quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

The Postmortal

Título americano completo: The Postmortal - A Novel
[o "A Novel" é um complemento bem idiota, já que é um livro, originalmente surgido assim (não foi adaptado de nenhum outra coisa chamada Postmortal), mas como o cara é conhecido por ser blogueiro e americano é um povo estranho, acho que resolveram explicar na capa o que era aquilo...]
Título inglês: The End Specialist
Autor: Drew Magary (de Someone Could Get Hurt: A Memoir of Twenty-First-Century Parenthood)
Editora: Penguin Books  --  Páginas: 370
Ano: 2011  --  Tamanho: padrão (meia folha A4)
ISBN: 978-0-14-311982-1

Sinopse: descobrem a cura do envelhecimento! Você ainda pode morrer, claro, basta ser atropelado, assassinado, decapitado, fuzilado, etc. Ou algum problema de saúde sério. Mas sabendo se cuidar, tendo sorte, e não sendo vítima de nada, o fim dos tempos é o limite. Todo mundo feliz! Ê, coisa boa! Mas o tempo começa a passar e tem gente que começa a pensar em "Mas peraí... Então eu nunca vou poder me aposentar?" e a rever a duração dos casamentos. Já outros, mais sérios já pensam em onde enfiar essa gente toda, que não morre mais e, finalmente, sempre surgem, os maníacos que acham isso errado e resolvem que é hora de começar a matar quem discorda. Padrão.

A história do livro abarca um período de 60 anos e vemos desde a festança inicial até a pocilga que virou o mundo no fim do livro (na verdade, lá pelo meio a coisa já não está boa). OBS: isso não é spoiler, a própria capa do livro já diz que a história irá ladeira abaixo. Está lá, nas letrinhas embaixo do nome do autor [que você não consegue ler na imagem acima]: "The Postmoral will make you regret ever wondering, even secretely, what it would be like to live forever." [ok, rola um exagero, mas deu para pegar o clima]

Reclamemos logo um pouco de cara, porque, afinal... sou ranzinza. rs! [Mas como eu já sei o que vou escrever... A reclamação até pode ser interpretada como um elogio...] Eu queria ter visto mais do mundo criado! Mais política, economia, diferentes culturas lidando com a situação, outros núcleos e etc. Ficamos sabendo de algumas coisas pelo dia-a-dia do personagem principal, mas não tanto como num Guerra Mundial Z, por exemplo, que tinha a desculpa de ser um jornalista entrevistando centenas de pessoas pelo mundo.

O título The Postmortal é americano, ele pareceu dar uma amplitude muito maior ao que seria abordado, fazendo parecer que teríamos uma visão mais ampla e de muitos personagens nesta situação de "pós-mortalidade". [Por mais que o título seja no singular, eu não conseguia pensar nele assim, seria como ler "The Human". Eu não pensaria que a história seria sobre 1 só humano] Já o título britânico original, The End Specialist não só já aponta o foco à um personagem bem específico, como ainda dá a ênfase a fase na vida dele em que ele trabalha com a tal especialização. [e aí você só vai entender o nome do livro lá pelo meio, o que sempre é um charme a mais]

Mais para frente, quando o sujeito arranja o tal emprego, parece que tentaram falar mais do resto do mundo, mas não ficou tão bom. Nem tão afastado do cara, nem tão ligado a ele. Mas legal, melhor que nada.

O livro começa até bem light, parecendo que estamos diante de um futuro glorioso para a humanidade e alegria geral, e cabe a amiga maluquinha do mocinho ser a primeira a dizer aquilo sobre ele nunca mais poder se aposentar, e aí o leitor tem o primeiro "Opa!" mental. E aí, logo depois, a maluquinha morre num atentado a bomba anti-vacina-da-imortalidade, e o livro começa a mostrar que o buraco é mais embaixo.

Na verdade, ficamos sabendo que deu merda antes disso - o primeiro capítulo é em 2093, uns 20 anos depois do fim da história, e lá é bem rapidamente mencionado que "o relato a seguir" é a evidência mais que definitiva que dar imortalidade às pessoas é uma péssima idéia e que isso nunca deveria ser legalizado novamente.

Por falar nisso, o livro é escrito em forma de blog. Na verdade, essa foi a desculpa dada, mas como o livro não é todo em primeira pessoa nem nada, alguém (o tal blogueiro, o mocinho do livro) teria que ter sido muito paranóico para narrar tudo daquele jeito e até reproduzir as falas. Teria sido mais prático apenas deixar tudo como estava, sem darem essa desculpa. Tipo o filme do Robocop ou Tropas Estelares, que do nada surgia um comercial de TV. Bastariam que, do nada, surgissem "links" para notícias da época, reproduções de matérias jornalísticas, ou qualquer coisa. Não afeta em nada, só achei que a "explicação" era desnecessária. Bastaria que o livro, ao invés de ser um resumo do que foi encontrado num "HD" perdido (era o backup do blog e/ou diário do cara), ser, sei lá, a monografia de um aluno do futuro. Ah, e fica a a recomendação (padrão para qualquer história assim) de, ao final do livro, voltarem lá. Lá tinha uma coisa que na hora eu não entendi e esqueci depois. Relendo deu aquele "Ih, agora fez sentido".

