quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Bela Adormecida do Espaço

Título original: La bella durmiente del espacio
Autor: Ralph Barby
Pseudônimo do casal: Rafael Barberán e Àngels Gimeno
Editora: Cedibra  --  Ano livro / história: 1977 / 1973
Coleção: SOS Ficção Científica (Série Verde-11)
Tradução de: Alana Hélade Gandra
Páginas: 128  -- Sem ISBN e acabamento barato
Tamanho: de uma foto (+/- 10x15 cm)

É isso aí, criançada, nem tudo são flores. Todos os livrinhos que eu tinha lido do Coleção SOS até hoje eram histórias bem safadas, mas, dado o contexto, não diria que eram ruins. Exceto talvez o A Nuvem Cósmica, e se teve mais algum faz muito tempo e esqueci. [pior é que no link que acabei de colocar vi que o autor é o mesmo... iiihhh, Ralph Barby, será que o problema é você?] Os dois únicos que eu li desde que comecei o blog até que foram divertidos, já esse agora... O bom deles é que são tão curtos que você lê rápido - nem que seja pela curiosidade de como vai terminar. Então não traumatiza. Mas não foi bom não.

Não dava para esperar grande coisa com um nome desses mas, por isso mesmo, eu estava curioso. Por falar nisso, não há nenhuma mulher verde no livro (falar que as capas desses livros não costumam ter relação com o miolo é padrão, mas não custa avisar): os ETs malignos da história lembram os olhudos de sempre, mas sem narizes e com franjas coloridas. Mas tem sim uma mulher com pouca roupa e um astronauta. E sim, você reconheceu o astronauta! [ou se não reconheceu, você é uma decepção como nerd e desonra sua família e seus antepassados!] [se você for um "nerd de ficção-científica" pelo menos; em Fantasia a negação sou eu, por exemplo, que só li Tolkien, Lewis e, recentemente, Martin, e nunca nem joguei RPG ou um livro jogo]

O casal de escritores (casados na vida real) é conhecido por escrever também histórias mais leves e despreocupadas. E essa faz parte do bolo. Caso vocês não tenham lido o link lá no alto, alguns exemplos de ficção-científica deles são: "Compro múmias siderais", "Ah, que pequeninos", "Tem que pintar os invasores" e "Para a cama, terrestre!".

E o nome dessa história é justa. O enredo é o seguinte: um astronauta (Al Cirus) é salvo por alienígenas e torna-se um "convidado" do planeta deles. Lá eles pedem a ajuda dele para tirar de hibernação uma astronauta de uma nave perdida, que eles salvaram 100 anos antes. Haviam outros dois na mesma nave, mas quando os ets tentaram descongelá-los não deu muito certo. Então eles deixaram a mulher lá, esperando uma chance melhor de sucesso - que é agora o astronauta humano, que conhece todos os procedimentos. Ou seja, um cavaleiro que tirará a dama de seu sono eterno.

E a raça extraterrestre tem uma sociedade estilo insetos, cujos membros são divididos em castas e apenas a rainha (e suas substitutas, já nascidas, chamadas princesas) têm a capacidade de se reproduzirem. E como os ets sabem que a 'bela adormecida' é uma fêmea fértil, ela até é chamada de "princesa humana" por eles.

Mas os pacíficos alienígenas (do planeta Siderium, a "bilhões de milhas") estão meio impacientes com esse descongelamento. O que será que há por trás disto?

Até começou bem... Tem uma parte logo no início, quando os cabeçudos estão se apresentando ao humano:
_ Seja bem-vindo ao planeta Siderium.
_ Siderium? Nunca ouvi falar dele.
_ Há milhões de mundos com vida e dos quais jamais ouviu falar, soberbo terrestre.


HA! TOMA ESSA! O autor deu uma boa sacaneada nesse jeitão antigo de que os alienígenas não só usam termos terrestres que eles não teriam como conhecer, como dos humanos chegarem em qualquer lugar sabendo ou concluindo tudo com exatidão.

