domingo, 16 de março de 2014

Recruta Zero x Frank Miller


Bons tempos os anos 80, quando a imagem acima era perfeitamente válida numa revista direcionada à crianças de 6 à 12 anos [não sei a faixa oficial, mas era +/- nessa aí que eu lia Recruta Zero com regularidade]. OBS: cliquem nela para ampliar.

E para saberem, depois que a espada sai voando ela cai no peito do Sargento Tainha, que explode em sangue. [o peito, mas se tivesse sido o sargento inteiro também teria sido impressionante!]

A história acima é a Zeronin, "por Frank Milho", e está na edição nº1 do Almanaque do Recruta Zero, de novembro de 1989, pela Editora Globo. Encontrei-a hoje, fazendo uma limpeza de umas partes mais antigas e inóspitas da estante. Eu nunca fui de guardar revistinhas, mas esta mereceu. [outra, devidamente guardada junto, é a história onde o Homen-Animal encontra-se com o coiote das histórias do Papa-Léguas - aqui em inglês]

E para quem é ruim da cabeça e não pescou, o título e o autor são paródias com Ronin, de Frank Miller. Também está na edição outra história (apenas poucas páginas, na verdade, como a acima) parodiando a O Cavaleiro das Trevas ("O Sargento das Trevas"), mas onde o Tainha veste-se de Super-Homem ao invés de Batman. [também tem sangue, mas bem menos] E tem outra que é como seria se o Recruta Zero fosse desenhado pelo Maurício de Sousa. Para saberem, o mote da revista é que o desenhista do Zero sumiu e os editores estão tentando arranjar outro. E o detalhe interessante é que isso nunca apareceu em nenhuma revista americana do Beetle Bailey (o nome original do Recruta Zero), foi tudo idéia e desenhos de brasileiros, ambos devidamente aprovados pelo Mort Walker (o criador do personagem).

Fui procurar agora uma imagem da capa [preguiça de scannear eu mesmo novamente] e acabei de notar que até que essa revista não foi esquecida, encontrei uma postagem sobre ela de 2008 e saiu uma matéria na Universo HQ mal tem duas semanas até. [e mesmo correndo o risco de acharem que essa postagem aqui é imitação e não uma baita coincidência, não quero saber, a imagem no alto merece] Inclusive, cliquem lá para verem mais imagens da revista. Tem o Tainha de Super.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Walla!, e o captcha em hebraico cursivo!

AHA! Venci! Toma essa WALLA!
Acabei de passar por uma situação tão bizarra, que eu resolvi postar o passo-a-passo do que PARECE que deu certo. Nunca se sabe, mais alguém pode estar passando por isso. [lá fora, pelo menos, tem um monte, gente perguntando isso em português, não procurei muito, mas não achei]

OBS: CAPTCHA são aquelas letras tortas ou manchadas, que costumam aparecer no final de cadastros na internet, para o site ter certeza que você é uma pessoa.

Mas vamos lá. O problema: eu tenho dois emails gratuitos no Walla. Um site israelense. Hoje em dia seria bem idiota você ir lá para criar um email, com o GMail do Google e seu espaço infinito por aí. Mas na época que o que tínhamos eram 250 MB de Hotmail ou 1 GB de Google, e lá eram 3 GB. Um exagero. Mas ok, criei o email lá. Outros criaram. Deve ter muito brasileiro com email lá até hoje. O legal é que passaram muitos e muitos anos e o e-mail tem a mesma cara e as funcionalidades ultra-simples dos tempos da internet lascada. Eu gosto.

Tenho outros, mas sempre usei esses de lá com alguma freqüência. Algum tempo atrás o site parou de ser em inglês e ficou todo em hebraico por padrão. Aí você sofria um pouco, mas achava a opção para colocar o email de volta em inglês lá dentro. Mole.

Ontem... O site me pede para atualizar a senha, que eu não trocava faz anos. "Pois não, meu senhor. Com prazer.", disse eu. Dou nova senha, defino e-mail alternativo, coloco o nome do meu bicho de estimação. Claro, abri a tela simultaneamente no idioma original, para preencher, e outra no Chrome, para ver a tradução.
E aí... :הקלד את המספר הכתוב למטה ("digite o número abaixo:")

 

O diabo do número era em HEBRAICO! CURSIVO! NUMA FIGURA!

Ou seja, não dava nem para ver como é o número 2 deles no Wikipedia é ir lá e digitar "2", e nem pedir para o Google traduzir. No começo eu nem entendi direito o que estava acontecendo, e como eles escrevem da direita para esquerda, achei que eram algarismos ocidentais invertidos misturados com rabiscos! Ô ignorância! [nisso que dá não nascer rico, viajar o mundo e conhecer todas as escritas!]

Vasculhei o Google Imagens, para ver os algarimos em letra cursiva (exemplo). Mas não deu muito certo.

Depois de vasculhar e ver pessoas colocando as figurinhas acima no Yahoo Respostas, e outras pessoas que sabem hebraico respondendo, mas nenhuma explicando, dizendo "aquela coisa que parece um K é o número tal", "a coisa que parece um 2 é ...." (eu ainda achavam que eram algarismos misturados com rabiscos nessa hora), finalmente, uma alma bondosa comentou algo do tipo "o problema é que você tem que traduzir".
Aí deu o estalo! Putz! Não eram algarismos! Está ESCRITO o valor ali.
Não vem 123 em números, vem escrito cento e vinte e três!
E depois confirmei isso esbarrando num fórum, com alguém resolvendo um dos captchas.

Mole então... Google Tradutor! E isso agora é para vocês fazerem aí.

O captcha é, basicamente, a centena na 1ª linha, a dezena na 2ª, e a unidade na 3ª. Alguns são mais complicados que outros (no exemplo acima, o segundo nem tem uma 3ª linha). E ainda estou na dúvida se há alguns riscos inúteis misturados ali ou se são algum sinal real.

Mas então... Hora do Google. Fui lá e digitei: cem, duzentos, trezentos... E vi como eram as centenas (1ª linha). Depois o mesmo para as dezenas e depois as unidades. Dica: parece que hebraico é como português e inglês, de 10 à 19 os números mudam bem, depois disso é  vinte e um, vinte e dois, etc. Ou seja, a dezena não muda. Pareceu. Então você não precisa digitar tudo de dez até noventa e nove.

Novo problema: o Google escreve tudo em letra de fôrma, e o captcha é numa letra manual bem torta. E a letra de fôrma do Google nem sempre parece com a versão tradicional dela. Vasculhei o Google Imagens novamente, mas nada de conseguir me entender. Mas, convenhamos, um "triângulo sem a base atravessado" e uma "bolinha com rabinho", também não têm nenhuma semelhança entre si, e eu acabei de descrever o nosso "A" maiúsculo de fôrma e o minúsculo cursivo.

E foi aí... Que veio a solução, que é razão da postagem inteira [que como sempre ficou mais longa do que devia]:

Passo 1: vá no Google Tradutor e digite os números por extenso.
Ao contrário do exemplo na figura abaixo, comece com as centenas, são só nove opções e é a 1ª linha do captcha.


Passo 2: escolha um deles aleatoriamente, clique com o direito na tradução, Copie, e cole no seguinte site: [o grande achado da noite!!]
Converting between Hebrew Print and Cursive in One Step, por Stephen P. Morse.


Na tela acima, eu peguei o três. Notem a incrível semelhança entre algo que parece um olho de desenho animado pela metade no Google, algo que parece um W no site, e algo que parece uma letra 'e' minúscula ao contrário no formato cursivo. Sim!! Aquilo que parece W17W e eibe são a mesma coisa. [eu fico aqui zuando, mas eu acho essas doideiras o máximo. E música hebraica soa bem, queria ter tempo de aprender]

E você vai assim... Escolha um qualquer, cole no site do Steve, veja como ele se parece em formato manual, olhe para a figurinha e pense "Não, eu preciso de uma centena que comece por algo que pareça um N". E depois "Preciso de uma dezena que tenha duas vezes o W". Em bem poucas tentativas você deve conseguir matar as 3 linhas.

