender o que diabos aconteceu com o mundo, descobrir se ele é o último humano que sobrou, e porque ele ressuscitou, assim, do nada!

Corta a cena. Estamos em outro canto do planeta (mas não muito longe) e descobrimos uma mulher, bolada por motivos parecidos, lutando contra dinossauros e descobrindo que tem super-força, não se queima, e ainda sofre de amnésia, pois não lembra de nada anterior a ter acordado, de seu congelamento desde épocas pré-históricas, dentro de um vulcão! [isso mesmo!]

Claro que os 2 heróis, com quase 2 metros de altura, ela de pele morena e bronzeada, curvas fartas, olhos negros e cabeleira longa e negra; ele loiro, olhos azuis penetrantes, musculoso e longa cabeleira loira [e guelras em algum lugar] iriam se encontrar logo e se apaixonar pelo simples fatos que são lindos de morrer, deuses de carne e osso, e estão sozinhos num mundo devastado.

E não resisto, a postagem ficará longa, mas tenho que digitar a descrição deles.
As primeiras, pelo menos, porque eles são fisicamente elogiados diversas vezes no livro.

"Triton (...) com seu porte gigantesco, louros e compridos cabelos e olhos celestiais, recordava um Aquiles, Ulisses, Segfid* ou Parsifal. A verdade é que possuía a arrogância dos deuses, a beleza dos heróis, a fortaleza de um Titã e a grandeza de um gladiador. Uma mente lúcida, nobre e inteligente, movia aquela massa de músculos e tendões vigorosos, aquele corpo excepcional que um inconcebível milagre biológico tinha devolvido à vida (...)"  [* = acho que Segfid é o mesmo que Siegfried]

Verdade seja dita, as demais descrições não são como esta, de quase meia página, mas ele é elogiado rapidamente outras vezes depois também. Da mocinha, Vulkania, não há uma descrição longa e contínua, mas monta-se uma imagem dela aos poucos, no capítulo em que ela é apresentada. Vamos às partes:

"braços vigorosos e nus (...) seu rosto firme, sensual, emoldurado pelas rebeldes mechas de cabelo negro azulado"; "Vulkania, a fêmea poderosa e selvagem, que movia sua nudez primitiva"; "olhos profundos, escuros como a noite"; "A esfinge vivente, que surgira das profundezas do vulcão radioativo"; "alta, vigorosa, cheia de força física (...) corpo vigoroso, vibrante"; "suas formas sensuais eram demasiado agressivas para passar despercebidas"; e "coxas fortes e macias (...) seios exuberantes".

Putz... Parece que estou descrevendo um livro pornô! Mas é isso, criancinhas... Aos heróis de antigamente não bastavam fazer coisas heróicas, eles tinham que ser absurdamente descritos como seres acima de todos os mortais. E se possível, no máximo de adjetivos, que é para aumentar o texto.

Voltemos rapidamente á história, mesmo porque o livro é fino, e se eu escrever muito, conto o livro inteiro.

Depois de se encontrarem e começarem a andar pelo mundo, em busca de sobreviventes, Charlton Heston e a Nova, quer dizer, Tritão e Vulcânia, vão para Austrália, lar original do mocinho, e acabam sendo feitos prisioneiros por um povo que usa máscaras, que se denominam Os Impuros, e são avisados que enfrentarão um julgamento que certamente os levará a morte. [comentário desconexo: por mais absurdo que pareça, não consegui achar uma foto boa da Linda Harrison e do Heston, ele até está bem na foto que linkei, mas ela nem tanto. Para tirar a má impressão, vejam mais imagens dela aqui]

Pensando bem... Esse livro tem quase 40 anos e não é nada que vocês encontrarão na Saraiva mais perto de vocês (talvez nem no sebo mais perto), então não os deixarei no suspense...

SPOILERS ABAIXO:

Eles precisam provar para os captores que eles não são do maligno povo dos Puros, que seqüestra e mata os do povo impuro sempre que eles deixam seu lar, um antigo bunker atômico mal protegido da radiação.
Eles provam, pois o cara é anfíbio e a fama dele ainda durou até o século XXV, e a mulher não se queima, coisa que seres humanos não conseguem. Ah, bem lembrado: ela também não é humana, ao que tudo indica é alienígena. O povo mascarado, agora confiando nos ressuscitados, mostra que por trás das máscaras estão todos morrendo pela radiação, com a pela destroçada e nojenta [isso parece ser outra idéia tirada de Planeta dos Macacos, do segundo filme agora], e explica que os Puros vivem numa cidade protegida e escondida, porque se move e está sempre mudando de lugar, chamada Novo Éden, onde são imortais e não sofrem com a radioatividade.

