domingo, 19 de janeiro de 2014

Winkie

Título original: também Winkie [que poderia ser traduzido como Piscadinha ou Piscadela]
Autor: Clifford Chase
Editora: Bertrand Brasil --  Ano livro / história: 2011 / 2006
Tradução de: Bruna Hartstein  --  Páginas: 278
Tamanho: padrão, 14x21cm (+/- meia folha A4)
Acabamento: excelente, com direito a detalhes brilhantes e relevo na capa.  --  ISBN: 978-85-286-1474-9

Pois é. As vezes eu também leio livros que não são de ficção-cientifica! Com tanto livro interessante no mundo, e com tão pouco tempo até o dia da minha morte, é preciso ter foco. Mas... Quando eu vi a capa do livro, numa andança aleatória pela livraria, não deu para não pegar e olhar melhor. Depois vi a foto da contra-capa (muito boa, mas estou sem nenhum scanner por perto e não a encontrei na internet) [achei a americana, mas é diferente] e, finalmente, não deu para resistir à descrição oficial na orelha do livro:

   " Neste engraçadíssimo e surpreendente romance, um gentil ursinho de pelúcia ganha vida e vai parar no lado errado da guerra americana contra o terrorismo.

Após sofrer durante décadas a negligência das crianças que costumavam amá-lo, Winkie percebe que, para tomar as rédeas de seu destino, basta decidir fazê-lo. Então, atira-se da prateleira, pula a janela e segue para a floresta. Entretanto, tão logo começa a descobrir o prazer e as maravilhas da mobilidade, da autodeterminação e até mesmo do amor, sua sorte termina.

Pouco depois de encontrar a cabana de um professor solitário, o ursinho se vê cercado por um esquadrão da SWAT, que imediatamente conclui ser ele a mente maquiavélica por trás de dúzias de ataques terroristas rastreados até a floresta. Aterrorizado e confuso, Winkie é levado a julgamento, no qual a promotoria busca selar o destino do pequenino urso chamando para depor testemunhas dos julgamentos de Galileu, Sócrates, John Scopes, Oscar Wilde e das bruxas de Salém.

Com uma gama de personagens que varia de uma servente muçulmana lésbica a um advogado gago e uma filhote deurso que vive citando lacan, winkie apresenta uma crítica mordaz da paranoia em que vivemos atualmente. Num segundo plano, o romance de Chase é uma bela reflexão sobre as lembranças e o amor que nos remetem àquela época de nossa vida anterior à consciência, quando um brinquedo de pelúcia ou uma simples história podia nos garantir indiscútiveis consolo e sabedoria. "


E de novo, vocês viram a cara de maluco do urso? Eu tinha que ter esse livro. Ok, não li correndo logo em seguida, o livro ficou olhando para mim da estante por mais de 2 anos, mas uma hora todos serão lidos. Foi a vez dele.

Com uma descrição como a acima, apesar de soar bem poética em alguns pontos, eu esperava a história sendo mais corrida e humorística. Longe do escrachamento de um Ted, mas naquela linha. Uma espécie de Ted para quem passou dos 40 e lê a sessão de política internacional do jornal ou é capaz de reconhecer referências ao Julgamento do Macaco (pesquisem por O Vento Será Sua Herança). [claro, gente mais nova também pode entender tudo isso (e muito mais), mas era só para vocês entenderem o ponto.]

O que acabamos tendo é uma história muito mais lenta, com passagens para você se imaginar ali ou refletir nos pequenos detalhes que só um sujeito que acabou de aprender a andar e tem 40 cm de altura (na verdade, não sei a altura do personagem) prestaria atenção. Também são feitas muitas críticas sociais, chamando atenção para dezenas de hipocrisias ou insanidades com as quais convivemos. E claro, muitos momentos bem "viajantes", com passagens quase oníricas, ou outras dignas de Monty Python.

Mas também não pensem que o livro chega a ser psicodélico. Na verdade, o personagem começa o livro sendo preso e assim, num chutão, diria que metade dele são de flashbacks variados, e a outra metade é tomada pelo julgamento do urso, num tribunal.

O urso em si, principalmente no começo da história, nem sequer parecia ser o personagem principal. Como se ele estivesse ali apenas como um intermediário entre o leitor e os humanos com os quais ele convive. Cheguei a imaginar se o livro não seria um jeito disfarçado do autor escrever algum tipo de biografia familiar dele, ainda mais que num dado momento ele próprio é um personagem, mas perdi a impressão com o andamento da história.

Um detalhe, por exemplo, que me decepcionou no começo, mas que depois eu me acostumei, é que o urso praticamente não fala. Ele pensa muito, mas pouco fala com as pessoas e, quando o faz, normalmente não vemos. Há toda uma seqüência em que o urso relembra uma longa conversa que ele teve com o advogado, em que a cumplicidade entre ambos já estava tamanha, que um era capaz de completar as frases do outro... Mas vimos esta conversa? Não. Só o urso relembrando-a.

Cheguei a imaginar até se urso não era mudo, uma espécie de Haroldo (ou Hobbes, o tigre de pelúcia do Calvin) e que, com pessoas por perto, ele nunca se mexeria ou falaria [mas depois eu lembrei que a primeira "cena" do livro é dele sendo preso, andando e com as mãos erguidas]. Ficou só na impressão também, mas não esperem muitas conversas dele com as pessoas - o humor do livro está nas situações absurdas e no reconhecimento das piadas quando elas surgem [e certamente, eu perdi várias].