Vale a pena recarregar o captcha até aparecerem os mais fáceis. As letras que parecem as letras "K", "N", "e" ou um "8 falhado no alto" eu achei as mais tranqüilas.

A figura abaixo foi o meu caso real: [um deles, falta resgatar o outro email ainda]

O texto colorido é do Walla, no meio o Google e ao final a versão cursiva do site.
Notem que há um traço no início* da última linha do Walla que não serviu para nada (?) e os "apóstrofos" parecem iguais, mas são letras (?) diferentes.


(*) lembrando que, como hebraico é da direita para esquerda, você vai se confundir algumas vezes apertando backspace e o cursor não apagar nada, ou tentar marcar o texto da esquerda para direita e não funcionar. Diversão adicional.

No final, a tradução do texto acima foi: cem, setenta, três.
Voilá!, "173" e entrei no meu email. OBS: em algarismos romanos mesmo!
Parece complicado, mas fazer esta postagem demorou muito mais que descobrir o número correto. Bem... depois de ter descoberto o site do Stephen pelo menos. [e meus agradecimentos, onde quer que esteja!]

Ah, mas isso tudo foi porque o Walla me forçou a trocar a senha, e eu precisava passar pelo captcha. Mesmo depois da nova senha resolvida, na tela de abertura do email o captcha continua aparecendo, mas você não precisa preenchê-lo todas as vezes. Basta colocar o login, a nova senha, e clicar no botão. Deixe o código em branco mesmo.


E, claro, relembrando... Isso tudo eu ACHO que faz sentido. Sempre existe a possibilidade de eu ter digitado algo errado e passado mesmo assim, por algum problema no site. E adoraria saber, de alguém que fale hebraico, se eu falei alguma sandice acima. [não seria a primeira. rs!]
Então vale a pena vocês tentarem entrar no email digitando qualquer coisa chutada, para ver se cola. Se não colar, tentem o acima. Mero acaso ou não, eu passei! :-D


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[ATUALIZAÇÃO EM 28/março:]
Confirmado, não foi mero acaso. Acabei de ir lá agora de novo, ver se ia funcionar com o meu outro email. E foi até rápido. Também dei sorte de pegar um número fácil. Isso ajuda.

Mas antes de tentar, eu resolvi abrir o meu próprio blog - porque aqui tinha o link do site do Stephen. E qual não foi minha surpresa em descobrir 5 comentários!
DOBREI a quantidade de comentários no site em apenas 1 semana*, sendo que os outros 5 levaram 3 anos e 200 postagens para conseguir. Muito maneiro.
(*) a data da postagem está como 13/março, mas só coloquei no ar mesmo no dia 20.

Galera, fico muito feliz de ter conseguido ajudar. Mesmo que tenham sido poucos, não importa. Fico feliz.

Mas paremos a rasgação de seda [nunca rasguei seda, mas queria, só para testar o ditado] e vamos ao que interessa. Aula de hebraico com o Tio Ranzinza! [até parece]

Esse abaixo é o exemplo real do captcha que acabei de pegar:


A resposta é 828.




Importante:
eu ainda acho que há letras mais fáceis. Dêem preferência ao "K", "e", "N" e "8". O Walla tem um link abaixo da figura, com uma "?" no meio. Clique lá para trocar de captcha até achar um com elas. Várias vezes se possível.

Matar todas as letras é quase impossível, as 3 que eu marquei abaixo com uma seta vermelha são a mesma letra [que parece um D no site do Stephen] Eu nunca ia achar que aquele "J meio deitado" à esquerda da primeira linha fosse a "letra pi" à esquerda da última. Mas eu nem precisei chegar lá (já explico).

E o tracinho inútil (?) sempre aparece (vejam a seta rosa). Só que na primeira linha é ele. Na última, não. Ali é uma letra mesmo. Mas a "vírgula" (?) ao final pareceu inútil. Saber a diferença entre o tracinho e a vírgula inúteis e a letra "I" e o "apóstrofo"... Eu nem tento.
E acostumem-se que o "L minúsculo" e o "E minúsculo" são a mesma letra (seta verde).



Explicando porque eu nem precisei olhar tudo...O 828 foi rápido porque, por eliminação, não sobraram opções. Que se danassem as outras letras, depois de ter resolvido as primeiras, não tinha nenhum outro número com início igual. E eu olhei a minha figura lá no alto (a do 173) e já sabia que "e" do Walla no Google parece um "olho de desenho animado", e o "N" no Google parece um "morrinho"; e a única centena que começava com "olho + morrinho" (da direita para esquerda) era o 800. Resolvido.

E se você começar a reparar, verá que hebraico até simplifica o esquema do português. Aqui tem oitocentos, oitenta, oito. Lá eles têm DKN DJINe,  P'JINe e DJINe. [atenção: isso NÃO é hebraico, é só como as letras se parecem olhando o site do Stephen].
Então matando o quatro, por exemplo, 400 e 40 seriam "DKN quatro" e "P'uatro" [eu não entendi quando a primeira letra some ou não, aí também seria querer demais]

Em português tem leves diferenças, mas tem. É duzentos e não doiscentos, quinhentos e não cincocentos. Em hebraico a regra maluca acima do "DKN" para centena e "P'" nas dezenas funciona que é uma maravilha do trinta/trezentos até o noventa/novecentos, e o cem. Vale tentar ficar pedindo novos captchas até pelo menos 2 deles terem finais parecidos.

Lá no alto, no 173, notem que o 100 é o próprio "DKN" e 3 é "eibe". Se o captcha fosse "DKN eibe + P'eibe + eibe", advinhem qual seria a resposta? Exatamente! 333.
[correção: na verdade, no caso do trezentos, surge um novo D e fica "DKN Deibe", mas o que importa é que: se começa com DKN é centena, se termina com eibe é a terceira.]

E depois de entender essa "regra", descobri que é mais fácil, para resolver o captcha, digitar logo no Google todas as trincas. Coloque lá tudo de uma vez da seguinte forma, que ficará mais fácil para você ir se entendendo:

novecentos
noventa
nove

oitocentos
oitenta
oito

setecentos
setenta
sete

...


Ah, e claro, uma dica que eu não dei porque para mim não adiantou nada, mas... pode dar certo: vá no Google Imagens, digite walla captcha e veja o que aparece.
Se aparecer alguma com alguma das linhas igual à de vocês, clique, abra o site, e veja se alguém respondeu. Com sorte, em duas ou três vezes você descobre todos os valores.

E depois de olhar esse treco várias vezes, você até se acostuma com os rabiscos.
Na verdade, ao invés de dois, tenho três emails no Walla (mas o terceiro estava abandonado mesmo), mas só para testar, fui lá renovar a senha dele também.
Só de curtição.

Mas não queria ter trabalho. Acho que cliquei umas 20 vezes no botão para trocar o captcha até que apareceu "DKN DJINe + P'eibe + ee". Matei a centena e a dezena (800 e 30) só de olhar. E um número que é duas vezes a mesma letra - só existe um: o 6.

Tava começando a ficar divertido resolver isso até. Mas graças a deus acabou. Recuperei meus emails e, pouco a pouco... vou transferir todos meus cadastros pro GMail. Vai que algum dia o captcha é AUDITIVO!

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[ATUALIZAÇÃO EM 21/abril:] Pensando agora... Estou dando trabalho à toa para vocês.
Se todas as dezenas (exceto 10 e 20) são P' + número [o 20 também começa com P', mas o que vem depois dele não é igual ao "dois"] e todas as centenas (exceto 200) começam com DKN [lembrando sempre, isso sou eu inventando uma transliteração louca para o formato das letras], vocês nem precisam colocar tudo no Google.
É bem interessante... mas desnecessário.

Resumindo: só importa identificar as letras do final e vocês só precisam digitar 11 números no Google para matar a charada (de 1 à 9, 10 e 20).

O 200 não entra porque é a única centena sem DKN (o que eu chamo de D muda toda hora, mas o KN é inconfundível). Reparem nos captchas acima, todos têm DKN, se vocês não tiverem, é o 200.

