E a
Coleção SOS Ficção Científica.
Título original:
Centuria-XXV
Autor:
Curtis Garland
Pseudônimo de:
Juan Gallardo Muñoz
Editora:
Cedibra -- Ano livro / história: 1977 / 1974
Tradução de: Margarida Santana Gandra
Páginas: 128 -- Sem ISBN e acabamento barato
Tamanho: de uma foto (+/- 10x15 cm)
Vivendo e aprendendo... Na minha cabeça "Centúria" tinha dois sentidos: um grupo de
soldados comandados pelo Centurião, lá no antigo exército romano; e
os textos do Nostradamus. Comecei a ler o texto desse livro, que é no futuro, achando que alguém faria alguma menção à ele, dizendo algo do tipo "
Veja só <alguma coisa>. Mas já devíamos saber... Nostradamus previu isso na Centúria 25!", mas ao mesmo tempo, eu sempre checo primeiro o nome original dos livros que leio, e lá estava
Centuria-XXV. Ok, não deveria mudar nada na minha cabeça... Mas sempre que vejo algarismos romanos penso em séculos, e bolei a teoria número 2: será que
centuria é
século em espanhol [
além de 'siglo'] e o título do livro foi só uma "tradução" muito da mal feita?
Pois é... Fui checar agora, escrevendo a postagem, e descobri que
centúria é sinônimo de
século em português mesmo. Morria sem saber.
Mas agora que fiz mais uma das várias confissões de ignorância desde blog [
blogar também é cultura], vamos ao que interessa: o livro.
Bem, antes disso, recapitulem o que é
ficção de polpa. Esse texto do Wikipedia escreve muito sem falar quase nada, mas servirá. É isso que esse livreto é: ficção de polpa da melhor (?) qualidade. Mocinha em perigo, herói musculoso e vilões exagerados.
Neste livro a mocinha até que mete porrada também, mas ela não perde a chance de ficar assustada e abraçar o sujeito.
Ah, e ignorem a capa. Não há nenhum astronauta no livro. Muito menos 6 saindo de uma nave. E nem é coisa de brasileiro, a original
era igual (imagem roubada deste
flickr). Capas forçadas, coloridas e chamativas, e não necessariamente conectadas com a história, é bem típico das
pulps também.
Eu não ia nem resenhar o livro. Mas esse é um daqueles casos que parece ninguém mais falou dele em site nenhum... Então eu não resisti.
Até uma mini explicação sobre isso antes: esse livro faz parte de uma coleção dos anos 70, da Cedibra, chamada [
eu acho]
SOS Ficção Científica [
na verdade, era só Coleção SOS
, mas com o tempo o "Ficção Científica" deixou de ser uma observação no canto para ocupar meia página], que são traduções para o português de livros curtos de ficção-científica barata espanhola. Esse autor, por exemplo,
de acordo com o Wikipedia, só de ficção-científica escreveu
142 livros.
E aí você junta algo sem muita informação na internet (FCs espanholas antigas), só algumas menções aqui e ali, ou o site que linkei no nome do autor [
excelente e gigantesco site sobre os autores, mas nem tanto sobre os livros], e aí você converte isso para o Brasil (antigos livros vagabundos, traduções de FCs descartáveis, por uma editora que não existe faz 30 anos), e temos algo com ainda menos informações, ao quadrado.
Os livros originais são da
Bruguera, nome famoso no ramo, mas mesmo assim... Não há praticamente nada sobre esses livros em nenhum canto. Se fossem americanos teriam dezenas de sites com resenhas, fan-sites, colecionadores, etc. Então... Eu não podia deixar o bichinho des-resenhado em toda a internet.
Vamos que vamos!
A história: um sujeito acorda, meio desorientado... E com razão! Ele estava morto! E ele sabia disso! Ele lembrava de ter sido assassinado quando lutava por justiça contra corporações malignas. Quando ele sai do lugar onde acordou descobre que não só já passou bastante tempo (indefinido inicialmente), como que ele estava em um mausoléu em sua homenagem numa ilha. Porque ele não só foi considerado um herói por sua luta, mas também era famoso por ser o 1º ser-humano anfíbio, geneticamente modificado (ou criado, não lembro) para este fim.
