sábado, 31 de agosto de 2013

Imperdoável e Incorruptível

Título original: Irredeemable
/* Deixa eu já cortar aqui os dados técnicos e dizer, Irredimível seria uma tradução muito melhor. Imperdoável quer dizer que você não terá perdão. Mas você não precisa fazer nada depois do que você fez para ser perdoado.
[rezar algumas Ave-Marias talvez, se você for cristão]
Irredimível
quer dizer que você não se redimirá. Para se redimir você precisa fazer algo. Por mais que ninguém vá perdoar o personagem pelo que ele fez também, a troca de títulos muda completamente a mensagem. */
Autor: Mark Waid (de Reino do Amanhã e Miss Hemoglobina)
Editora original: Boom! Studios (dos quadrinhos de Farscape)
Editora no Brasil: Devir (de Sin City e dos livros do Ender)
Edições/páginas: 37+1 / aprox. 840  --  Ano: 2009-2012

Podem ler, é sem spoilers. Pelo menos não descarado. Sei lá.

Pois então, vi outro dia a notícia que isso seria finalmente publicado no Brasil [achei que tinha sido ouvindo o MRG ou no Omelete, mas acabei de achar a notícia no JN, dever ter sido lá então] e resolvi checar a quantas andava o quadrinho.

Esbarrei nele muito tempo atrás, lendo algum outro do Mark Waid, achei a idéia interessante, li os primeiros, e como era uma minissérie, resolvi acompanhar. Na verdade, depois eu fiquei com a impressão de que em lugar nenhum eu li que isso era uma minissérie. Eu acho que concluí isso só porque a capa da primeira revista era "I", a da segunda tinha um "R", depois outro "R", e assim por diante, e meu cérebro racionalizou que a história acabaria quando completasse a palavra. Que tem 12 letras, uma quantidade normal de edições de minisséries, que assim duram 1 ano bonitinho.

Bem, não foi. Eu lembro que parei de ler quando vi que a história estava só se complicando e a "última" edição estava muito perto. Resolvi esperar... Chegou a 12... chegou a 13... a 14... Aí parei de prestar atenção, e de tempos em tempos eu checava se tinha acabado, para ler tudo de uma vez - ou se descobrisse que era mensal e nunca ia terminar, eu também nunca ia ler. Nem notei que não checava isso faz tempo, a revista acabou em MAIO... de 2012!!!

Ok, eu acabo perdendo tempo falando essas inutilidades [mas agora que já digitei... ah, não apago!, digitar é muito chato] Falemos da história.

Se vai mesmo sair em português, daqui a pouco tem gente pesquisando para saber se vale a pena. Resumindo: vale! Mas com ressalvas.

A história, como originalmente vendida, é: e se o Super-Homem ficasse mau.
[Superman é o cacete!]

O que temos é um sujeito, que nada mais é que o Super-Homem com uma roupa diferente e loiro, chamado Plutoniano (lá perto das últimas edições o nome é explicado).

Um certo dia, o cara surta, destrói Metrópolis Sky City, sua cidade "natal", e ninguém é páreo para ele. A primeira coisa que ele fez até foi matar um companheiro de equipe. E a esposa. E as duas crianças. Uma delas bebê. Com raio de calor.

Pois é.

A história segue daí, com os amigos tentando descobrir o que diabos aconteceu, como reverter, ou, se tudo o mais falhar, como pará-lo. Na verdade, nessa hora eles até percebem que o cara nunca foi muito de contar coisas pessoais.

E aí nessa parte, logo na primeira edição, já começa um problema da história. Ela não durou as 12 edições que imaginei, mas com tanto personagem, sub-enredos, etc, acho que 40 edições [já explico essa qtd] foi pouco.

Acho que 60 teria ficado um pouco melhor. Não para esticar o fim, mas para fazer tudo com mais calma desde o começo. Ou doze edições mesmo, estaria de bom tamanho se a história tivesse sido extremamente focada. Todas as 5 ou 6 revistas passadas na "prisão espacial" poderiam ser cortadas, por exemplo.