Tem leves pegadinhas, como o 40 que perde uma letra ou o 300 que ganha uma [corrigi isso agora lá em cima até], mas o "final" da palavra em si (o início dela, da direita para esquerda) não mexe. Pô, tá ficando cada vez mais fácil isso. rs!!

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[ATUALIZAÇÃO EM 11/junho:] Estava lendo os novos comentários [e peço desculpas para os que eu não respondi ainda] e pensei em algo: e se o site do Stephen sair do ar? Pois então... Vou facilitar ainda mais a vida de vocês!

Seguem os números que interessam. Google, Stephen e um exemplo de cada caso:


Atenção: no número 4, o exemplo acima não tem o "D" na frente. Realmente, não apareceu no Walla nenhuma das vezes. E o Google traduz para quatro se você deixar sem também. É alguma coisa do idioma... Sei lá. Mas há vários "D" acima, se aparecer, vocês saberão como é. É bom para lembrar da pegadinha de alguns casos perderem ou ganharem novas letras. [e eu não sei quais são eles].

Interessante: não tinha notado antes, mas o vinte é o dez com o P' na frente [e por isso não botei exemplo do 20].

Pegadinha
: eu não apaguei os "tracinhos inúteis" de nenhum dos exemplos. 1º) para vocês se acostumarem a ignorá-los [e eu estava com medo de ser realmente algo do idioma e eu estaria fazendo besteira tirando-os de lá, e aí...] 2º) eu ACHO que finalmente descobri o que eles são! E putz, é muito idiota. Aquilo é o "e". Saca "Trinta e sete"? Pois é... É o êzinho do meio. Mas eu fiquei brincando com isso no Google e foram surgindo novas situações, letras, apóstrofos duplos... [e nerdice tem limite e eu não tenho planos de fazer contas em hebraico] Façam vista grossa para eles (como antes) e pronto!

E acho que, agora sim, esta postagem pára de aumentar! :-D

terça-feira, 4 de março de 2014

A Trilogia Thrawn

     

Títulos: Heir to the Empire, Dark Force Rising e The Last Command
(sempre com um Star Wars: na frente, claro)
Todos já publicados no Brasil como Herdeiros do Império, O Despertar da Força Negra e A Última Ordem, pela antiga Editora Best Seller. [mas como viraram raridades, é mais barato ler em inglês mesmo]
Autor: Timothy Zahn (autor de vários livros de fc mais militar)
Editora: Bantam Spectra --  Anos: 1991, 1992 e 1993
Páginas: +/- 1.300 ao todo. Parece muito, mas são só umas 430 por livro e são de bolso, então uma página cabe menos texto que o normal.
[juntando os 3, deve dar menos texto que qualquer um dos livros de Guerra dos Tronos]

Disney vindo aí, sabe deus mais quantos filmes (estão até falando num 'O Jovem Han Solo'), e pessoal já dizendo que não vão se basear nos livros que vieram antes.
Então resolvi tomar vergonha na cara e finalmente ler a tão famosa Trilogia Thrawn, considerada pelos fãs a continuação oficial dos filmes. Veja bem... Até prova em contrário (ou seja, o George Lucas desdizer) tudo que acontece nos livros de Guerra nas Estrelas acontece "de verdade" no universo dos personagens. Então se o Lucas me autorizar a escrever um livro em que o Luke tem um cachorro de estimação chamado Fofucho, nenhum outro autor pode dizer depois que o Luke nunca teve um cachorro. Exceto o Lucas. Porém... existem livros e livros! Sempre tem aquela situação de "Todos os livros são bons, exceto da série tal." ou "Os livros deste autor eu não considero.", mas a Trilogia Thrawn sempre pareceu ser unanimidade.

E já que agora corremos o risco do Lucas estragar até isso, eu tinha que ler logo a "continuação de verdade" antes. E cá estamos.

A história: Cinco anos depois do O Retorno de Jedi, a Princesa Leia está grávida de gêmeos e é um tipo de embaixadora itinerante da Nova República, o Han Solo é general e o Luke... hummm... a profissão dele é ser Jedi, mas também ajuda. E apesar de termos um novo governo dos mocinhos, ainda existem muitos planetas reticentes com esse papo de refazer a antiga república, há muitas sobras do antigo império por aí, e naves de guerra de menos; então a vida não está mansa, mas está indo. Mas, eis que, de repente, um dos generais do Império que ainda sobraram, um Grande Almirante na verdade, finalmente começa a pôr em andamento um plano para reconquistarem terreno e derrotar de uma vez por toda a galera da antiga Rebelião. [para quem jogou Tie Fighter no PC, ele é o cara de uniforme branco e pele azul] O plano envolve um antigo armazém do Imperador, um Jedi maluco desgarrado (que em troca quer treinar o Luke, a Leia e os filhos dela como seus discípulos do mal), bichinhos que moram em árvores e, claro, uma campanha militar decente - ao contrário do que o imperador anterior fez.
E ainda temos também o Lando, tendo outra vez os negócios atrapalhados pelo império (vide O Império Contra-Ataca); uma guilda de contrabandistas (velhos amigos do Han) e uma ruiva raivosa que quer matar o Luke - e que todo fã de Guerra nas Estrelas sabe que será a futura esposa dele, mas na época do livro ainda não tinham pensado nisso.

Opinião: partindo logo para porrada, o primeiro livro é cheio de forçadas de barra, coincidências e conveniências. O segundo é muita conversa, não achei tão bom [sei lá, acho que falatório não combina muito com Guerra nas Estrelas]. E o terceiro volta a ser mais corrido e com mais ação, mas, novamente, com muitas coincidências fortuitas. Tudo isso com um Jedi surtado no meio, que eu achei um personagem bem irritante (não só pela personalidade dele, mas pela própria existência em si) e o vilão, o tal Thrawn, é inteligente até demais. Um bom vilão, claro, mas no terceiro livro, por exemplo, num momento temos a seguinte conversa.

_ Amigos da rebelião, descobrimos que o plano do vilão é X.
_ Mas espere, isso pode ser o que ele quer que a gente pense.
_ Então você acha que ele fará Y?
_ Ah, não ser que... Ele finge que fará X, para que pensemos que ele fará Y, mas na verdade é X mesmo! Claro!
_ Porra, meu filho, decida-se!


Ok, não foi bem assim. Mas foi quase. O princípio é o mesmo. Os próprios personagens já estavam tão assustados com a inteligência do cara, que já estavam pensando que, na verdade, TUDO era parte de um complicadíssimo plano dele que eles ainda não tinham captado por completo. Pelo menos a conversa acima terminou com um personagem mais sensato decidindo fazer X e dizendo que nem o vilão poderia ser assim tão inteligente e pensar em tudo.

Agora, vamos a parte boa. Acho que o autor conseguiu amarrar tudo que ele escreveu. Coisas feitas ou citadas no começo, lá no terceiro livro você entende a razão. Tem uma personagem até, que tem um dilema, por assim dizer, e lá no último do livro, com toda a ação correndo, você só percebe qual é a solução 1 linha antes do problema ser resolvido. Típico de filme, você de repente vai soltar um "Puta que pariu! Resolvi o mistério" mas só dá tempo para um "Puta..." antes da cena também entregar.

Os personagens ficaram muito bons, não só os novos, mas os conhecidos também. Em momento algum você pensa que eles estão diferentes do que estavam nos filmes. As personalidades estão inalteradas. Achei que reusar a frase "Eu sei!" do Han foi exagero (depois de 5 anos de casados, essa piada interna provavelmente já teria cansado entre eles), mas estão lá, todos os personagens dos filmes, sem serem só personagens quaisquer com os mesmo nomes. E até a inteligência sobrenatural do vilão teve lá sua graça, porque você também começa a duvidar de todos. Num certo momento da história descobre-se que há um espião infiltrado e, automaticamente, você lista mentalmente quais personagens poderiam sê-lo. Eu, por exemplo, cheguei numa conclusão que tornaria o plano do cara muito mais antigo e complicado; mas ao mesmo tempo que estava achando que o autor tinha exagerado na conta, causou um certo "quem espionou Odete Roitman?" na história. [e, no final, a minha teoria estava errada, então o cara não tinha exagerado tanto quanto eu pensara]

Mais coisas legais. A ação é bem cinematográfica. Coisa que tu até pensa "Ah, fala sério!" mas sabe que, se você visse aquilo num filme, não só não acharia nada demais, como até pensaria "Bem bolado...". Especificamente, para quem leu, estou pensando agora na cena da corda. Eu poderia pensar em vários fatores para ela não dar certo. No mínimo, duvidaria da capacidade do personagem de medir o comprimento da corda e da exata distância até onde ela iria assim, simplesmente, no olho e numa questão de segundos. Mas no final, eu tive que sorrir. Foi o tipo de solução cretina, criativa e divertida que eu esperaria de filme de ação espacial juvenil, que é o que o Guerra nas Estrelas é [mesmo que boa parte dos fãs agora tenham 50]. Então isso e mais as personalidade iguais, deu para matar saudades da série original e entrar bem no clima.