Nossos heróis oferecem ajuda e vão atrás da tal cidade [nota: nisso só faltam 10 curtas páginas para acabar o livro, então você sabe que a solução será muito rápida], são outra vez seqüestrados e preparados para serem julgados novamente [pelo jeito todos os sobreviventes da humanidade são advogados], e aí o cara faz um discurso raivoso, se solta, mete a porrada na banca de juízes, e nota que não há sangue... Ó céus! São robôs! Ele se livra de mais alguns; encontra uma forma de desativar todos de uma vez; encontra a Vulkania sem nem precisar procurar; e juntos acham uma biblioteca, onde descobrem que o último dos imortais morreu faz algumas décadas, mas, só de birra, deixou os robôs no lugar, para os Impuros continuarem temendo-os e sendo mortos sempre que possível. Mistério resolvido e cidade encontrada, eles a levam para os Impuros, para que eles possam viver lá, onde não há radiação, e assim terão uma chance de prosperar.

Nossos heróis se despendem, prometendo visitá-los algum dia, e saem para explorar e repovoar o planeta.



FIM DOS SPOILERS.

Como eu disse antes, o livro é bem fino. Letra grande e espaçado. Dá para ler num único susto. Tenho vários livros desta coleção. Muitos eu li na minha época de pirralho e muitos eu só fui comprar depois de velho, e os leio de vez em quando, quando quero algo para descansar a cabeça entre livros mais complicados. Ou se preciso de algo pequeno e fino que caiba bem num bolso [dica: são ótimos para bolsos internos de paletós, para levar em casamentos se você é como eu, que chega na hora, e não tem ninguém no lugar, nem o padre, nem parente, e o coro está testando os instrumentos - outra opção é levar cruzadinhas, mas a Coquetel parou de fazer as do Nível Difícil em tamanho menor]
Fazia tempo que não lia nenhum deles até, acho que desde antes do blog entrar no ar.

Um detalhe divertido é que nem sei quantos livros existem na coleção. São pelo menos 87, mas nunca descobri a quantidade correta. Até vou aproveitar que estou com tempo e vou explicar o cálculo, para caso surja algum outro fã da série por aqui e também tenha a mesma curiosidade. Ou se você for um fã mais bem informado, agradeceria imensamente a elucidação do mistério.

Vamos lá: esse livro é o nº 24 da Série Amarela. Ainda não encontrei nenhum livro nesta série acima do nº 33. Então, por puro chute, assumo que este seja o último dela.
Existem livros de FC dessa coleção que não têm uma 'série colorida', são apenas numerados; e nunca encontrei nenhum deles acima do 15. Ao mesmo tempo, nunca encontrei nenhum da Amarela abaixo do 16. Logo, imagino que sejam uma seqüência só.
E nas demais séries, Azul, Verde e Vermelha (não sei a ordem de publicação) nunca descobri números maiores que os 18. Então ficamos assim:

Série Incolor + Amarela: 1 ao 15 + 16 ao 33
Séries Azul, Verde e Vermelha: 18 livros cada série.

E daí: 33+18x3 = 87!

ATUALIZAÇÃO: a ordem de publicação é a seguinte:
Série Incolor: em 1974 e 1975  //  Demais séries: simultâneas em 1976 e 1977

Mas nunca se sabe, as séries de bolso de romance e de velho-oeste da Cedibra, ambas da mesma época, chegaram, pelo menos, por volta do nº 200. [pode ser bem mais, é que pesquisei isso agora em pouco segundos apenas] Mas se você reparar na Série Amarela, do 16 ao 33 também são 18 volumes... Acho que 18 era o limite nas séries de FC, então aposto que são "só" 87 mesmo.

O negócio é tão ruim de conseguir informações, que dos 87 [ou mais?] livros, dois deles eu não consegui nem descobrir os nomes (Vermelho 16 e Azul 2). Isso vasculhando pelos autores ou pela coleção no Google, Estante Virtual e Mercado Livre. O problema é que também existem livros destes autores em coleções da Futurama ou da Nautilus, por exemplo. Então, geralmente, só dá para ter certeza vendo a capa, que nem todo site traz.
Depois, com tempo, acho que vou scannear as capas dos que eu tenho só para fazer uma postagem-homenagem.

ATUALIZAÇÃO: descobri o nome do Azul 02 uma semana depois da postagem, mas reparei algo que deveria ter notado antes: todos os "incolores" que identifiquei são do K.L. Munro, exceto um! Esse 1 não era da mesma série. Ao invés de ser da Coleção SOS, ele é da Coleção Trevo Negro (de terror). Literalmente, paguei pra ver [comprei! vai que era mesmo da SOS]. Então, de volta à estaca zero. Não sei o nome de dois: "Vermelho 16" e um dos "incolores" com nº indefinido.
→ ATUALIZAÇÃO DURANTE A ATUALIZAÇÃO: Resolvi fazer uma checagem por eliminação, para descobrir o provável nº desse... E num anúncio vencido do TodaOferta, que nem dava o nome dos livros, apenas 'SOS Coleção Cedibra', eu olhei a fotinha... Vi uma capa desconhecida, e deu para ler o nome do livro. Há! Só falta 1 nome agora!