O que aconteceu é que temos tantos personagens, com várias linhas, rixas, histórias pessoais, planos, até brigas de casal e etc, que muita coisa acabou sendo largada no meio. Ou ficamos curiosos e pronto, nada saiu dali.

Há coisas interessantes. Perto do final um grupo de super-heróis está buscando uma solução alternativa para o problema... Que não dá em nada. Outro herói simplesmente chega e diz "Opa, peraí, vocês não sabiam, mas eu estava bolando outra idéia". E pronto. Páginas e páginas de história "jogadas fora". O leitor acompanhou a outra idéia, estava nas outras páginas. Mas os outros personagens não. Eles não estavam acompanhando a história em forma de gibi.

Achei isso legal, aceitei na boa porque acontece no mundo real. Planos mudam e surpresas acontecem. Eu não quero explicações para tudo. Vi gente reclamando que o passado do "Lex Luthor" deles não foi explicado. Grandes coisa. Tem dois personagens, por exemplo, que usam uma máscara em parte do rosto, estilo Fantasma da Ópera, mas em todos os flashbacks eles não usam. Ó meu deus... Por que será?!?!
Dane-se! Foram anos combatendo o crime, isso deve machucar de vez em quando.
[ATUALIZAÇÃO: parece que na história foi, sim, mostrado a razão das máscaras - ou eu esqueci ou na hora não notei que aquilo era a causa. Mas tudo bem, o exemplo foi para o cacete, mas o princípio da coisa está valendo.]

Pô, imagina o tempo perdido se fossem explicar tudo... Eu lembro que Astro City resumiu toda a Crise nas Infitas Terras em 1 página dupla. E 70% da arte era uma só cena. Isso é coisa de profissional!
No link acima não tem a imagem que eu falei, que era o que eu estava procurando, mas explica +/- a história. Para quem não sabe o que é Astro City, não sabe o que é um quadrinho bom. Eu não lacrimejei como o cara do texto, mas senti um arrepio de emoção bem afeminado, isso eu senti. Putz, dois quadros, um cara de capuz que nem vemos o rosto. E duas frases. Cacete, muito foda. [e a boa notícia é que Astro City voltou!]

Nem preciso ir muito longe, com gibis que vocês não devem ter lido, o próprio Reino do Amanhã, clássico absurdo da DC e do mesmo sujeito, a gente não fica sabendo a origem de cada vilão ou herói do futuro. Estão lá e pronto.
...

Voltando... Mas sim, achei muito mal explicado as transformações que uma vilã mágica sofreu, por exemplo, e nem sei se ela terminou a história viva. Novamente, não temos que saber tudo, mas senti que daquele mato sairia mais cachorro... E foi apenas deixado de lado. O autor disse que a história estava planejada para terminar como terminou, mas que o miolo até lá, não. E muita coisa deu a impressão de que mudou mesmo.

Ex.: 1ª revista; eles estão tentando juntar as peças do passado do Plutoniano; e uma das heroínas diz: "Ele mencionou uma vez uma namorada... uma tal de Ana... Alana..."
Algumas revistas depois vemos que o namoro do cara não era algo para ser lembrando do tipo "uma vez", "uma tal de". O namoro dele saiu em todas as TVs! A mulher virou sensação mundial! "A Lady Di da América" nas palavras do noticiário local e o cacete!
Ela até podia não lembrar o nome da sujeita, mas não ter uma vaga sensação de que ele namorou uma vez e falar isso para os outros como se eles não soubessem.

Ou o cara mudou de idéia sobre como tratar a namorada ""secreta"" no meio do caminho, ou ficou mal explicado. Seria como a Mulher-Maravilha (pré-Novos 52, não sei como está isso hoje) virar pro Batman e perguntar "Acho que o Super namorou uma tal de Lois Lane. Já ouviu falar dela?" e ele responder "Não."

Mais coisas estranhas: os poderes de um outro personagem sofreram DUAS reviravoltas... Na verdade, não sofreram, e aí que ficou duplamente mal explicado. A propósito, o que foi que o telepata leu na mente dele que o assustou tanto, e ainda assustou um dos mocinhos também?

