quinta-feira, 17 de maio de 2012

National Lampoon's Doon

De: Ellis Weiner
Ano: 1984  -- Páginas: 222
Editora: Pocket Books  --  ISBN: 0-671-54144-7
(clique na capa para ampliar.)

Eu comecei esse livro muito receoso... Estava enrolando faz anos. Não posso criticar totalmente o senso de humor americano porque cresci com ele em filmes e seriados, e como o livro é antigo, ele estaria livre de ser parecido com as ridículas coisas que eles chamam de paródia hoje em dia. [bons tempos do ZAZ...  e outros, porque ZAZ mesmo, foram bem poucos filmes, e um deles eu nem gosto]
E sobre paródias ruins, dica: nunca assistam Liga da Injustiça. Existem paródias ruins, MUITO ruins, mas você até dá um meio-sorriso a cada 45 minutos (Espartalhões, por ex.), mas esse filme não... nada... NADA!

Voltando ao livro, mesmo o National Lampoons's sendo a galera que nos trouxe Clube dos Cafajestes (nome original: National Lampoon's Animal House), eu ainda olhava para capa um tanto forçada e pensava.... "Isso será uma MUITO ruim. Uma decepção." Ainda mais zuando um dos meus livros preferidos... "Será epic win! Ou um martírio sem tamanho!" É, envolvou Duna, eu sou dramático! A capa britânica é um pouco menos forçada, mas não sei se teria me deixado mais confiante.

A história segue bem próxima a história original. Para quem está lendo isso completamente perdido, significa DUNA, de Frank Herbert. Isso foi uma boa surpresa. Mas claro, segue próximo até onde é possível. O enredo básico é o mesmo: uma Grande Família assume o controle de um planeta desértico, fonte de uma droga essencial para o Império, e é atacada por outra Família com a ajuda do Imperador. E os 2 sobreviventes (o filho e a mãe) planejam retomar o que é de direito com ajuda dos nativos. [isso é um péssimo resumo, muito ruim mesmo, mas vai servir.] A desgraça começa com o fato de que ao invés de areia, o deserto é feito de açúcar. Ao invés de vermes gigantes, são... bem, são vermes gigantes... mas em forma de pretzel (o da capa do livro não é gigante, no livro eles são muito maiores). E a especiaria nada mais é que... cerveja! E tem outras maluquices, como lutas de ofensa [saca aquelas cenas de filme: "Sua mãe é tão gorda..." e o outro rebate com uma ofensa maior? Por aí.] e o poder das grandes casas ser derivado de suas exclusivas receitas de sobremesas. Pelo menos ninguém usa os chapéus de cozinheiro que aparecem na capa.

Mas depois de começar a ler... Até que a desgraça é divertida. O legal é que o livro foi lançado um pouco antes que a versão de cinema, mas eu li achando que eles estavam aproveitando o jeitão exagerado do filme para estereotipar mais ainda em cima ainda. Mas não, foi uma zuação 'autônoma' por assim dizer.
Claro, o enredo envolvendo culinária e fabricação de cerveja é sem pé nem cabeça. Os nome de vários personagens é ridículo. Grande exceção para o Yueh, que virou Oyeah (para quem não leu, o Yueh é o traidor da história). Mas o nonsense das falas é muito bom. E a "realização" das profecias idem.

Isso sem falar de piadas soltas sem relação com nada ou trocadilhos infames, como a rápida menção ao Zé Colméia ou o jogador de basquete Kareem Abdul-Jabbar. O fiapo de história não é um grande condutor da trama, mas essas gags soltas aqui e ali são a graça do livro. E mesmo quando não é nada sutil, como o caixa de dor (?) ter virado um Cubo de Rubik (Cubo Mágico para alguns), a surpresa da idiotice te faz achar graça na hora. Não se sustenta muito tempo, mas aí a cena já mudou.
É como se Duna tivesse se transformado numa seqüência de esquetes do Saturday Night Live. Com aquelas piadas meio termo entre o "só americano ri disso" e "essa foi boa! gostei". Rir mesmo, ainda não aconteceu, mas é engraçado.

A National Lampoon também parodiou em livro O Senhor dos Anéis (Bored of the Rings), e este talvez seja de compreensão mais fácil. Mesmo sem conhecer os livros de Tolkien (o que obviamente seria melhor) todo mundo está acostumado com histórias de anões, magos e espadachins num mundo medieval. Mas já nesse, não sei... Acho que ser fã de Duna é essencial. Com Duna não dá para dizer "todo mundo está acostumado com história de ET, disco voador e príncipes espaciais". Ter visto o filme de 1984 ajuda bastante. Talvez sejam requisitos para poder gostar o livro, que por ora, está legal. É um senso de humor bem cretino. Você encontrará coisas como:

_ Você chamará o Duque de Sir, Sua Alteza, ou De Nobre Origem, mas nunca... que isso fique bem marcado... de Tony!
_ Porque?
_ Porque esse não é o nome dele. Nem Steve.
_ E posso chamá-lo de Grande Dave?
_ Também não.

E assim que a conversa termina, o personagem fica resmungando sozinho sobre "esses estrangeiros, chegam se achando, dizendo quem eu posso ou não chamar de Tony."