Outra coisa é que, apesar de eu ter dito que o autor amarrou as pontas, tem muita coisa que acontece ou planos que são feitos e, na hora H, não dá muito certo ou outros planos aparecem na frente. Eu até comentei sobre isso na postagem do Imperdoável, é legal quando você vê que nem tudo leva a algo ou funciona. Pode ter sido um jeito do autor encher páginas com tramas paralelas? Pode. Mas pode não ter sido também.

Entrando no terreno dos fãs, achei legal descobrir o quanto foi criação do Timothy Zahn no universo de Guerra nas Estrelas pós-filmes. Mara Jade, o Almirante Thrawn, clonagem de jedis, os filhos do Leia e do Han, tudo isso surgiu primeiro neste livro e foram sendo reusados depois. Eu sempre fui fã da série, mas nunca tinha lido nenhum dos livros nem dos quadrinhos. Sempre me mantive informado, tendo uma noção do que acontecia com os personagens ou o mundo deles, mas ler mesmo... Não. E nem pretendo ler mais, com uma rápida exceção que já menciono. Mas, de novo, foi divertido ler o livro e pensar "Então foi esse cara que teve essas idéias! E todas de uma vez!"

A rápida exceção que vou abrir são outros dois livros também do Timothy Zahn, a duologia Hand of Thrawn, que serve um pouco como continuação desta trilogia, e onde o Luke e a Mara começam a pensar em juntar os trapinhos. Esses dois livros já não parecem ser a unanimidade que foram esses três, mas fiquei curioso. O Zahn depois escreveu ainda mais livros envolvendo o Thrawn ou o casal, mas estes eu vou deixar passar, não pareceram tão interessantes assim.

Voltando à parte de ter entrado no clima, geralmente eu leio uns 3 livros ao mesmo tempo. Um principal e dois menores (de contos ou quadrinhos) que leio na hora de dormir ou se quero um livro comigo, mas sem precisar dar total atenção. Enquanto não terminei a trilogia, todos os outros eu parei. Li apenas ela em todas as oportunidades. Mesmo com todas as falhas (nem são tantas até), o livro te deixa curioso sem apelar para ganchos (cliffhangers) apelativos.

Ponto para trilogia como um todo: apesar dos clones e do jedi louco (preferia que o livro tivesse sido feito sem nehum dos dois) eu não queria largá-la.

Falando sobre o jedi louco, a sensação que eu tive é que o tal Joruus C'baoth só estava na história porque o Luke precisava de alguém com poderes da Força para enfrentar. Senão ele só ficaria andando pra lá e pra cá tendo vantagem competitiva sobre todo mundo - afinal, ele seria o único com poderes sobrenaturais. Bem... se era para ser, que fosse assim então, ainda seria melhor que ter o Jedi Beato Salu querendo dominar o universo. [na imagem do Wookiepedia ele me lembra o Charlton Heston em Moisés] E a solução para o Luke não ser o megamaster foi dada pelo próprio livro: os tais bichinhos que bloqueiam a Força de quem está por perto. Pronto. Nas horas em que fosse ser muita vantagem os poderes dele, bastaria ter os bichos nas redondezas - e eles estão por todos os lados mesmo, pois o vilão principal, tanto para se proteger do Luke como, principalmente, do seu 'aliado' (o Jedi Salu) tem sempre esses bichos por perto.

Ok, mas acabaríamos não tendo nenhuma luta de sabres... Mas verdade seja dita, pelo que vi nos filmes, o que liga um sabre-de-luz é um mero botão de liga-e-desliga, não é nenhuma checagem de DNA do usuário ou se ele tem mitocôndrias-mágicos [sim fãs, eu sei, "midichlorians", mas eu renego a existência da 2ª trilogia como sendo uma fanfic, então o nome certo não importa]. Solução para termos o combate: bastaria algum dos vilões saber lutar com espadas e ter um sabre. Simples! E com tanto Jedi que morreu na época antes do primeiro filme, devem ter um monte por aí sobrando.

Ok, ok, não seria a mesma coisa, e a luta final, no último livro, ficou bem legal... Mas realmente, o Jedi louco me incomodou. Não gostei dele. Então, dada a opção, aceitaria qualquer coisa que o escritor tivesse inventando que o eliminasse.

Terminando o assunto, acabei de descobrir que os tais bichinhos (ysalamir) são lagartos! Não vou lembrar mais como foi a descrição deles no livro, mas em algum momento alguém falou sobre eles ficarem bem parados, então na minha cabeça eles pareciam mais com pequenos bichos-preguiça. Mais especificamente, imaginei-os como tarsos! Ok, imaginei errado.

E é só. Essa postagem começou com plano de ter umas 10 linhas, e levou 4 horas... Melhor parar nos tarsos. Tarsos são muito maneiros!

domingo, 19 de janeiro de 2014

Winkie

Título original: também Winkie [que poderia ser traduzido como Piscadinha ou Piscadela]
Autor: Clifford Chase
Editora: Bertrand Brasil --  Ano livro / história: 2011 / 2006
Tradução de: Bruna Hartstein  --  Páginas: 278
Tamanho: padrão, 14x21cm (+/- meia folha A4)
Acabamento: excelente, com direito a detalhes brilhantes e relevo na capa.  --  ISBN: 978-85-286-1474-9

Pois é. As vezes eu também leio livros que não são de ficção-cientifica! Com tanto livro interessante no mundo, e com tão pouco tempo até o dia da minha morte, é preciso ter foco. Mas... Quando eu vi a capa do livro, numa andança aleatória pela livraria, não deu para não pegar e olhar melhor. Depois vi a foto da contra-capa (muito boa, mas estou sem nenhum scanner por perto e não a encontrei na internet) [achei a americana, mas é diferente] e, finalmente, não deu para resistir à descrição oficial na orelha do livro:

   " Neste engraçadíssimo e surpreendente romance, um gentil ursinho de pelúcia ganha vida e vai parar no lado errado da guerra americana contra o terrorismo.

Após sofrer durante décadas a negligência das crianças que costumavam amá-lo, Winkie percebe que, para tomar as rédeas de seu destino, basta decidir fazê-lo. Então, atira-se da prateleira, pula a janela e segue para a floresta. Entretanto, tão logo começa a descobrir o prazer e as maravilhas da mobilidade, da autodeterminação e até mesmo do amor, sua sorte termina.

Pouco depois de encontrar a cabana de um professor solitário, o ursinho se vê cercado por um esquadrão da SWAT, que imediatamente conclui ser ele a mente maquiavélica por trás de dúzias de ataques terroristas rastreados até a floresta. Aterrorizado e confuso, Winkie é levado a julgamento, no qual a promotoria busca selar o destino do pequenino urso chamando para depor testemunhas dos julgamentos de Galileu, Sócrates, John Scopes, Oscar Wilde e das bruxas de Salém.

Com uma gama de personagens que varia de uma servente muçulmana lésbica a um advogado gago e uma filhote deurso que vive citando lacan, winkie apresenta uma crítica mordaz da paranoia em que vivemos atualmente. Num segundo plano, o romance de Chase é uma bela reflexão sobre as lembranças e o amor que nos remetem àquela época de nossa vida anterior à consciência, quando um brinquedo de pelúcia ou uma simples história podia nos garantir indiscútiveis consolo e sabedoria. "


E de novo, vocês viram a cara de maluco do urso? Eu tinha que ter esse livro. Ok, não li correndo logo em seguida, o livro ficou olhando para mim da estante por mais de 2 anos, mas uma hora todos serão lidos. Foi a vez dele.