Mas claro, há várias reviravoltas interessantes e muitas idéias legais aqui e ali. Não é algo muito cerebral - o termo reviravolta soa meio dramático demais e parece algo mais grandioso do que é - mas divertiu. Sentei o rabo e li todas as 68 revistas [já explico essa qtd] em 3 dias. [e entre elas eu joguei Civilization V, ô joguinho maldito para te fazer perder a noção do tempo.]

No geral, mesmo não tendo tido grande estima por nenhum personagem, e vários possíveis "furos", a história ficou bem construída. Com vários clichês aqui e ali para ninguém esquecer que ainda é um universo estilo DC/Marvel, com direito a gente empurrando coisas que não deveriam poder ser empurradas e tudo. Ah, mas a revista de quebra "explica" como é que o Super-homem consegue segurar um avião pelo nariz e ele simplesmente não quebrar, já que nenhum avião é construído para ser segurado por ali.

Então... Se você esta lendo isso porque a Devir lançou, em sei lá quantos encadernados, possivelmente custando 49,99 e quer saber se vale a pena? Por esse preço, lembrando que provavelmente serão 4 ou 5 encadernados... Eu não compraria. Estou até hoje no dilema moral de comprar todos os Sin City, por causa do valor. [e ou eu compro todos, ou nenhum]. Mas a história prendeu a atenção, mesmo tendo ficado menos séria do que eu esperava e mesmo sendo muito mais longa do que deveria e, em sendo, ser mais curta do que deveria também.

Ah, e o final? Para quem já leu... Vamos dizer que seja arrogantemente poético por parte do escritor. O personagem imperdoável consegue o seu perdão, mas não das pessoas que ele esperava, e realmente estava complicado imaginar como terminaria a história sem foder com o sujeito ou sem ele ganhar uma estátua e uma tia levando um suco de limão enquanto ele ajudava com a reconstrução do mundo. "Toma aqui meu filho... Matar aquelas 15 milhões de pessoas foi feio, mas está muito calor hoje e pelo menos você está ajudando agora." Não. Qualquer final genérico para o sujeito seria um final ruim. Mas ao mesmo tempo... Mesmo gostando... A minha reação na hora foi "Ah, fala sério!"

Agora, explicando como é que eu li 40 edições de uma revista que durou 37, e não satisfeito, ainda disse que todas juntas somam 68.

A Irredeemable durou 37 edições mas teve também edição especial, com 3 histórias soltas de origens. Duas de personagens da série e uma terceira de outra revista. E há uma história em 4 partes, que 2 delas são na tal outra.
E aí entram as demais 30 das 68: a Incorruptível


Título original: Incorruptible
Edições/páginas: 30 / aprox. 670

No mundo do Plutoniano existe um vilão chamado Dano Máximo (Max Damage, e imagino que não vão traduzir os nomes no Brasil, mas se alguma coisa eu aprendi com Tom Cruise, foi dizer "Dane-se") [nã... mentira, não foi com ele não, mas lembrei disso agora e foi divertido fazer a referência], que, inicialmente, é talvez o único sujeito que consegue ir mano-a-mano com o ex-mocinho (ainda que não tão perigoso quanto o Modeus, o Lex Luthor deles).

Contudo, ele não chega a ser um supervilão, no sentido de que ele não tenta dominar o mundo. Ele é só um ladrão superforte e invulnerável. Mas também não é só um mocinho incompreendido, com amigos ruins, ele é um vilão filho-da-puta mesmo. Que mata inocentes e pronto, e também não vê problema em ajudar outros que o farão em escala ainda maior. E anda por aí com sua peituda parceira menor de idade que usa um colante preto, a Chave-de-Cadeia (Jailbait no original), que não tem poderes. E sim, ele comeu. Mas, talvez, para não ofender a sensibilidade dos leitores, em nada ela parece menor de idade. A única parte em que eu tive um leve "putz" foi na capa alternativa da primeira edição, em que o cara parece muito mais velho (quase 60) e ela parece muito menos (uns 13). A capa é essa. Em todo o resto ele parece ter uns 35 e ela uns 25.