Mas voltemos para o passado, no distante 2019.

Depois desse primeiro choque (a maluquinha morrer), vamos acompanhando a vida do sujeito (que é advogado) e as ramificações que a imortalidade causa no psicológico e social das pessoas, como o aumento de preço de tudo e ele não querer se casar com a namorada que é apaixonado porque, afinal, "até que a morte os separe" agora é uma decisão MUITO mais séria. Ficamos sabendo um pouco sobre a vida do pai e da irmã e até, com o passar do tempo, do filho que o cara teve com a namorada, já adulto. E acompanhamos até o casamento que ele finalmente teve, quando finalmente reencontra o amor da vida dele da época do colégio. E claro, lá para o meio do livro, acompanhamos a vida meio merda do cara, na nova profissão. Dessa parte em diante o livro fica um pouco mais chato, entramos na distopia e a história fica um pouco menos saltada. Mas ainda é uma boa leitura.

Eu gostaria é que o autor lançasse agora outro livro no mesmo universo. Eu gostei do personagem e de acompanhar toda a desgraça, mas até o casamento do cara não dá muito certo. E eu queria ter acompanhado como seria a vida "normal" dele nesse mundo desgraçado. Eu queria ver como seria o casamento por tanto tempo, como seria viver com alguém 100 anos tendo ambos cara de 30, e convivendo com seus filhos e netos, todos com a "mesma" idade, o tipo de cansaço mental que isso causaria, esquecimentos e problemas, e tendo que trabalhar num mundo com mais gente do que vaga, e etc. Veja bem, eu não dizendo que queria ler uma história fofinha de amor eterno e riqueza, mas eu queria ver a merda que daria por outro ângulo, e aí o cara cortou esse barato quando fez o casamento acabar muito rápido.

Diga-se de passagem, ô cara para ser azarado! Tudo de ruim acontece com ele! Não vou entrar em spoilers, mas boa parte das desgraças na vida do personagem é puro azar mesmo. Desde a amiga que explode no começo do livro até a última página... [o cara me lembrou o garoto do Elfen Lied.]

Por falar nisso, os personagens. Eu comecei a ler o livro no sábado e na sexta-feira eu fui ao cinema. Vi Questão de Tempo, excelente filme. E o filme me poupou um grande trabalho... Estava lá, já pronta, a cara de cada personagem! O pai que eventualmente morre de doença, a loira gostosona (que aparece no começo de ambos e é um trauma importante na vida do cara), a amiga maluquinha (no filme, a irmã), e a futura esposa (a Rachel McAdams no filme, fofa como nunca). Eu só não reaproveitei a cara do sujeito, principalmente por não lembrar mais dela [e vendo agora, ele tinha uma cara de bom moço exagerada, não ia servir], o meu personagem principal parecia mais um Paul Bettany jovem (vide Coração de Cavaleiro) com cabelo castanho.

Mas é isso. Já falei abrobrinhas suficientes para justificar o fim da postagem.
O livro é a história horrível de um mundo horrível onde as pessoas são imortais - e é justamente isso que deixa tudo tão desgraçado. Mas mesmo com algumas partes chatas e o azar indescritível do cara, foi uma boa leitura.

E ficam quatro resenhas interessantes, para quem quiser ler mais antes de decidir.
[e uma delas cita o Metamorphosis of Prime Intellect, que eu tenho em papel em algum lugar, faz anos, mas agora estou na dúvida se cheguei a ler ou não...]
OBS: o 2º link é cheio de spoilers, o 1º e o 3º vocês podem ler sem se preocupar.

Outra OBS: pensando bem.. a definição do que é a profissão do cara no fim do livro eu não expliquei, porque li sem saber, então quis, de repente, deixar vocês terem a mesma experiência. Mas o que ela é não é spoiler, está em quase tudo que é sinopse por aí, então se vocês quiserem ler o livro sem nem saber isso, não leiam nenhuma delas (provavelmente nenhuma, ponto) e confiem em mim. [hohoho, que perigo!]

Graeme's Fantasy Book Review: If you read only one book this year then I’d seriously consider making it this one.
Terminally Incoherent: Magary’s writing is sharp and witty and deeply satirical.
Staffer's Book Review:  ... a top-notch novel that should have a great deal of appeal to a wide swathe of readers. [essa resenha é curta não fala muito nada além do que eu já disse, mas gostei dela porque o cara foi ao contrário, ele gostou mais da história justamente quando o cara virou o especialista]

E uma de alguém que não gostou, para contrabalançar:
Paper Knife: Aside from his problems with character and motive (...) I am struck too by how superficial this world is. [o divertido é que a maioria dos pontos do cara é totalmente válida, mas eu gostei mesmo assim]

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