Com uma descrição como a acima, apesar de soar bem poética em alguns pontos, eu esperava a história sendo mais corrida e humorística. Longe do escrachamento de um Ted, mas naquela linha. Uma espécie de Ted para quem passou dos 40 e lê a sessão de política internacional do jornal ou é capaz de reconhecer referências ao Julgamento do Macaco (pesquisem por O Vento Será Sua Herança). [claro, gente mais nova também pode entender tudo isso (e muito mais), mas era só para vocês entenderem o ponto.]

O que acabamos tendo é uma história muito mais lenta, com passagens para você se imaginar ali ou refletir nos pequenos detalhes que só um sujeito que acabou de aprender a andar e tem 40 cm de altura (na verdade, não sei a altura do personagem) prestaria atenção. Também são feitas muitas críticas sociais, chamando atenção para dezenas de hipocrisias ou insanidades com as quais convivemos. E claro, muitos momentos bem "viajantes", com passagens quase oníricas, ou outras dignas de Monty Python.

Mas também não pensem que o livro chega a ser psicodélico. Na verdade, o personagem começa o livro sendo preso e assim, num chutão, diria que metade dele são de flashbacks variados, e a outra metade é tomada pelo julgamento do urso, num tribunal.

O urso em si, principalmente no começo da história, nem sequer parecia ser o personagem principal. Como se ele estivesse ali apenas como um intermediário entre o leitor e os humanos com os quais ele convive. Cheguei a imaginar se o livro não seria um jeito disfarçado do autor escrever algum tipo de biografia familiar dele, ainda mais que num dado momento ele próprio é um personagem, mas perdi a impressão com o andamento da história.

Um detalhe, por exemplo, que me decepcionou no começo, mas que depois eu me acostumei, é que o urso praticamente não fala. Ele pensa muito, mas pouco fala com as pessoas e, quando o faz, normalmente não vemos. Há toda uma seqüência em que o urso relembra uma longa conversa que ele teve com o advogado, em que a cumplicidade entre ambos já estava tamanha, que um era capaz de completar as frases do outro... Mas vimos esta conversa? Não. Só o urso relembrando-a.

Cheguei a imaginar até se urso não era mudo, uma espécie de Haroldo (ou Hobbes, o tigre de pelúcia do Calvin) e que, com pessoas por perto, ele nunca se mexeria ou falaria [mas depois eu lembrei que a primeira "cena" do livro é dele sendo preso, andando e com as mãos erguidas]. Ficou só na impressão também, mas não esperem muitas conversas dele com as pessoas - o humor do livro está nas situações absurdas e no reconhecimento das piadas quando elas surgem [e certamente, eu perdi várias].


Na mesma semana em que terminei o livro, por acaso vi no cinema o Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba e, apesar das histórias não terem nenhuma semelhança, durante o filme o livro me veio a mente. O esquema é parecido: as piadas vão sendo jogadas de qualquer jeito, algumas complexas e profundas, outras bem pastelão, e você vai pegando pelo caminho ou não, e não dá tempo de pensar muito no assunto porque a cena mudou. Aproveitando o Peter Sellers, se você for fã deste filme e também do Muito Além do Jardim, arrisco dizer que Winkie seja uma boa pedida.

Uma coisa também para vocês se prepararem é que o "vai dar merda" não é só extremamente demorado... Parece que o livro inteiro é feito para você ter essa sensação. São várias pequenas coisas ou acontecimentos, mas você *sempre* fica, o livro todo, com aquela sensação de crescendo [nerd musical!], de que a merda está se acumulando e uma hora a pilha vai virar.

E aí o livro termina e, se você começou a lê-lo com uma expectativa errada (meu caso), você fica com aquela sensação de que foi, de certa forma, enganado, de que a história foi por caminhos completamente diferentes do que a orelha me induziu [nem tanto, mas quando finalmente puxei o livro para ler mal lembrava mais da dela, lembrava só do terrorismo, da muçulmana lésbica e do advogado gago], mas, ao mesmo tempo, queria continuar ali, naquele mundo louco mais um pouco. Como se você juntasse as emoções conflitantes e, ao fechar o livro, as resumisse num lacônico: "Porra! Ué, acabou?" Ou, de forma melhor escrita, parafraseando [vulgo: roubando e alterando] uma moça ruiva [adoro ruivas!] que resenhou o livro no Skoob: "Eu não sei o que o autor quis dizer com o livro, mas eu gostei de ler".

Pois é. Foi isso. Mas não se preocupem, muita coisa lá dá sim para saber o que ele quis dizer, é só maneira de falar. É um livro estranho, esquisito, engraçado, e cheio de boas intenções. Uma boa leitura e dá um bom presente.

Agora, outras resenhas:
Começando pela ruiva: Nanie's World: "Ao mesmo tempo complexo e simples, cheio de significado e apenas mais um livro nonsense." [na foto dela no blog ela está loira, mas tudo bem... ruiva honorária, que seja!]
Paraíso em Papel: "Winkie é assim mesmo, doce, inocente, puro, intenso, tocante, irônico, malicioso e divertido. Como pode um livro ser tudo isso ao mesmo tempo?"
Cultivando a Leitura: "Recomendado a todos que gostam de uma história engraçada, diferente e comovente." [também gostei mais da capa nacional que da original]

E tá bom. Gostei dessas 3, são curtas e diretas. Achar outras resenhas é fácil. Procurem aí. [e, putz!, todas as resenhas que li foram feitas por garotas! será que nenhum blogueiro homem assume que gostou do livro? ou eu que sou muito menininha? rs!]

Numa nota solta, o livro virou até uma peça de teatro (mas, infelizmente, parece que não ficou boa) e, terminando, uma entrevista com o autor.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Pillow Castle's First Person Puzzler

Muito maneiro!
Nem sei se vai sair um jogo decente disso, mas a idéia por si só já achei do cacete!

Será um jogo baseado em brincar com as perspectivas forçadas.
Sabe aquelas fotos em que você está segurando o Sol com as mãos como se fosse uma bola de basquete ou dando um "High 5!" na Estátua da Liberdade? O jogo parte do princípio que se você pegar algo que parece pequeno porque está longe, ele vem para sua mão daquele tamanho mesmo. Ou se você pegar algo pequeno, segurar como se estivesse longe, e soltar, ele passa mesmo a ter o tamanho necessário para ter aquele tamanho que você estava vendo. E ainda lembra o Portal!

Estranho explicar... Assistam o vídeo. Tudo fará sentido. Não consegui nem bolar um nome para esta postagem. E agradecimentos à Popular Science pela dica!

Tech Demo for Pillow Castle's First Person Puzzler:


via: This Game Makes Surreal Puzzles With Forced Perspective

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O mega plural de ninja!

Novo filme chegando aí... E sei que esta discussão surgirá novamente.
Hora de abrir a dúvida para o mundo! E não me venham com "no Japão não tem plural", que aqui não falamos japonês. Em italiano o plural de lasanha termina com "e", então eu tenho que dizer, em português, "Uma lasanha, duas lasanhe"? NÃO! Não tenho!
E, em japonês, não é só o ninja que não tem plural. E você também não vai falar "Um monstro gigante. Dois monstro gigante." só porque eles vieram de lá.
Quero argumentos decentes!

A dúvida é: onde está o erro?

Um cachorro judoca. ► Dois cachorros judocas.
Um gato boxeador. ► Dois gatos boxeadores.
Uma suricata enfermeira. ► Duas suricatas enfermeiras.
Uma lagartixa samurai. ► Duas lagartixas samurais.
Uma tartaruga ninja. ► Duas tartarugas ninjas.

Minha opinião: não há nada de errado. Se há, agradeceria uma explicação.
E algum exemplo que não envolva tartarugas!