ATUALIZAÇÃO 3: até que foi divertido o suspense... Hoje é dia 6/fev, e jogando mais uma vez no Google, por falta do que fazer [e uma certa obsessão, depois que o assunto começou], encontrei o nome de outros livros da série no catálogo de uma tal Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos [o Google na verdade me jogou numa página de busca sobre "larvas" no tal catálogo]. Bem, já estava lá... Busquei por CEDIBRA VERMELHA, e fui lendo cada um dos títulos, com o suspense crescendo [acervo bem catalogado, por falar nisso]. E lá estava, perto do final, o escorregadio título do nº 16. Mistério resolvido. Agora é achar para comprar.


E é isso, calculando proporcionalmente, tamanho do livro x tamanho da postagem, acho que essa aqui ganha de longe. Nunca escrevi tanto para falar de tão pouco texto. Mas é divertido escrever sobre essas coisas que ninguém mais escreve. Não tem lá muita graça resenhar Crepúsculo ou Guerra dos Tronos [ambos têm postagens que estão em rascunho] porque para esses há 2 milhões de sites a respeito.

Quem tiver achado interessante, estejam a vontade para procurar esse livro [neste momento, 27/jan/2013, há 3 disponíveis no Estante Virtual] e os demais da coleção pelos sebos da vida. Há vários outros bem... hummmm... Não vou dizer que são bons... Bom mesmo, acho que nenhum dos que li foi, mas são antiquadamente divertidos. Só corram para chegarem antes de mim! Porque resolvi que vou tentar completar os 87 [ou mais].

[ou façam o inverso: se tiverem e quiserem vender, entrem em contato, que digo quais já tenho e quais quero comprar]

domingo, 20 de janeiro de 2013

Shatnerquake

Autor e blog oficial: Jeff Burk
Artista da capa: Samuel Deats
Com personagens de: Jornada nas Estrelas, T.J. Hooker, Boston Legal, Além da Imaginação e comercias de TV.
Editora: Eraserhead Press
ISBN: 978-1-933929-82-8  --  Ano: 2009  --  Páginas: 84
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Já reparei que geralmente começo meus textos com alguma opinião fora de contexto sobre o livro ou filme, e só depois digo qual a história do dito cujo [mas bem, geralmente quem está lendo a postagem já a sabe].

Pois bem, vamos fazer algo mais tradicional agora, porque a história do livro em si já deve causar espanto suficiente:

O livro começa com William Shatner chegando na primeira Shatner-Con, com pensamentos de desdém quanto aos fãs, tanto enquanto chega na sua limusine como quando começa a sessão de autógrafos, cercado de fãs esquisitos - inclusive um, que será importante depois, que fez cirurgia plástica para ter o rosto e voz do ator.

Até aí, tudo muito mundo-real. Uma convenção inteira em homenagem ao Shatner e fãs malucos são coisas bem possíveis. [os fãs malucos já existem]

Até que temos um atentado. E somos apresentado à primeira loucura do livro [e começam as muitas mortes]: atrás das telas de cinema da convenção encontram uma "Bomba de Ficção", colocada lá por um campbelliano (fãs de Bruce Campbell, que consideram Shatner o falso profeta).
Como ela não funciona como deveria, não vou explicá-la. O que importa é o resultado. Ela explode e os personagens de William Shatner dão uma de Rosa Púrpura do Cairo (ou Último Grande Herói, se você for uns 15 anos mais novo): eles começam a sair das telas.

Aí você imaginaria: ok, legal, um mundo com um Capitão Kirk, um T.J. Hooker e o advogado chefão do Boston Legal não é um mundo tão ruim. E cada um vai para um lado, com todos os seus trejeitos e particularidades 

Mas enquanto alguns ficam apenas cantando para platéia, ou ficam perdidos falando esperanto [não sabia disso... o Shatner fez um filme de terror (Incubus) todo falado nesse idioma], outros saem meio errados da cabeça, sabendo que não deveriam estar ali e com uma raiva indefinida direcionadas ao Shatner verdadeiro.
Que por sua vez, tenta escapar de toda a confusão que se instaura no centro de convenções (que inclui uma mulher ser pisoteada até a morte por fãs obesos, o Capitão Kirk matar um fã fantasiado de klingon, e o Shatner real praticamente matar uma das versões dele mesmo, que tenta capturá-lo).

E pronto, acabei de descrever tudo que acontece até a páginas 41 de um livro de 83 páginas. Um pouco menos da metade, porque a história mesmo começa na página 11. [o legal é que essa postagem, mais as revisões de digitação e alterações do texto que eu sempre faço, formatação, figuras, links, e etc, no final terão tomado muito mais tempo do que ler o livro] O livro está mais para um conto do que uma novela. Recomendo que leiam em forma digital mesmo, aproveitando que temos Amazon por aqui agora (mas podia ser mais barato, no dia desta postagem está por R$ 10,32), mas até o momento, está bem divertido.