Sim, é idiota. Escrevendo agora fica pior ainda. Mas como eu disse, na hora isso te pega de surpresa. Falas idiotas no universo de Duna (bem, exceto os livros do Brian) ficam tão deslocadas, e eu lembro do filme e imagino cada um dos atores ao ler o livro, que fica absurdo. Sinto como se estivesse assistindo as antigas dublagens do Top TV ("Eu quero macarrão") ou, num exemplo mais atual, "Cadê meu headphone?" Talvez ler o livro sem lembrar do filme de trás pra frente e imaginar aqueles atores em cada cena não seja tão engraçado quanto só imaginar os personagens por si só

E aproveitando que estou dando falas do livro, seguem abaixo a realização de duas das "profecias" que mencionei acima. Sim, também são idiotas. Mas faz seguinte, se você conseguir sorrir com isso, já é algum caminho andado para ler o livro. Há piadas melhores, mas que eu não conseguiria reproduzir sem colocar muito mais texto ou preparar o terreno. [a reprodução abaixo por si só já deve ser ilegal, não sei se existe o Fair Use na lei brasileira...]

Quando a Shadout Mapes apresenta-se a Jessica:
"I'm called the Shutout Mopes," the old woman said. "I'm at yer service, Mum."
"I'm delighted to meet you, Mopes," Jazzica said. "But you must call me My Lady. I'm not your mother."
The woman stared wide-eyed at her, took an apprehensive step back, and in a frightened whisper quoted, " 'And she shall be delighted to meet you, and not be your mother.' " The red of her eyes glowed hot. "The legend is true!"

Na cena em que Keynes espanta-se por Paul ter vestido corretamente o traje do deserto:
"You've worn sweatsuits before?"
"This is the first time," Pall said.
"Then someone showed you how to tie the drawstring...?"
"No, I just took a wild guess."
"And he shall tie the drawstring right the first time, and his guess shall be wild." Keynes mulled.

/* 2 semanas depois... */

Pronto, demorei mas terminei [o livro é quase fino, foi só falta de tempo mesmo].

A parte acima foi quase toda escrita mal tendo lido 50 páginas. Queria registrar as minhas primeiras impressões. Vamos agora ao veredicto final:

Sim! A idiotice perdura. Até piora de leve. Sobre as "piadas que só americano riem disso", sim, estão lá, mas existe um segundo tipo delas até, que "pioraram" um pouco, que são piadas referenciais de coisas que ninguém mais vai lembrar hoje em dia, ou nem ter tido conhecimento, para começo de conversa.
Teve um personagem que eu tive que ir no Google, porque senti que havia alguma zuação lá, e fui descobrir que era uma referência à um arquiteto famoso na época nos EUA. Não posso criticar, estrangeiros não entenderiam piadas nossas envolvendo o Niemeyer, mas também não posso dizer que foi engraçado, já que não entendi a piada. A propósito, algo que eu só fui descobrir depois, é que Serutan, a versão no livro para a Princesa Irulan, é uma antiga marca de laxantes. E essas são as referências que peguei depois, devem ter outras que eu posso ter achado que era uma mera piada ou palavra solta, mas de repente eram baita zuação com algo que só sendo americano, e tendo lido isso no início dos ano 80, que eu iria entender.

Mas falando assim parece que depois das 50 páginas iniciais, o livro ficou ruim. Ficou não, manteve o nível igual, mas há um limite de tempo em que você é pegue de surpresa pelas insanidades que acontecem. Depois de um tempo, algumas piadas se repetem, ou você já fica contando com a aleatoriedade. Mas como eu disse, geralmente o ritmo é ligeiro e quando você quase cansa, troca o esquete. Não foi epic win, mas deu para entreter satisfatoriamente. Sorri bastante. Já rir... aí não lembro, acho que não. Recomendável para fãs de Duna apenas. Ganha ponto na recomendação caso tenha gostado do filme. E ajuda se você já tiver passado dos 30, pois pode entender (ou pelo menos reconhecer) algumas das piadas e trocadilhos.
Já houve uma época que todos saberiam quem era o Kareem Abdul-Jabbar, mencionado acima (já gente nova de hoje, talvez só as fãs de basquete). Noam Chomsky, por ex., só reconheci o nome, acho que nunca soube quem era (pelo menos peguei parte da piada).

Ah, uma coisa. Quando estiver lá pelo meio de livro, pare para ler o glossário ao final. Não de uma vez, um pouco aqui, outro ali. Porque? Porque ler o Glossário ao final, de uma vez só, depois de ter terminado o livro, é chato. O Glossário em si é uma zuação com o que existe no Duna original, mas da mesma forma que alguns trocadilhos e piadas funcionam ao longo do livro, outros são só piadas que você passa e nem presta atenção. Ler o Glossário de uma só vez é como se fossem todas jogadas na tua cara ao mesmo tempo (obs: mas boa parte dos termos no glossário nem aparecem na história em momento algum).
Eu não vi que o livro tinha um glossário-paródia também, então, quando terminei de ler, lê-lo em separado foi cansativo. No glossário a quantidade de piadas incompreensíveis aumenta consideravelmente.

Então faça assim, lá pelo meio do livro, entre capítulos, leia 1 página do glossário. De repente você verá algum trocadilho antes dele aparecer na história (por isso que estou chutando para só começar a lê-lo lá pelo meio do livro), mas será melhor do que ler 16 páginas de definições-piadas (nem todas boas) num só susto.

E nada a ver com nada, mas quando fui pegar o link do headphone, re-esbarrei com isso:
FEAR - 1º Stage - Fala do Protagonista

Dane-se que não tem nada a ver com Duna, é sempre bem-vindo reassistir.
Saudades do Esquadrão Força Total dublado. (em inglês ele não é tão engraçado).

E terminando, recomendação final... leiam Duna.
Eu prefiro um pouco mais a tradução da Nova Fronteira, mas a nova versão está valendo também. Gostei da resenha acima, é legal ver gente nova descobrindo a série.

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