Eu até tive uma idéia babaca agora. Uma pilantragem, que nunca vi ninguém tentar, seria associar o hipotético não-plural de ninja com a mesma regra de algumas cores:

Um carro rosa. ► Dois carros rosa.
Por quê? Porque você não viu, mas você falou...
Um carro (cor de) rosa. [a flor] ► Dois carros (cor de) rosa.

De novo:

Um urso laranja. ► Dois ursos laranja.
Por quê? Porque são...
Dois ursos (que têm a mesma cor daquela fruta que se chama) laranja.

Mas eu quero ver alguém tentar justificar dizendo que, esse tempo todo, era:
Uma tartaruga ninja. ► Duas tartarugas (que praticam a mesma coisa daquele tipo de pessoa que se chama) ninja.
Esta idéia de fezes vai para o buraco com o seguinte exemplo:
Uma tartaruga nadadora. ► Duas tartarugas (que praticam a mesma coisa daquele tipo de pessoa que se chama) nadadora.

Não. Não rolou.

E enquanto você pensa nisso... Diz aí, você vai ao açougue e compra "dois quilo de carne" ou "dois quilos de carne"? E essa palavra nada mais é que uma substituição por abreviação da palavra quilograma, certo?
Aaahhh... então, mesmo cortando a palavra ao meio e usando só o "prefixo" (sem ele estar prefixando nada), ela vai para o plural normalmente, certo?

Interessante isso.

Então... Se eu fizer uma substituição parecida, com uma palavra qualquer que siga a mesma construção prefixo grego + unidade de medida... digamos... assim... megabit!
Um megabit, um mega. Dez megabits...

Isso dói a vista!

PS: eu estou disposto a assumir a minha burrice perante o mundo! Sem grilo. Não sou professor de português e nem inventei o idioma. Ele não é meu. Mas eu quero argumentos decentes... ah, se quero!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Bela Adormecida do Espaço

Título original: La bella durmiente del espacio
Autor: Ralph Barby
Pseudônimo do casal: Rafael Barberán e Àngels Gimeno
Editora: Cedibra  --  Ano livro / história: 1977 / 1973
Coleção: SOS Ficção Científica (Série Verde-11)
Tradução de: Alana Hélade Gandra
Páginas: 128  -- Sem ISBN e acabamento barato
Tamanho: de uma foto (+/- 10x15 cm)

É isso aí, criançada, nem tudo são flores. Todos os livrinhos que eu tinha lido do Coleção SOS até hoje eram histórias bem safadas, mas, dado o contexto, não diria que eram ruins. Exceto talvez o A Nuvem Cósmica, e se teve mais algum faz muito tempo e esqueci. [pior é que no link que acabei de colocar vi que o autor é o mesmo... iiihhh, Ralph Barby, será que o problema é você?] Os dois únicos que eu li desde que comecei o blog até que foram divertidos, já esse agora... O bom deles é que são tão curtos que você lê rápido - nem que seja pela curiosidade de como vai terminar. Então não traumatiza. Mas não foi bom não.

Não dava para esperar grande coisa com um nome desses mas, por isso mesmo, eu estava curioso. Por falar nisso, não há nenhuma mulher verde no livro (falar que as capas desses livros não costumam ter relação com o miolo é padrão, mas não custa avisar): os ETs malignos da história lembram os olhudos de sempre, mas sem narizes e com franjas coloridas. Mas tem sim uma mulher com pouca roupa e um astronauta. E sim, você reconheceu o astronauta! [ou se não reconheceu, você é uma decepção como nerd e desonra sua família e seus antepassados!] [se você for um "nerd de ficção-científica" pelo menos; em Fantasia a negação sou eu, por exemplo, que só li Tolkien, Lewis e, recentemente, Martin, e nunca nem joguei RPG ou um livro jogo]

O casal de escritores (casados na vida real) é conhecido por escrever também histórias mais leves e despreocupadas. E essa faz parte do bolo. Caso vocês não tenham lido o link lá no alto, alguns exemplos de ficção-científica deles são: "Compro múmias siderais", "Ah, que pequeninos", "Tem que pintar os invasores" e "Para a cama, terrestre!".

E o nome dessa história é justa. O enredo é o seguinte: um astronauta (Al Cirus) é salvo por alienígenas e torna-se um "convidado" do planeta deles. Lá eles pedem a ajuda dele para tirar de hibernação uma astronauta de uma nave perdida, que eles salvaram 100 anos antes. Haviam outros dois na mesma nave, mas quando os ets tentaram descongelá-los não deu muito certo. Então eles deixaram a mulher lá, esperando uma chance melhor de sucesso - que é agora o astronauta humano, que conhece todos os procedimentos. Ou seja, um cavaleiro que tirará a dama de seu sono eterno.

E a raça extraterrestre tem uma sociedade estilo insetos, cujos membros são divididos em castas e apenas a rainha (e suas substitutas, já nascidas, chamadas princesas) têm a capacidade de se reproduzirem. E como os ets sabem que a 'bela adormecida' é uma fêmea fértil, ela até é chamada de "princesa humana" por eles.

Mas os pacíficos alienígenas (do planeta Siderium, a "bilhões de milhas") estão meio impacientes com esse descongelamento. O que será que há por trás disto?

Até começou bem... Tem uma parte logo no início, quando os cabeçudos estão se apresentando ao humano:
_ Seja bem-vindo ao planeta Siderium.
_ Siderium? Nunca ouvi falar dele.
_ Há milhões de mundos com vida e dos quais jamais ouviu falar, soberbo terrestre.


HA! TOMA ESSA! O autor deu uma boa sacaneada nesse jeitão antigo de que os alienígenas não só usam termos terrestres que eles não teriam como conhecer, como dos humanos chegarem em qualquer lugar sabendo ou concluindo tudo com exatidão.

Mas pelo jeito não foi proposital, porque passando a boa impressão inicial, assim que ficamos sabendo do horrível plano dos vilões temos só os mocinhos tentando bolar um jeito para escapar, através da porrada. Ou melhor, o mocinho, porque a mocinha (chamada Ágora) é acéfala e chorosa. [como foi que ela se tornou astronauta?!]

Vejam bem, isso dos aliens serem malignos e quererem dominar o universo enganando nossos pobres mocinhos, que costumam ser um sujeito musculoso e altivo e uma mulher loira de beleza fenomenal, isso não me incomoda. Histórias antigas eram assim. Mas nessa abusaram um pouco do machismo e da burrice dos vilões. Além da mocinha chorosa (de "busto redondo e firme, cintura fina e quadris harmoniosamente modelados"), num dado momento até uma doutora alienígena, com um físico completamente diferente do humano, numa sociedade completamente diferente, age como se estivesse ficando interessada no robusto e másculo humano.

No correr da história até ficamos sabendo que, muito tempo atrás, a sociedade deles era fisicamente parecida com a nossa. Mas eles foram se melhorando com o passar do tempo, até virarem um povo que vive abaixo da terra numa sociedade altamente tecnológica, mas com uma sociedade estilo um formigueiro, desprovida de amor e compaixão. Ah, que triste! E essa é a desculpa dada na história para isso, o astronauta deduz que há ainda uma atração primordial no DNA deles pela virilidade humana! Não... não... não! Eu não me sinto atraído por nenhum bicho que deu origem aos humanos. Essa desculpa não cola.

Ah, e a burrice: num dado momento, achando que o astronauta estava dormindo, eles começam a conversar sobre o plano completo deles para o seu futuro de dominação galáctica e o uso que terá a prole do casal terrestre nisto. Sabem aquela cena, típica de desenho animado, quando o vilão começa a conversar com o sub-vilão, de forma completamente desnecessária, sobre o plano completo justo na hora que o mocinho ia entrar na sala: "Eles não sabem que na verdade planejamos dominar a Terra", "E imagina se soubessem que faremos isso usando a nave deles que não foi destruída como dissemos", "Fique calmo, eles nunca a acharão escondida no hangar nº 2, na zona azul, com a senha 12X34Y, que ficará sem proteção na rotação de turno em exatos 17 minutos." Pois então, foi nesse estilo. O plano completo numa conversa aleatória ao lado da única pessoa que não poderia ouvi-la, só porque acharam que ele estava dormindo.