É, não terminei ainda, li até pouco depois do que descrevi apenas. Mas como é fino e só humor negro e correria, é de leitura rápida. Comecei a ler pouco antes do almoço e como teria que parar no meio mesmo [compromisso familiar... acontece] resolvi registrar minhas impressões iniciais antes de sair. Mais 1 hora na volta, e termino.

Achei esse livro via sugestão da Amazon. Queria lembrar a razão dessa sugestão. Muito bom. Como ele é considerado "bizarro fiction", eu devia estar pesquisando livros como o Satan's Glory Hole. Acho que foi isso até... Lembro que uma vez fui parar no site da editora Eraserhead Press, vi nomes como Unicorn Battle Squad, Barbarian Beast Bitches of the Badlands ou The Ass Goblins of Auschwitz [e tantos outros bizarros, que tive que me controlar agora para só citar 3. Clique aqui e se divirta]. Aí... fui na Amazon para ver a opinião das pessoas sobre essas maluquices... E voilá! A Amazon até hoje fica me sugerindo esses livros e outros parecidos (ela insiste em recomendar o Rico Slade Will Fucking Kill You, que vou acabar comprando). E assim surgiu a recomendação do Shatnerquake, que eu não vira no site da editora diretamente.

Não que eu esteja reclamando! As recomendações estranhas da Amazon e as loucas do Youtube já me deram muitas boas horas de diversão.

Acho que esse é um desses livros atuais, impressos sob demanda apenas, com editoras que surgiram só no mercado digital e, depois disso, como tinha gente que ainda prefere ler (ou pelo menos ter também) em papel, começaram lançar versões impressas. Tenho muitos outros livros assim, como o The Old Man and the Wasteland (muito bom). Excelente para os escritores não depender mais de editoras que só querem publicar coisas que acham que vão vender milhões e depois ainda render um filme.

Voltando ao livro em si, a premissa é tão insana, que faço questão de colocar a descrição oficial também:

It's Shatner VS Shatners!

William Shatner? William Shatner. WILLIAM SHATNER!!! It's the first ShatnerCon with William Shatner as the guest of honor! But after a failed terrorist attack by Campbellians, a crazy terrorist cult that worships Bruce Campbell, all of the characters ever played by William Shatner are suddenly sucked into our world. Their mission: hunt down and destroy the real William Shatner.

Featuring: Captain Kirk, TJ Hooker, Denny Crane, Rescue 911 Shatner, Singer Shatner, Shakespearean Shatner, Twilight Zone Shatner, Cartoon Kirk, Esperanto Shatner, Priceline Shatner, SNL Shatner, and - of course - William Shatner!

No costumed con-goer will be spared in their wave of destruction, no redshirt will make it out alive, and not even the Klingons will be able to stand up to a deranged Captain Kirk with a lightsaber. But these Shatner-clones are about to learn a hard lesson...that the real William Shatner doesn't take crap from anybody. Not even himself.

It's Shatnertastic!

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E pronto, cá estou de volta, missão familiar cumprida, final da tarde, e livro lido!
A correria e o humor continuam um pouco na segunda metade do livro, mas com quase todas as piadas já apresentadas, o que sobra é só a perseguição principal entre o Shatner real, Kirk com sabre de luz (se você não tinha visto ainda, clique na capa, no alto, para ampliar) e o fã freak com a cara do Shatner. A história cai um pouco sim (ou bastante até), mas como é um livro superfino, você sabe que já vai acabar. Não que tenha sido ruim, continua bom se você entrar no esquema maluco, mas já não é a mesma coisa. A dica é ler de uma vez só. Da forma como eu fiz acidentalmente, em metades, deu o azar de ter me divertido para cacete primeiro, e ter parado exatamente na parte em que a história começou a não ter muito mais o que fazer. Lendo num só susto pode ser que você não perceba.

E o final achei fraco. Meio Além da Imaginação demais [na verdade, a comparação ideal seria outra, mas seria tão perfeita, que arriscava entregar o final do livro] e isso na sequência de uma outra sequência completamente ilógica, quando os vilões finalmente são "vencidos" (leia, e você entenderá as aspas). Mas, como eu disse, o estilo do livro é chamado "ficção bizarra". Algo eles fizeram para merecer o nome.

Esperava um final mais normal, até mesmo feliz, com o Shatner resolvendo tudo (ou seja, se salvando e dane-se os fãs mortos) e soltando a clássica tirada "Eu sou William Shatner, posso fazer qualquer coisa."  [a fala no filme não é bem essa, e acho que o filme saiu depois do livro, mas isso é só um exemplo].

É como está em algumas resenhas: "o conceito é excelente, a execução nem tanto". Mas, concordo também com o que li em outro blog e dane-se a execução: "a sinopse é boa demais para não comprar o livro na mesma hora". Foi meu caso.

E apesar do final, foram 2 horas bem aproveitadas. [é chute, acho que foi menos].

