quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Branca dos Mortos e os 7 Zumbis

Nome completo: Branca dos Mortos e os Sete Zumbis e outros contos macabros
Autores: Abu Fobiya (Fábio Yabu)
Ilustrações de: Michel Borges
Editora: NerdBooks (o braço literário do Jovem Nerd)
Páginas: 240  --  Ano: 2012  --  Cores: P&B
Site oficial: link (imagens, audio dramas e 1 conto)
Acabamento: excelente. Capa dura e papel grosso e amarelado.  --  ISBN: 978-85-913277-1-3
Tamanho: 13,5 x 18,5 cm (+/- 1 pão de forma e meio)

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Eu gosto gosto de mistura de histórias. Vi muito tempo atrás o trailer de um Moby Dick com dragões (Age of Dragons, que acabei nunca assistindo depois da opinião ser unânime de que é uma merda) [e revendo agora o trailer, não sei onde eu estava com a cabeça de ter ficado curioso], e estou a meses [anos talvez?] esperando lançarem o Quando o Saci Encontra os Mestres do Terror (link). Olhei meio torto no começo, sei lá, achei a capa meio infantil na época. E ela brilha! Putz! Capa brilhante! Mas eu gostei do outro livro do Abu Fobia (o Independência ou Mortos, já resenhado) e o princípio da coisa era interessante. Não ia perder a chance. Olhei torto mas sabia que ia comprar.

OBS: Não recomendado para menores de 18 anos. [ok... menores de 15, criançada sabe coisa demais hoje em dia e nem o livro pega tão pesado assim]

O que é o livro? São contos de terror, que adaptam ou tomam como base contos populares "infantis" (eles não eram, mas como a maioria das pessoas só os conhece via Disney, passaram a ser). De cara, por exemplo, realmente há uma história em que a Branca de Neve encontra-se com sete zumbis. E não sei se é impressão minha, mas pareceu ter uma palhinha de inspiração com os anões de Moria, que cavaram demais e encontraram o que não deviam. 

E isso acontece por todo o livro. De cabeça agora lembro de pelo menos duas histórias puxadas para Lovecraft. Há uma excelente versão de O Corvo (minha história preferida do livro, gosto desse poema). Recomendo até que vocês comprem "O Corvo" e suas traduções. Tenho a vaga sensação de ter visto uma referência ao Os Pássaros [mas claro, sempre que alguém fala que algo tem referências, pessoal começa a achar de tudo, até uma mera parede branca passa a ser uma referência à Kurosawa ou Truffaut... E não a cor de parede mais popular do mundo] [sei lá, deve ser] e a introdução fala até de Gaiman, mas li muito pouco dele [falha grave] para identificar a referência (no chute, imagino que seja o conto do cemitério).

Há lá suas falhas, claro, os dois contos lovecraftianos começaram bem, mas não cumpriram a expectativa. Opinião minha, claro.

O conto da Bela Adormecida continua onde um dos contos mais famosos do Lovecraft termina, mas no final, depois de muita coisa e maquinações, nada acontece. Ficamos sabendo de um detalhe aterrorizante, que Lovecraft teria usado com maestria e fecharia com poucas palavras. Mas aqui... Sei lá, faltou algo que me me fizesse terminar o conto parando de ler e olhando para o vazio um instante. Ao invés disso terminei o conto com um "Ok, terrível. [para o personagem, não o conto] Próximo!"

E o penúltimo conto, baseado na Rapunzel, teve todo um início lovecraftiano; apesar de não se basear diretamente em nada dele que eu percebesse, por muito pouco não foi o conto mais longo do livro até, e no final... Sei lá, não ficou "Lovecraft o suficiente". E só no final fui descobrir que a história tinha um quê de brincadeira com o filme O Chamado. E eu não sou fã dessa porcaria. [talvez, se eu ver o original, mude de idéia, só vi o americano]. Tanto que nem notei que o nome Samara era daí.