O plano pelo menos era divertido: depois do casal ter 10.000 filhos, porque a mulher seria convertida numa rainha bem estilo formiga, com aquele ventre gigante, os extraterrestres colocariam seus cérebros nos corpos humanos e dominariam o universo. Sendo que parte da prole seria usada como gado, para fornecer a parte restante com carne - coisa que eles não têm no mundo dele. E uma pequena parte para gerar mais humanos.

De positivo na história, a preocupação ecológica dos alienígenas com a flora na superfície do planeta. E só. [e, claro, a parte do "soberbo terrestre", rs!]

E aí, terminamos a história com um pouco mais de machismo:
_ Al, você me salvou!
_ Não quero agradecimentos, Ágora, quero outra coisa...


Ok, tinha rolado um pouco de clima entre eles antes (mas bem pouco e muito rápido). Mesmo assim, nos dois parágrafos seguintes, com o astronauta de volta à sua nave original, o resto da tripulação ainda congelada, e a missão ainda interrompida, ao invés deles saírem de perto do lugar onde os alienígenas o encontraram inicialmente...

Ela dá a outra coisa.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Warrior Wolf Women of the Wasteland

Autor: Carlton Mellick III (de livros como Satan Burger, The Cannibals of Candyland, The Haunted Vagina, I Knocked Up Satan's Daughter, Adolf in Wonderland, Cuddly Holocaust,e outros, muitos com títulos ou capas bem mais provocadores*)
Editora: Eraserhead Press  --  Páginas: 300
Ano: 2009  --  Tamanho: padrão (meia folha A4)
ISBN: 978-1-933929-92-7

* Quanto às capas, desde que começaram a ser feitas (ou relançadas) com a arte do Ed Mironiuk, passaram de assustadoras para até "fofinhas". Eu gosto delas, mas ao passo que alguns livros perderam capas bem artísticas (exs.: War Slut, Fishy-fleshed ou até o The Haunted Vagina), outros eu até pensaria duas vezes antes de comprar se ainda fosse a capa original (exs.: The Menstruating Mall ou Satan Burger). Vejam algumas delas, antes e depois, aqui.

Devaneios estéticos à parte, vamos ao livro em questão.
O que temos é uma espécie de Mad Max com garotas lobisomens! Ou, nas palavras do autor: "Did I just write a fucking Furry book?".
E posso dizer, foi uma excelente surpresa de ano novo! [na verdade, eu terminei esse livro ontem, mas resolvi colocar a data como dia 1 para o blog começar o ano bem]

Eu tenho lido vários livros do gênero "bizarro" ultimamente. Descobri o estilo e estou experimentando os autores e suas maluquices. Mas por causa de algumas reviravoltas extremamente exageradas ou idéias boas com desenvolvimento ruim [principalmente contos] eu estava com receio de me decepcionar com esse livro. Aquela enrolação para finalmente lê-lo pois poderia não atender as expectativas e, no final, a capa e o nome serem as melhores partes, com o miolo não sendo tão bom quanto o conceito.

Estava enganado! Eu tinha medo de que as lobas seriam só coadjuvantes, mais um detalhe do que personagens, um mero algo a mais numa avalanche de escatologia, descrições sexuais e outras anormalidades. Coisas comuns nessas histórias. Felizmente ficou só no medo mesmo. O livro foi uma absurda e divertida aventura pós-apocalíptica, com romance, críticas sociais, crescimentos pessoais, redenção e muita ação. Tudo envolvendo mutantes, uma corporação do mal e mulheres-lobo usando metralhadoras e machados dirigindo motos! [yay!]

Ainda tenho vários livros no gênero para ler e alguns com grandes expectativas.
Esse livro renovou minha fé.

Do que se trata, então, esse Guerreiras Lobisomens das Terras Devastadas? [tecnicamente, "lobisomem" não tem feminino. Mas "Mullheres-Lobos Guerreiras..." ficaria pior - e wastelands é complicado traduzir, mas se terras devastadas foi bom o suficiente para o Stephen King, é bom para mim]

// Aviso pós-postagem escrita: me empolguei um pouco e digitei para cacete! Mas sejamos sinceros, e deve ter sido isso que rolou no meu subconsciente: a minoria que parar aqui e ler essa postagem comprará o livro na seqüência. Ou na verdade já leu. No 2º caso eu posso dar qualquer spoiler, e no 1º quanto mais eu falar, mais vocês se divertirão ou ficarão curiosos! Então... sentem que lá vem texto! //

Premissa: Houve um apocalipse econômico! Os governos caíram, os militares debandaram, os ricos ficaram pobres e os pobres ficaram violentos. E quando não podia piorar, católicos extremistas conseguiram por a mãos em armas atômicas e resolveram destruir todas as cidades com pecadores. No meio do caos, apenas o McDonald's sobreviveu à tudo. [pô, se ainda fosse o Bob's...] [se bem que o Bob's caiu no meu conceito quando pararam de vender hamburguer - você precisa pedir um cheeseburguer sem queijo!, e ser cobrado pelo valor total]

Com o mundo em desordem e sem ninguém para impedi-los, eles reúnem os sobreviventes que acharam e fundam sua pacífica cidade chamada McDonaldlândia.

Religião: Uns 30 anos depois, achando ser melhor para os negócios e para a sociedade criada, eles proíbem todas as religiões a fundam a própria, baseada numa mistura de cristianismo e islamismo (como o hábito de rezar 5 vezes ao dia e algumas mulheres terem que usar burca - mas neste caso, há uma razão não religiosa que falarei em breve), e com seus personagens ocupando o lugar das deidades de ambos: o Ronald McDonald é o novo messias, o Prefeito McCheese o novo deus, Hamburglar o novo diabo, e os Fry Guys são os novos anjos.

Apesar de eu detestar o McDonald's e mais ainda esses personagens ridículos [que graças a deus não vingaram no Brasil], saber quem eles são dá uma pequena ajuda.

Governo: todos na cidade trabalham de alguma forma para a Abençoada Corporação McDonald's, que é ao mesmo tempo a igreja, o governo e a única empresa.

Os policiais são chamados de Fry Guys (caras da fritura?) - e até este momento achava que eles usavam uniformes felpudos por causa da garota pássaro. Faria sentido também ser o termo para os anjos, já que é a personagem com asas. Nunca tinha visto esses "pingos com pernas" do McDonald's antes. Mais um personagem detestável para a lista.

A cidade-estado, aproximadamente do tamanho de Salvador e toda pintada de vermelho e amarelo, é cercada com muros 90 metros para proteger os cidadãos da desolação do mundo externo que, além de ruínas, inclui imensos animais selvagens e perigosas gangs de mulheres lobisomem.

Lá também é proibido o consumo e fabricação de qualquer tipo de alimento que não sejam as McRefeições. E você não pode pular nenhuma das refeições obrigatórias.

E aí, finalmente, a última sessão desta explicação antropológica desta sociedade futura:

Saúde: Raramente alguém vive mais que 50 anos e a maioria é obesa. E anos e anos de fast-food, vacas geneticamente alteradas e novas químicas começaram a causar mutações na população. Homens começaram a ter membros adicionais (outro braço, um novo par de pernas, etc) e mulheres, ao entrarem na vida sexual, começam a virar lobos. Por sorte, não basta ter a primeira menstruação, elas só sofrem transformações ao terem orgasmos. E só neste momento. Se a mulher transar 1 só vez e nunca mais, ela vai ficar parada naquele nível de transformação. [eu posso ter feito vocês pensarem uma coisa errada falando "lobisomem" toda hora. A transformação é fixa e gradual, não tem volta e nem tem relação com a lua cheia. mas vou continuar usando esta palavra mesmo assim]

E como ninguém quer que mulheres virem feras assassinas andando pela cidade, sexo fora do casamento e masturbação também são crimes capitais. E, mesmo no casamento, você precisa pedir permissão para o sexo (apenas para fins de reprodução), para limitar a quantidade de vezes que cada mulher o fará. E é essa a razão para as mulheres casadas andarem de burca: esconder os sinais da transformação. Nesta sociedade que precisa manter a aparência de perfeita, elas não podem andar por aí mostrando bigodinhos felinos, orelhinhas pontudas e pelagem onde não deveria. A Cheetara, por exemplo, seria presa se andasse por lá só de maiô.