Tem uma resenha curta e muita boa aqui: DeFlip Side, onde o tal Christopher DeFilippis diz que o livro falha miseravelmente em quase todos os aspectos, mas que você deve comprá-lo mesmo assim. Eu concordo plenamente. Eu poderia ter escrito os dois primeiros parágrafos da resenha dele sem mudar uma letra.

E sem muita relação, mas interessante, encontrei um video do Shatner onde ele brinca com o fato dele não ser o Kirk. "E nem... falar... desse jeito!" como ele é sacaneado no livro e por quase todos os fãs de Jornada: William Shatner - I Am Canadian

E falando de William Shatner, convenção e mortes... Acho que é uma boa deixa para eu finalmente ler o Night of the Living Trekkies. [estamos em janeiro e digo que penso em ler esse livro em breve... hummm... aguardem então a resenha para NOVEMBRO!]

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Branca dos Mortos e os 7 Zumbis

Nome completo: Branca dos Mortos e os Sete Zumbis e outros contos macabros
Autores: Abu Fobiya (Fábio Yabu)
Ilustrações de: Michel Borges
Editora: NerdBooks (o braço literário do Jovem Nerd)
Páginas: 240  --  Ano: 2012  --  Cores: P&B
Site oficial: link (imagens, audio dramas e 1 conto)
Acabamento: excelente. Capa dura e papel grosso e amarelado.  --  ISBN: 978-85-913277-1-3
Tamanho: 13,5 x 18,5 cm (+/- 1 pão de forma e meio)

◄ Clique na capa para vê-la em todo seu brilho (literalmente)

Eu gosto gosto de mistura de histórias. Vi muito tempo atrás o trailer de um Moby Dick com dragões (Age of Dragons, que acabei nunca assistindo depois da opinião ser unânime de que é uma merda) [e revendo agora o trailer, não sei onde eu estava com a cabeça de ter ficado curioso], e estou a meses [anos talvez?] esperando lançarem o Quando o Saci Encontra os Mestres do Terror (link). Olhei meio torto no começo, sei lá, achei a capa meio infantil na época. E ela brilha! Putz! Capa brilhante! Mas eu gostei do outro livro do Abu Fobia (o Independência ou Mortos, já resenhado) e o princípio da coisa era interessante. Não ia perder a chance. Olhei torto mas sabia que ia comprar.

OBS: Não recomendado para menores de 18 anos. [ok... menores de 15, criançada sabe coisa demais hoje em dia e nem o livro pega tão pesado assim]

O que é o livro? São contos de terror, que adaptam ou tomam como base contos populares "infantis" (eles não eram, mas como a maioria das pessoas só os conhece via Disney, passaram a ser). De cara, por exemplo, realmente há uma história em que a Branca de Neve encontra-se com sete zumbis. E não sei se é impressão minha, mas pareceu ter uma palhinha de inspiração com os anões de Moria, que cavaram demais e encontraram o que não deviam. 

E isso acontece por todo o livro. De cabeça agora lembro de pelo menos duas histórias puxadas para Lovecraft. Há uma excelente versão de O Corvo (minha história preferida do livro, gosto desse poema). Recomendo até que vocês comprem "O Corvo" e suas traduções. Tenho a vaga sensação de ter visto uma referência ao Os Pássaros [mas claro, sempre que alguém fala que algo tem referências, pessoal começa a achar de tudo, até uma mera parede branca passa a ser uma referência à Kurosawa ou Truffaut... E não a cor de parede mais popular do mundo] [sei lá, deve ser] e a introdução fala até de Gaiman, mas li muito pouco dele [falha grave] para identificar a referência (no chute, imagino que seja o conto do cemitério).

Há lá suas falhas, claro, os dois contos lovecraftianos começaram bem, mas não cumpriram a expectativa. Opinião minha, claro.

O conto da Bela Adormecida continua onde um dos contos mais famosos do Lovecraft termina, mas no final, depois de muita coisa e maquinações, nada acontece. Ficamos sabendo de um detalhe aterrorizante, que Lovecraft teria usado com maestria e fecharia com poucas palavras. Mas aqui... Sei lá, faltou algo que me me fizesse terminar o conto parando de ler e olhando para o vazio um instante. Ao invés disso terminei o conto com um "Ok, terrível. [para o personagem, não o conto] Próximo!"

E o penúltimo conto, baseado na Rapunzel, teve todo um início lovecraftiano; apesar de não se basear diretamente em nada dele que eu percebesse, por muito pouco não foi o conto mais longo do livro até, e no final... Sei lá, não ficou "Lovecraft o suficiente". E só no final fui descobrir que a história tinha um quê de brincadeira com o filme O Chamado. E eu não sou fã dessa porcaria. [talvez, se eu ver o original, mude de idéia, só vi o americano]. Tanto que nem notei que o nome Samara era daí.