Mas pelo jeito não foi proposital, porque passando a boa impressão inicial, assim que ficamos sabendo do horrível plano dos vilões temos só os mocinhos tentando bolar um jeito para escapar, através da porrada. Ou melhor, o mocinho, porque a mocinha (chamada Ágora) é acéfala e chorosa. [como foi que ela se tornou astronauta?!]

Vejam bem, isso dos aliens serem malignos e quererem dominar o universo enganando nossos pobres mocinhos, que costumam ser um sujeito musculoso e altivo e uma mulher loira de beleza fenomenal, isso não me incomoda. Histórias antigas eram assim. Mas nessa abusaram um pouco do machismo e da burrice dos vilões. Além da mocinha chorosa (de "busto redondo e firme, cintura fina e quadris harmoniosamente modelados"), num dado momento até uma doutora alienígena, com um físico completamente diferente do humano, numa sociedade completamente diferente, age como se estivesse ficando interessada no robusto e másculo humano.

No correr da história até ficamos sabendo que, muito tempo atrás, a sociedade deles era fisicamente parecida com a nossa. Mas eles foram se melhorando com o passar do tempo, até virarem um povo que vive abaixo da terra numa sociedade altamente tecnológica, mas com uma sociedade estilo um formigueiro, desprovida de amor e compaixão. Ah, que triste! E essa é a desculpa dada na história para isso, o astronauta deduz que há ainda uma atração primordial no DNA deles pela virilidade humana! Não... não... não! Eu não me sinto atraído por nenhum bicho que deu origem aos humanos. Essa desculpa não cola.

Ah, e a burrice: num dado momento, achando que o astronauta estava dormindo, eles começam a conversar sobre o plano completo deles para o seu futuro de dominação galáctica e o uso que terá a prole do casal terrestre nisto. Sabem aquela cena, típica de desenho animado, quando o vilão começa a conversar com o sub-vilão, de forma completamente desnecessária, sobre o plano completo justo na hora que o mocinho ia entrar na sala: "Eles não sabem que na verdade planejamos dominar a Terra", "E imagina se soubessem que faremos isso usando a nave deles que não foi destruída como dissemos", "Fique calmo, eles nunca a acharão escondida no hangar nº 2, na zona azul, com a senha 12X34Y, que ficará sem proteção na rotação de turno em exatos 17 minutos." Pois então, foi nesse estilo. O plano completo numa conversa aleatória ao lado da única pessoa que não poderia ouvi-la, só porque acharam que ele estava dormindo.

O plano pelo menos era divertido: depois do casal ter 10.000 filhos, porque a mulher seria convertida numa rainha bem estilo formiga, com aquele ventre gigante, os extraterrestres colocariam seus cérebros nos corpos humanos e dominariam o universo. Sendo que parte da prole seria usada como gado, para fornecer a parte restante com carne - coisa que eles não têm no mundo dele. E uma pequena parte para gerar mais humanos.

De positivo na história, a preocupação ecológica dos alienígenas com a flora na superfície do planeta. E só. [e, claro, a parte do "soberbo terrestre", rs!]

E aí, terminamos a história com um pouco mais de machismo:
_ Al, você me salvou!
_ Não quero agradecimentos, Ágora, quero outra coisa...


Ok, tinha rolado um pouco de clima entre eles antes (mas bem pouco e muito rápido). Mesmo assim, nos dois parágrafos seguintes, com o astronauta de volta à sua nave original, o resto da tripulação ainda congelada, e a missão ainda interrompida, ao invés deles saírem de perto do lugar onde os alienígenas o encontraram inicialmente...

Ela dá a outra coisa.

Um comentário:

  1. Boa noite,

    Estou interessado em obter uma listagem com todos os livros das várias séries da colecção SOS Ficção Científica, em que seria fundamental saber qual o título original para poder comparar com as edições originais espanholas e mesmo com as edições similares em colecções portuguesas. Será que dispõe dessa informação? Desde já grato. Cumprimentos, Álvaro Holstein

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