Isso, claro, para as mulheres, porque são necessárias para fins de reprodução. Homens com mutações são sumariamente expulsos da cidade se descobertos, para se virarem sozinhos do lado de fora - o que é o mesmo que uma pena de morte. Esta é a mesma pena para as mulheres que comentem o crime de transar antes ou mais do que o devido.

Agora... vocês lembram da parte mais acima sobre "perigosas gangs de mulheres lobisomem" no mundo externo? Agora adivinhem de onde elas vieram e como foi que mudaram de "mulheres com penugem e bigodinhos" para "mulheres-lobo"!


E aí... começa nossa história. Tudo isso acima você fica sabendo aos poucos ao longo dos primeiros capítulos (se bobear, tudo no primeiro apenas), só para ambientar.

Estamos 120 anos depois da fundação da cidade [cerca de 3 gerações apenas? eu teria aumentado isso, fica muito curto para todas as mudanças e, principalmente, para o surgimento de todas as tradições do lado de fora]. Nosso herói (Daniel Togg) é um sujeito de quatro braços (2 deles devidamente escondidos), que, por ensinamento do avô (expulso da cidade quando ele era novo), não só se mantém em forma, como esconde comida para fazer bebidas alcoólicas em segredo.

Seu irmão é um policial e sua antiga namoradinha de colégio foi expulsa da cidade 10 anos antes por ter sido violentada (sem direito de defesa nem nada, sexo sem permissão é sem permissão e pronto!).

E então descobrem que ele tem braços a mais e é expulso também.

Atenção, são leves, mas os spoilers começam aqui.

Mas ao invés de apenas ser expulso, como todos acreditavam que acontecia, ele é levado em comboio para uma base aliada, onde todos moradores são mutantes também e lutam contra as gangs de mulheres-lobisomem. Assim eles ainda servem para alguma coisa e são menos lobas atacando a cidade. E tem outra razão também ainda, que não vou falar, nem mesmo sendo a parte com spoilers, pô, alguma coisa tem que sobrar para vocês descobrirem.

A propósito... mulheres-lobo ou mulheres-lobisomem é muito longo de digitar. No livro as chamam de Bitches. Será isso então, a partir de agora, digitarei só "cadelas". [sem ofensa alguma, elas são as personagens principais e a melhor coisa do livro]

O irmão dele é um dos responsáveis pelo comboio que levará (e outros como ele) para a tal base. Mas eles são atacados por lobos gigantescos. Os que conseguem escapar de virar almoço são encontrados por uma gang de cadelas e tornam-se propriedade delas, e daí podem ser usados ou alugados para execução de serviços, usados como objetos sexuais, ou mesmo (novamente) servir de alimento.

▪ Temos um gordo, amigo do protagonista, que torna-se posse de uma cadela secundária.
▪ O mocinho passa a ser propriedade de uma sádica e mimada cadela ruiva (Pippi).
▪ O irmão policial, que foi encontrado nos destroços por acaso por uma criança da gang, passa a ser propriedade desta. Que está mais interessada em brincar do que alugar, transar ou comer o sujeito. Mas ele não gosta de crianças. E também é o único ali que não estava sendo expulso da cidade, logo, é o que mais pensa num jeito de retornar.
▪ E um cientista da cidade, também mutante, passa a ser propriedade da garota na capa do livro, a Slayer, que é violenta mas é uma das mais racionais. [lendo o livro, eu tinha a sensação de que ela me lembrava alguém... aí deu o estalo: eu a estava imaginando com a voz da Tigresa, do Kung Fu Panda - e é mesmo uma boa comparação]

Agora os spoilers são mais pesados, se preferir, pule até a linha pontilhada.

Ficamos conhecendo também mais alguns das cadelas, todas com boas descrições, diferentes níveis de "lobitude" e personalidades variadas, e aí... outro grande spoiler: o cara reencontra a antiga namorada, Nova, que se integrou a gang depois da expulsão.

Que por sua vez, tenta negociar com a Pippi a posse dele, que apenas a deixa a ruiva ainda mais sádica e possessiva. E, para piorar, a ruiva quer ter um bebê.

E aí a história, que já estava bem legal, engrena de vez, com ânimos extremamente acirrados entre a Nova e a Pippi (que é adoravelmente detestável), o cientista achando tudo interessante e fazendo amizade com a sua dona, e o irmão policial se acostumando em ser uma babá (mas sempre querendo voltar para a família), o exército de mutantes (a base para onde eles iam no começo) atacando as cadelas (e bolando outros planos paralelos), e nossos heróis precisando avaliar sua lealdade e se as motivações e atitudes daqueles que deveriam defender a sociedade estão corretas.

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •  Daqui para baixo os spoilers voltam a ser leves.

Óbvio que você sabe que os mocinhos e as lobas ficam amigos. Mas mesmo assim, o caminho é torto, trocas de papéis, brigas de casal, machados, pulgas, o Chewbacca [mentira, mas uma das cadelas parece muito com ele] e um bebê a caminho. E cheio de morte, personagens interessantes que tombam mesmo. Eu esperava a saída de qualquer um a qualquer momento, não teve dessa de "óbvio que esse/essa fica vivo até final", foi quase georgemartiano!

E o final nem é tão exageradamente clichê - as cadelas não vão morar na cidade e nem o governo é derrubado nem nada. E também não chega a ser um "a luta continua!". Foi um bom final, correto, e que se encaixou perfeitamente.

Até o destino final do "triângulo" "amoroso" principal ficou bem interessante. Ao ler o livro eu sempre tinha aquela sensação de que "ok, vai acontecer X porque sempre acontece X!", mas o X não parecia correto, não estava encaixando bem na minha cabeça pela história sendo contada e eu não via uma alternativa muito boa. Mas, aos poucos, o cara nos empurra numa direção Y que foi uma solução interessante. Pensei em escrever "e adulta", mas... é um livro sobre gangs de mulheres-lobo em motocicletas, McDonald's e mutantes, incluindo um general de 6 braços que usa uma motosserra em cada uma...

Mas não se engane, também não é literatura para menores de idade.

Nem tem tanta pornografia, mas há algumas passagens um tanto "gráficas" demais. Não adianta, autores de bizarro sempre tem uma queda por fazer algo assim. Mas as passagens são rápidas e sem descrever em excesso. Há uma que é bem horrível mas, por mais estranho que pareça, serviu à história e ao universo criado. De uma forma bem doida e grotesca de imaginar, mas ok, é uma cena rápida. Não vou falar do que estou dizendo não, você reconhecerá a cena se ler, é logo no começo.

E completando, só para saberem, o livro é o 1º de uma quadrilogia. Por enquanto são só dois, mas o 3º já está para sair e o quarto já está sendo pensado. [é vago, o autor ainda quer ver como ficam as vendas do 3º, mas a capa já existe até]. São eles:


Warrior Wolf Women of the Wasteland
Barbarian Beast Bitches of the Badlands, que inclui:
   ▪ Barbarian Beast Babes of the Badlands
   ▪ Horrendous Horror of the Hateful Hamburglar
   ▪ Ferocious Female Furries in the Forbidden Zone
Pippi of the Apocalypse; e
Dog Destroyers of the Deadlands (possível)

E agora, algumas resenhas:
OBS: eu até tentei achar algumas ruins mas, fora da Amazon, não vi. E, mesmo na Amazon, dos 5 que deram nota abaixo de 4, 3 elogiam o livro na verdade.

The Book Hunter: (...)  it sounded like the worst book in the world. (...) After finishing the sample, I knew I wanted to read the whole book! It was that good.
CSI: Librarian: (...) it was also really, really enjoyable. (...) In conclusion, incredibly good.
Dangerous Dan's Book Blog: I can't recommend Warrior Wolf Women of the Wasteland enough. It's not just a great Bizarro book, it's a great book. Period.