E gostei das aparições da Chapeuzinho, mas justo ela, cuja história, mesmo a versão fofinha, envolve idosas solitárias, bestas antropomórficas, assassinato, homofagia, lacerações por machado e cross-dressing [é, estou forçando um pouco. rs!]... putz, prato cheio. E ela apenas faz uma ponta numa história e é o rápido tema de outra. [correção: folheando agora, achei-a em 4 histórias] É boa a história, só achei que justo a Chapéu merecia mais. No próximo livro, Chapeuzinho de Sangue e o Lobisomem Travesti, talvez?

Por falar nisso, assistam: RED, por Jorge Jaramillo e Carlo Guillot.

Mas agora falemos das coisas boas. O conto baseado no O Corvo, de Edgar Allan Poe. Esse eu não digo a qual história infantil faz referência, porque a graça do conto é descobrir ao final. E estou doido de vontade de dizer o que foi que passou pela minha cabeça na hora. Pensei em outro personagem... do mesmo tipo... vamos dizer assim.
Fiquei uns instantes pensando "Ok, gostei. Mas porque esculacharam tanto com ele?"... E aí me deu o estalo da minha absoluta incompetência mental:
"CARAMBOLAS! [a palavra real não foi essa], É O <nome suprimido>!!!"
Aí tudo fez sentido na mais absoluta graça e simplicidade. Genial. Se algum dia eu levar a cabo meu plano de saber de cabeça O Corvo, vou fazer questão de saber essa versão junto. Talvez, alguém mais esperto, que perceba logo ao que o conto referencia, não se divirta tanto. Mas se você der mole e só perceber alguns instantes depois da última frase... Não vou dizer que é diversão garantida, porque cada um tem o gosto torto que merece, mas eu me diverti.

Isso é algo legal que acontece em alguns contos também. Você não sabe de quem eles estão falando até o final.

O conto da Branca de Neve é bem legal. O da Cinderela é até bem tranquilo. Tem um banho de sangue, mas você já espera algo horrível, o destaque desse é não só a solução, mas como também, após a história basicamente terminar, ficamos sabendo o que aconteceu depois e aí entra uma grave implicação... De que a Cinderela deste conto é a mesma pessoa que aparece em outro conto do livro. Tâmia dramática!!

Isso é digno de nota. O entrelaçamento das histórias ficou muito divertido. Todas você pode ler soltas. Algumas são mesmo. Mas sempre há aquela coisa sobrando, que você nota e solta um "Ué!?" mental mas sabe que está ali por algum motivo e segue em frente. Depois em outra história, tu fica sabendo a razão daquilo. Ou as vezes não é nada que tenha uma razão. É só algo que reaparece, e fica legal.

Bem, mas refolheando o livro agora, não consigo pensar em mais muito o que dizer. Kudos para o conto final, que achei que era uma obra original, algum conto do autor, só para concluir... e PÁ! na tua cara, vem a zuada final na última frase! Mas realmente, a principal graça do livro não é um conto ou outro, é descobrir o que fizeram com eles e a ligação entre as adaptações. Recomendo.

E esse livro não tem um podcast oficial só para ele, mas tem esse aqui, que é o que chegou mais perto: Matando Robôs Gigantes Livros nº 9 - Ah, o horror!
Quem quiser ir direto para o assunto e pular as introduções, vá para 6 min e 30 seg., mas quem nunca ouviu o MRG, saiba que o papo furado é direto, então melhor ouvir logo tudo, para entrar no clima. E eles não falam só do livro de qualquer jeito. Nota: eles definiram bem, o entrelaçamento das histórias é tarantinesco!

Há outros podcasts (que não ouvi) e resenhas por aí, mas hoje vou deixá-los se virarem. Essa postagem ficou 5 meses quase pronta [estou em junho!] e quero finalmente publicá-la e partir para o próximo rascunho fazendo aniversário. Comprem o livro. E fui!

sábado, 5 de janeiro de 2013

Thuvia, Maid of Mars

Autor: Edgar Rice Burroughs
Arte da capa: Michael Whelan [adoro as capas dele, depois desta série descobri outros meus com capas do sujeito]
Editora: Del Rey Books
Ano livro / história: 1985 / 1914
Páginas: 128  --  ISBN: 0-345-32898-1  --  Tamanho: de bolso
Tradução para o português: não existe [e aí, Aleph?!]

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Aha! Mais um livro para cumprir a meta de ler todos os 11. Vamos lá!

A história: No final do terceiro livro eu disse que o filho do John Carter (o Carthoris) arranja uma namorada (a Thuvia). Na verdade... Não arranjou não. Ele até que insiste, mas ela foi prometida à outro príncipe e se mantém fiel aos votos, mesmo não tendo interesse no outro sujeito que ela mal conhece. Em paralelo, outro príncipe de outra grande cidade marciana (Dusar) também está tentando conquistá-la. Mas ao contrário do Carthoris, que é meio metido mas é um bom sujeito e respeita a moça, o tal príncipe (Astok) tenta convencê-la pelos motivos e das formas erradas. O principal argumento dele é que ele a ama, é bonito, rico, um príncipe de uma cidade poderosa, e ela tem mais é que amá-lo por causa disso, e basicamente é uma idiota se não concordar. [e eu achava que eu era ruim de galanteios...]