Daí ele arranja um barquinho e vai em busca de entender o que diabos aconteceu com o mundo, descobrir se ele é o último humano que sobrou, e porque ele ressuscitou, assim, do nada!
Corta a cena. Estamos em outro canto do planeta (mas não muito longe) e descobrimos uma mulher, bolada por motivos parecidos, lutando contra dinossauros e descobrindo que tem super-força, não se queima, e ainda sofre de amnésia, pois não lembra de nada anterior a ter acordado, de seu congelamento desde épocas pré-históricas, dentro de um vulcão! [
isso mesmo!]
Claro que os 2 heróis, com quase 2 metros de altura, ela de pele morena e bronzeada, curvas fartas, olhos negros e cabeleira longa e negra; ele loiro, olhos azuis penetrantes, musculoso e longa cabeleira loira [
e guelras em algum lugar] iriam se encontrar logo e se apaixonar pelo simples fatos que são lindos de morrer, deuses de carne e osso, e estão sozinhos num mundo devastado.
E não resisto, a postagem ficará longa, mas tenho que digitar a descrição deles.
As primeiras, pelo menos, porque eles são fisicamente elogiados diversas vezes no livro.
"
Triton (...) com seu porte gigantesco, louros e compridos cabelos e olhos celestiais, recordava um Aquiles, Ulisses, Segfid* ou Parsifal. A verdade é que possuía a arrogância dos deuses, a beleza dos heróis, a fortaleza de um Titã e a grandeza de um gladiador. Uma mente lúcida, nobre e inteligente, movia aquela massa de músculos e tendões vigorosos, aquele corpo excepcional que um inconcebível milagre biológico tinha devolvido à vida (...)" [
* = acho que Segfid é o mesmo que Siegfried]
Verdade seja dita, as demais descrições não são como esta, de quase meia página, mas ele é elogiado rapidamente outras vezes depois também. Da mocinha, Vulkania, não há uma descrição longa e contínua, mas monta-se uma imagem dela aos poucos, no capítulo em que ela é apresentada. Vamos às partes:
"
braços vigorosos e nus (...) seu rosto firme, sensual, emoldurado pelas rebeldes mechas de cabelo negro azulado"; "
Vulkania, a fêmea poderosa e selvagem, que movia sua nudez primitiva"; "
olhos profundos, escuros como a noite"; "
A esfinge vivente, que surgira das profundezas do vulcão radioativo"; "
alta, vigorosa, cheia de força física (...) corpo vigoroso, vibrante"; "
suas formas sensuais eram demasiado agressivas para passar despercebidas"; e "
coxas fortes e macias (...) seios exuberantes".
Putz... Parece que estou descrevendo um livro pornô! Mas é isso, criancinhas... Aos heróis de antigamente não bastavam fazer coisas heróicas, eles tinham que ser absurdamente descritos como seres acima de todos os mortais. E se possível, no máximo de adjetivos, que é para aumentar o texto.
Voltemos rapidamente á história, mesmo porque o livro é fino, e se eu escrever muito, conto o livro inteiro.
Depois de se encontrarem e começarem a andar pelo mundo, em busca de sobreviventes,
Charlton Heston e a Nova, quer dizer, Tritão e Vulcânia, vão para Austrália, lar original do mocinho, e acabam sendo feitos prisioneiros por um povo que usa máscaras, que se denominam
Os Impuros, e são avisados que enfrentarão um julgamento que certamente os levará a morte. [
comentário desconexo: por mais absurdo que pareça, não consegui achar uma foto boa da Linda Harrison e do Heston, ele até está bem na foto que linkei, mas ela nem tanto. Para tirar a má impressão, vejam mais imagens dela aqui]
Pensando bem... Esse livro tem quase 40 anos e não é nada que vocês encontrarão na Saraiva mais perto de vocês (talvez nem no sebo mais perto), então não os deixarei no suspense...