E gostei das aparições da Chapeuzinho, mas justo ela, cuja história, mesmo a versão fofinha, envolve idosas solitárias, bestas antropomórficas, assassinato, homofagia, lacerações por machado e cross-dressing [é, estou forçando um pouco. rs!]... putz, prato cheio. E ela apenas faz uma ponta numa história e é o rápido tema de outra. [correção: folheando agora, achei-a em 4 histórias] É boa a história, só achei que justo a Chapéu merecia mais. No próximo livro, Chapeuzinho de Sangue e o Lobisomem Travesti, talvez?

Por falar nisso, assistam: RED, por Jorge Jaramillo e Carlo Guillot.

Mas agora falemos das coisas boas. O conto baseado no O Corvo, de Edgar Allan Poe. Esse eu não digo a qual história infantil faz referência, porque a graça do conto é descobrir ao final. E estou doido de vontade de dizer o que foi que passou pela minha cabeça na hora. Pensei em outro personagem... do mesmo tipo... vamos dizer assim.
Fiquei uns instantes pensando "Ok, gostei. Mas porque esculacharam tanto com ele?"... E aí me deu o estalo da minha absoluta incompetência mental:
"CARAMBOLAS! [a palavra real não foi essa], É O <nome suprimido>!!!"
Aí tudo fez sentido na mais absoluta graça e simplicidade. Genial. Se algum dia eu levar a cabo meu plano de saber de cabeça O Corvo, vou fazer questão de saber essa versão junto. Talvez, alguém mais esperto, que perceba logo ao que o conto referencia, não se divirta tanto. Mas se você der mole e só perceber alguns instantes depois da última frase... Não vou dizer que é diversão garantida, porque cada um tem o gosto torto que merece, mas eu me diverti.

Isso é algo legal que acontece em alguns contos também. Você não sabe de quem eles estão falando até o final.

O conto da Branca de Neve é bem legal. O da Cinderela é até bem tranquilo. Tem um banho de sangue, mas você já espera algo horrível, o destaque desse é não só a solução, mas como também, após a história basicamente terminar, ficamos sabendo o que aconteceu depois e aí entra uma grave implicação... De que a Cinderela deste conto é a mesma pessoa que aparece em outro conto do livro. Tâmia dramática!!

Isso é digno de nota. O entrelaçamento das histórias ficou muito divertido. Todas você pode ler soltas. Algumas são mesmo. Mas sempre há aquela coisa sobrando, que você nota e solta um "Ué!?" mental mas sabe que está ali por algum motivo e segue em frente. Depois em outra história, tu fica sabendo a razão daquilo. Ou as vezes não é nada que tenha uma razão. É só algo que reaparece, e fica legal.

Bem, mas refolheando o livro agora, não consigo pensar em mais muito o que dizer. Kudos para o conto final, que achei que era uma obra original, algum conto do autor, só para concluir... e PÁ! na tua cara, vem a zuada final na última frase! Mas realmente, a principal graça do livro não é um conto ou outro, é descobrir o que fizeram com eles e a ligação entre as adaptações. Recomendo.

E esse livro não tem um podcast oficial só para ele, mas tem esse aqui, que é o que chegou mais perto: Matando Robôs Gigantes Livros nº 9 - Ah, o horror!
Quem quiser ir direto para o assunto e pular as introduções, vá para 6 min e 30 seg., mas quem nunca ouviu o MRG, saiba que o papo furado é direto, então melhor ouvir logo tudo, para entrar no clima. E eles não falam só do livro de qualquer jeito. Nota: eles definiram bem, o entrelaçamento das histórias é tarantinesco!

Há outros podcasts (que não ouvi) e resenhas por aí, mas hoje vou deixá-los se virarem. Essa postagem ficou 5 meses quase pronta [estou em junho!] e quero finalmente publicá-la e partir para o próximo rascunho fazendo aniversário. Comprem o livro. E fui!

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