Em paralelo, o Carthoris inventou o piloto automático. Ele está lá mostrando para uns sujeitos que inventou um treco que basta dizer para onde quer ir, e a nave vai sozinha, ele pode até cochilar no caminho. Aí perguntam para ele o que acontece se outro sujeito tiver a mesma idéia, no caminho inverso. Aí ele explica que também inventou (não com esse nome) o transponder (aquele aparelho que ficou famoso quando dois aviões se esbarraram sobre a floresta amazônica): se vier uma outra nave fazendo o oposto, tem um esquemete lá e elas se desviam sozinhas. Ponto para o Burroughs, que pensou nisso 99 anos atrás. E durante toda a explicação, um sujeito ouve com sombria atenção.

Até um detalhe que é sempre bom recapitular, a história é cheia de clichês, mas... Lembrem: esse livro é da época que os clichês ainda não existiam, estavam sendo inventados. Muitos pelo próprio Burroughs. Então boa parte das coisas manjadas, do ponto de vista atual, na época ainda eram mérito da história.

E começa a ação e o plano nefasto. O atencioso acima era um capanga do príncipe maligno, que adultera o piloto automático para mandar o Carthoris para uma cidade abandonada no meio do nada. Assim que ele deixa a cidade a Thuvia é seqüestrada por soldados do vilão, disfarçados como se fossem de Helium (a cidade do Carthoris). [ou algo assim]

E aí uns boatos bem colocados são feitos. Testemunhas contam para o pai da Thuvia o que viram. Ninguém encontra o Carthoris para perguntar qualé a dele e se ele seqüestrou a garota. E a cidade de Dusar vai colocando lenha na fogueira, querendo colocar cidades amigas em guerra e depois conquistar os destroços.

E corta. Temos um pouco de ação na tal cidade abandonada. Não lembro bem a lógica, mas mandam a nave do Carthoris se perder no mesmo lugar onde resolvem esconder a mocinha. Acho que foi só pela comodidade. "Soldados malignos, fiquem aí tomando conta da seqüestrada, mas quando chegar uma nave perdida, matem o piloto. E continuem o bom serviço. Boa tarde." Não lembro. Mas isso não dá muito certo, aparecem os macacos albinos do primeiro livro, e nem os vilões sabiam que a cidade estava cheia de marcianos verdes. No final, a Thuvia muda de seqüestrador, e é levada agora por um dos verdes.

E lá vai o Carthoris atrás, sem nem saber que o resto do planeta está quase em guerra mundial, achando que ele é o culpado por toda a confusão. E ele encontra a Thuvia num acampamentos dos verdes, que estão para atacar uma cidade desconhecida, habitada por marcianos brancos, mas de um outro tipo, sem serem os do 2º livro [os carecas do filme, mas não lembro se eram carecas no livro também]. Esses tem como traço característico o cabelo castanho-arruivado. E eles não sabem que o resto de Marte ainda existe, estão isolados e acham que todos já morreram e eles são a última cidade em pé.

Enquanto ele pensa em como salvar a moça, um exército de arqueiros sai da cidade e ataca os verdes. Mortos e sangue para todos os lados, e no meio da batalha ele salva a Thuvia. Aí eles notam algo estranho. Todos os mortos são dos verdes, e não há sangue, nem flechas, e nenhum corpo do exército da cidade.

Não vou explicar não. Leia o livro. Mas fica mais um ponto para o Burroughs, que teve, 100 anos atrás, outra idéia que foi ficar conhecida bem depois, em Matrix, a de que basta o cérebro acreditar que você se ferrou e deveria morrer, para morrer de verdade. [meio que entreguei a solução, mas há toda uma seqüência na cidade que podemos pular, na verdade, estou me empolgando e contando quase o livro inteiro]

No final, tudo parecia bem, mas mocinho e mocinha se separam, e lá vamos nós de novo... a Thuvia é re-seqüestrada pelo vilão. Aí tem mais alguns rolos, o Carthoris faz um amigo entre os castanhos-arruivados, finge-se de soldado do exército inimigo, muitas coincidências fortuitas, o cara é um bom espadachim, e fim!

Opinião: 
Li a primeira metade do livro bem aos poucos, não muito animado. De repente o ritmo melhora e li todo o resto quase num golpe só. Acima eu já comecei a esquecer algumas coisas, mas é que estou escrevendo isso duas semanas depois de ter terminado.

No começo há duas partes bem cansativas. Num dado momento o vilão chega na cidade de Helium; e a descrição do local, do comércio, barraquinhas e o cacete, parece que não termina. Não sei se foi má vontade minha na hora, mas deu uma canseira. Isso se repetiu na descrição da cidade abandonada um pouco depois. A teoria da má vontade até pode ser real, porque a história desse livro é: outra princesa marciana é raptada, e outro humano (meio-humano, mas ok) precisa salvá-la.