SPOILERS ABAIXO:
Eles precisam provar para os captores que eles não são do maligno povo dos
Puros, que seqüestra e mata os do povo impuro sempre que eles deixam seu lar, um antigo bunker atômico mal protegido da radiação.
Eles provam, pois o cara é anfíbio e a fama dele ainda durou até o século XXV, e a mulher não se queima, coisa que seres humanos não conseguem. Ah, bem lembrado: ela também não é humana, ao que tudo indica é alienígena. O povo mascarado, agora confiando nos ressuscitados, mostra que por trás das máscaras estão todos morrendo pela radiação, com a pela destroçada e nojenta [
isso parece ser outra idéia tirada de Planeta dos Macacos
, do segundo filme agora], e explica que os
Puros vivem numa cidade protegida e escondida, porque se move e está sempre mudando de lugar, chamada Novo Éden, onde são imortais e não sofrem com a radioatividade.
Nossos heróis oferecem ajuda e vão atrás da tal cidade [
nota: nisso só faltam 10 curtas páginas para acabar o livro, então você sabe que a solução será muito rápida], são outra vez seqüestrados e preparados para serem julgados novamente [
pelo jeito todos os sobreviventes da humanidade são advogados], e aí o cara faz um discurso raivoso, se solta, mete a porrada na banca de juízes, e nota que não há sangue... Ó céus! São robôs! Ele se livra de mais alguns; encontra uma forma de desativar todos de uma vez; encontra a Vulkania sem nem precisar procurar; e juntos acham uma biblioteca, onde descobrem que o último dos imortais morreu faz algumas décadas, mas, só de birra, deixou os robôs no lugar, para os Impuros continuarem temendo-os e sendo mortos sempre que possível. Mistério resolvido e cidade encontrada, eles a levam para os Impuros, para que eles possam viver lá, onde não há radiação, e assim terão uma chance de prosperar.
Nossos heróis se despendem, prometendo visitá-los algum dia, e saem para explorar e repovoar o planeta.
FIM DOS SPOILERS.
Como eu disse antes, o livro é bem fino. Letra grande e espaçado. Dá para ler num único susto. Tenho vários livros desta coleção. Muitos eu li na minha época de pirralho e muitos eu só fui comprar depois de velho, e os leio de vez em quando, quando quero algo para descansar a cabeça entre livros mais complicados. Ou se preciso de algo pequeno e fino que caiba bem num bolso [
dica: são ótimos para bolsos internos de paletós, para levar em casamentos se você é como eu, que chega na hora, e não tem ninguém no lugar, nem o padre, nem parente, e o coro está testando os instrumentos - outra opção é levar cruzadinhas, mas a Coquetel parou de fazer as do Nível Difícil em tamanho menor]
Fazia tempo que não lia nenhum deles até, acho que desde antes do blog entrar no ar.
Um detalhe divertido é que nem sei quantos livros existem na coleção. São pelo menos 87, mas nunca descobri a quantidade correta. Até vou aproveitar que estou com tempo e vou explicar o cálculo, para caso surja algum outro fã da série por aqui e também tenha a mesma curiosidade. Ou se você for um fã mais bem informado, agradeceria imensamente a elucidação do mistério.
Vamos lá: esse livro é o nº 24 da
Série Amarela. Ainda não encontrei nenhum livro nesta série acima do nº 33. Então, por puro chute, assumo que este seja o último dela.
Existem livros de FC dessa coleção que não têm uma 'série colorida', são apenas numerados; e nunca encontrei nenhum deles acima do 15. Ao mesmo tempo, nunca encontrei nenhum da Amarela abaixo do 16. Logo, imagino que sejam uma seqüência só.
E nas demais séries,
Azul,
Verde e
Vermelha (não sei a ordem de publicação) nunca descobri números maiores que os 18. Então ficamos assim:
Série Incolor + Amarela: 1 ao 15 + 16 ao 33
Séries Azul, Verde e Vermelha: 18 livros cada série.