E aí começa nossa história... O Plutoniano surta, destrói uma cidade inteira matando todo mundo... E o Max fica tão bolado, que "surta" no sentido oposto e resolve virar mocinho. Não mata mais, joga fora o dinheiro dos crimes (nem o usa para fazer o bem nem nada, porque aquele dinheiro estava sujo) e até para de comer sua parceira (que reclama repetidas vezes com ele por causa disso) por ela não ter 18 anos ainda.

E aí temos mais 30 revistas no mesmo universo, focando no Max tentando fazer o bem no microcosmos dele, a cidade Coalville, metendo a porrada em alguns antigos companheiros, ajudando pessoas que ele quase matou (umas das personagens do Irredeemable acaba realmente ficando útil nessa revista, ao invés de na outra), contando com a ajuda de um dos poucos policiais que restaram e fazendo alianças estranhas. Mas sempre pensando no bem da cidade e seguindo à risca (tentando pelo menos) seu recém adquirido código moral, até exagerando as vezes.

Algo que me incomodou um pouco foi a troca dos desenhistas. Foram 4 ou 5 ao todo, e isso ia aos poucos tirando o clima. Até a revista 4, por exemplo, parece um quadrinho normal, uma Marvel qualquer, a 5 parece tirado de um episódio de Três Espiãs Demais, e a 6 muda o estilo novamente para algo estilo o antigo desenho do Batman. Você acostuma rápido (exceto pela revista 5, que graças a deus só foi desenhada daquele jeito um vez), mas na Imperdoável os artistas mudavam de forma muito mais suave.

A quantidade de absurda de artistas fica legal nas capas. Muitas capas alternativas. Deu um baita trabalho escolher as das postagem. E de duas, passou para 4, depois para 7. Não resisti. E nem são as melhores, mas queria também variar, para não ficar Plutoniano demais. Se bem que as duas do Incorruptível ficaram parecidas, mas tinha que ter a primeira, claro, e a outra é uma das minhas preferias. Há outras muito boas, mas que na hora de reduzir a imagem ficavam ruim de entender.

Essa revista começou melhor e depois ficou mais confusa, com jeitão de revista mensal, só que sem muito tempo para as histórias serem trabalhadas. Algumas partes beiraram o incompreensível de tão corridas perto do final. E os vilões são mais galhofados também. Mas não é ruim, se você for ler a original, leia essa também. Na pior hipótese, estica a história. E os personagens fazem um rápido crossover mais para frente (ainda que não seja obrigatório ler as partes da história das duas revistas, melhora assim).

É divertida também, principalmente pela relação entre o sujeito e suas parceiras. Podem ler. Eu não vou recomprar traduzida nem encadernada, mas para quem não achar caro e não conhecer, está valendo e recomendo.

ATUALIZAÇÃO: resolvi ver se tinha algum podcast por aí falando da revista. Achei esse abaixo. Já terminei de ouvir e é bem legal. Eles leram a revista na época do lançamento pelo jeito, mas o podcast é de agora, de 2013, então muita coisa eles estão lembrando errado e não é exatamente como eles dizem, mas são detalhes bobos aqui e ali, outras coisas eles notaram que eu nem tinha percebido [foi lá que acabei de ouvir a explicação das máscaras que atualizei mais acima].
ComicPod #110 – Irredeemable
Mas atenção: o programa é spoiler do começo ao fim.
Para quem ficou curioso com as revistas, mas quer spoilers para decidir se lê ou não, fica a sugestão. Parece estranho, mas muito quadrinho, livro ou filme eu só fui ter vontade de ler ou ver depois de saber como a história terminava e, aí sim, eu dava algum crédito para ela e resolvia descobrir como ela chegou até ali. [e digitar isso deu espaço para mais uma capa. rs!! que não é das mais artísticas, mas eu gostei dela - tem o clima da revista e tem a Jailbait]

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