Já comecei o livro naquela de "De novo? Quantas vezes princesas serão seqüestradas em Marte?" mas pretendo ler todos os livros marcianos do Burroughs até 2014 [tem que dar um tempo entre eles, e estou também intercalando os livros da série Torre Negra, bem mais grossos], e apesar de eventuais pesares, eu gosto deles. Então tudo bem.

Outro problema é a cidade perdida ter continuado perdida. O resto de Marte não conhecê-la, ok. Eles nunca foram lá e olharam, e os marcianos verdes não se dão bem entre si, então não devem ficar trocando informações geopolíticas entre eles. Mas não vi nenhuma explicação decente para ELES, da cidade perdida, não saírem dali para explorar.

Agora, apesar de retomada do interesse, o livro teve um problema no final... Bem, não estarei entregando nada se disser que o filho do John Carter salva a princesa, e termina com ela. Isso é minimamente óbvio. Mas no processo temos uma baita guerra sendo preparada, imensos exércitos voadores [já falo deles] prontos para se chacinarem, um governante que descreveu todos os horrores que aconteceriam à sua cidade se algum dia descobrissem que o idiota do filho dele foi o sequestrador, ah, e o filho escapa, mas com todo o seu exército pronto para ir atrás - o Carthoris tinha uma nave mais rápida, mas dane-se, o cara iria atrás com certeza - e aí, quando você espera que algo aconteça, que os mocinhos encontrem seus reis e anunciem "Vejam, estamos vivos e não foi culpa de filho do Carter", e talvez até tenhamos alguma rápida batalha terminada de forma honrosa, para terminar logo a história, aquela coisa de "Nobre rei inimigo, reconheço que seu filho é um babaca e que você não é totalmente santo, mas nada vale todo o sangue que derramaríamos, uma vez que a mocinha foi salva. Baixemos nossas armas."... Ou uma descrição ainda que rápida da batalha, terminando com papai e filhinho vilão mortos, e corta a cena para um casamento.

Não! Nada disso acontece. A Thuvia passou boa parte do livro apaixonada pelo mocinho mas, honrada por ter sua mão prometida, sem declarar seu amor a ele e nem dando esperança pro rapaz. Desmotivando-o sempre que possível. Aí finalmente essa situação se resolve (surpreendentemente sem a morte do cara que tinha a mão dela em promessa) e aí... Não, o livro não termina com eles se beijando. Mas termina aí.

Temos todo uma situação política insustentável que já deu merda, amigos desfazendo amizades, exércitos batendo no peito, nações estrangeiras ao resgate, vilões NÃO derrotados, doidos para continuar (ao que parece) com seus planos malignos, e... nada disso se resolve no livro. Talvez o livro seguinte faça alguma menção, alguém converse com alguma princesa dizendo "Veja se não vá ser sequestrada você também, hein! Já tivemos duas e da última vez aconteceu X, Y e Z... Menina, foi um problemão que só vendo!". Mas sei lá, não tenho grandes esperanças não.

Confirmando... Acabei de olhar o texto do livro e, nele inteiro, o nome Thuvia só é mencionado 1 única vez, e Dusar (a cidade vilã do livro atual), é mencionada 2 vezes. Não li o livro, isso não é garantia de nada... Mas ainda mais agora, eu confio no meu chute de que toda a parte acima ficou mesmo sem resolução. Fica subentendido que os vilões foram devidamente castigados e tudo acabou bem sem muito sofrimento. E pronto!

Ah, mas algo de bom no final. Falei acima dos exércitos. Ok, sei que é exagero meu, mas a rápida descrição dos exércitos voadores no final ficou bem legal... Peguei um pouco do visual do filme (o John Carter of Mars, que não é de todo o mal, acabei não resenhando até hoje, mas eu gostei), juntei com o que eu já tinha imaginado ou visto de outras imagens por aí, e ficou muito bonito! Teria sido uma cena espetacular. E não só por isso, grande coisa as naves voando... Mas é que nessa parte do livro, de surpresa, o Burroughs traz os marcianos amarelos e os marcianos negros! Dane-se! Entreguei! Mas esse livro tem 99 anos. Porra! Já posso contar spoiler. Eles haviam sido completamente ignorados o livro inteiro. E aí... É descrito que naves deles também se ergueram e estão indo pela batalha, ajudar John Carter, o cara mais cativante e carismático do Sistema Solar pelo jeito.
Não quero saber, foi só meia página de texto, mas a surpresa valeu a "cena". Foi como num filme em que a direção propositalmente te faz esquecer de um personagem, só para fazê-lo chegar no final, correndo com um exército atrás! Muito bom.

Ah, isso acontece nesse livro no final também. Todo aquela história da cidade perdida, ignorada depois, é usada no final, para ajudar a resolver uma situação.

Mas é isso. Começa devagar, fica interessante, e termina meio abruptamente. Agora é esperar mais alguns meses e ver qual a próxima princesa que será seqüestrada.
Dica: a mocinha do próximo livro é a irmã do Carthoris!


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