E daí: 33+18x3 = 87!
ATUALIZAÇÃO: a ordem de publicação é a seguinte:
Série Incolor: em 1974 e 1975 // Demais séries: simultâneas em 1976 e 1977
Mas nunca se sabe, as séries de bolso de romance e de velho-oeste da Cedibra, ambas da mesma época, chegaram, pelo menos, por volta do nº 200. [
pode ser bem mais, é que pesquisei isso agora em pouco segundos apenas] Mas se você reparar na Série Amarela, do 16 ao 33 também são 18 volumes... Acho que 18 era o limite nas séries de FC, então aposto que são "só" 87 mesmo.
O negócio é tão ruim de conseguir informações, que dos 87 [
ou mais?] livros, dois deles eu não consegui nem descobrir os nomes (Vermelho 16 e Azul 2). Isso vasculhando pelos autores ou pela coleção no Google, Estante Virtual e Mercado Livre. O problema é que também existem livros destes autores em coleções da Futurama ou da Nautilus, por exemplo. Então, geralmente, só dá para ter certeza vendo a capa, que nem todo site traz.
Depois, com tempo, acho que vou
scannear as capas dos que eu tenho só para fazer uma postagem-homenagem.
ATUALIZAÇÃO: descobri o nome do Azul 02 uma semana depois da postagem, mas reparei algo que deveria ter notado antes: todos os "incolores" que identifiquei são do
K.L. Munro, exceto um! Esse 1 não era da mesma série. Ao invés de ser da Coleção SOS, ele é da Coleção Trevo Negro (de terror). Literalmente, paguei pra ver [
comprei! vai que era mesmo da SOS]. Então, de volta à estaca zero. Não sei o nome de dois: "Vermelho 16" e um dos "incolores" com nº indefinido.
→ ATUALIZAÇÃO DURANTE A ATUALIZAÇÃO: Resolvi fazer uma checagem por eliminação, para descobrir o provável nº desse... E num anúncio vencido do
TodaOferta, que nem dava o nome dos livros, apenas 'SOS Coleção Cedibra', eu olhei a fotinha... Vi uma capa desconhecida, e deu para ler o nome do livro. Há! Só falta 1 nome agora!
ATUALIZAÇÃO 3: até que foi divertido o suspense... Hoje é dia 6/fev, e jogando mais uma vez no Google, por falta do que fazer [
e uma certa obsessão, depois que o assunto começou], encontrei o nome de outros livros da série
no catálogo de uma tal
Biblioteca Comunitária da Universidade Federal de São Carlos [
o Google na verdade me jogou numa página de busca sobre "larvas" no tal catálogo]. Bem, já estava lá... Busquei por CEDIBRA VERMELHA, e fui lendo cada um dos títulos, com o suspense crescendo [
acervo bem catalogado, por falar nisso]. E lá estava, perto do final, o escorregadio título do nº 16. Mistério resolvido. Agora é achar para comprar.
E é isso, calculando proporcionalmente, tamanho do livro x tamanho da postagem, acho que essa aqui ganha de longe. Nunca escrevi tanto para falar de tão pouco texto. Mas é divertido escrever sobre essas coisas que ninguém mais escreve. Não tem lá muita graça resenhar
Crepúsculo ou
Guerra dos Tronos [
ambos têm postagens que estão em rascunho] porque para esses há 2 milhões de sites a respeito.
Quem tiver achado interessante, estejam a vontade para procurar esse livro [
neste momento, 27/jan/2013, há 3 disponíveis no Estante Virtual] e os demais da coleção pelos sebos da vida. Há vários outros bem... hummmm... Não vou dizer que são bons... Bom mesmo, acho que nenhum dos que li foi, mas são antiquadamente divertidos. Só corram para chegarem antes de mim! Porque resolvi que vou tentar completar os 87 [
ou mais].
[
ou façam o inverso: se tiverem e quiserem vender, entrem em contato, que digo quais já tenho e quais quero comprar]