Na mesma semana em que terminei o livro, por acaso vi no cinema o Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba e, apesar das histórias não terem nenhuma semelhança, durante o filme o livro me veio a mente. O esquema é parecido: as piadas vão sendo jogadas de qualquer jeito, algumas complexas e profundas, outras bem pastelão, e você vai pegando pelo caminho ou não, e não dá tempo de pensar muito no assunto porque a cena mudou. Aproveitando o Peter Sellers, se você for fã deste filme e também do Muito Além do Jardim, arrisco dizer que Winkie seja uma boa pedida.

Uma coisa também para vocês se prepararem é que o "vai dar merda" não é só extremamente demorado... Parece que o livro inteiro é feito para você ter essa sensação. São várias pequenas coisas ou acontecimentos, mas você *sempre* fica, o livro todo, com aquela sensação de crescendo [nerd musical!], de que a merda está se acumulando e uma hora a pilha vai virar.

E aí o livro termina e, se você começou a lê-lo com uma expectativa errada (meu caso), você fica com aquela sensação de que foi, de certa forma, enganado, de que a história foi por caminhos completamente diferentes do que a orelha me induziu [nem tanto, mas quando finalmente puxei o livro para ler mal lembrava mais da dela, lembrava só do terrorismo, da muçulmana lésbica e do advogado gago], mas, ao mesmo tempo, queria continuar ali, naquele mundo louco mais um pouco. Como se você juntasse as emoções conflitantes e, ao fechar o livro, as resumisse num lacônico: "Porra! Ué, acabou?" Ou, de forma melhor escrita, parafraseando [vulgo: roubando e alterando] uma moça ruiva [adoro ruivas!] que resenhou o livro no Skoob: "Eu não sei o que o autor quis dizer com o livro, mas eu gostei de ler".

Pois é. Foi isso. Mas não se preocupem, muita coisa lá dá sim para saber o que ele quis dizer, é só maneira de falar. É um livro estranho, esquisito, engraçado, e cheio de boas intenções. Uma boa leitura e dá um bom presente.

Agora, outras resenhas:
Começando pela ruiva: Nanie's World: "Ao mesmo tempo complexo e simples, cheio de significado e apenas mais um livro nonsense." [na foto dela no blog ela está loira, mas tudo bem... ruiva honorária, que seja!]
Paraíso em Papel: "Winkie é assim mesmo, doce, inocente, puro, intenso, tocante, irônico, malicioso e divertido. Como pode um livro ser tudo isso ao mesmo tempo?"
Cultivando a Leitura: "Recomendado a todos que gostam de uma história engraçada, diferente e comovente." [também gostei mais da capa nacional que da original]

E tá bom. Gostei dessas 3, são curtas e diretas. Achar outras resenhas é fácil. Procurem aí. [e, putz!, todas as resenhas que li foram feitas por garotas! será que nenhum blogueiro homem assume que gostou do livro? ou eu que sou muito menininha? rs!]

Numa nota solta, o livro virou até uma peça de teatro (mas, infelizmente, parece que não ficou boa) e, terminando, uma entrevista com o autor.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Pillow Castle's First Person Puzzler

Muito maneiro!
Nem sei se vai sair um jogo decente disso, mas a idéia por si só já achei do cacete!

Será um jogo baseado em brincar com as perspectivas forçadas.
Sabe aquelas fotos em que você está segurando o Sol com as mãos como se fosse uma bola de basquete ou dando um "High 5!" na Estátua da Liberdade? O jogo parte do princípio que se você pegar algo que parece pequeno porque está longe, ele vem para sua mão daquele tamanho mesmo. Ou se você pegar algo pequeno, segurar como se estivesse longe, e soltar, ele passa mesmo a ter o tamanho necessário para ter aquele tamanho que você estava vendo. E ainda lembra o Portal!

Estranho explicar... Assistam o vídeo. Tudo fará sentido. Não consegui nem bolar um nome para esta postagem. E agradecimentos à Popular Science pela dica!

Tech Demo for Pillow Castle's First Person Puzzler:


via: This Game Makes Surreal Puzzles With Forced Perspective

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O mega plural de ninja!

Novo filme chegando aí... E sei que esta discussão surgirá novamente.
Hora de abrir a dúvida para o mundo! E não me venham com "no Japão não tem plural", que aqui não falamos japonês. Em italiano o plural de lasanha termina com "e", então eu tenho que dizer, em português, "Uma lasanha, duas lasanhe"? NÃO! Não tenho!
E, em japonês, não é só o ninja que não tem plural. E você também não vai falar "Um monstro gigante. Dois monstro gigante." só porque eles vieram de lá.
Quero argumentos decentes!

A dúvida é: onde está o erro?

Um cachorro judoca. ► Dois cachorros judocas.
Um gato boxeador. ► Dois gatos boxeadores.
Uma suricata enfermeira. ► Duas suricatas enfermeiras.
Uma lagartixa samurai. ► Duas lagartixas samurais.
Uma tartaruga ninja. ► Duas tartarugas ninjas.

Minha opinião: não há nada de errado. Se há, agradeceria uma explicação.
E algum exemplo que não envolva tartarugas!

Eu até tive uma idéia babaca agora. Uma pilantragem, que nunca vi ninguém tentar, seria associar o hipotético não-plural de ninja com a mesma regra de algumas cores:

Um carro rosa. ► Dois carros rosa.
Por quê? Porque você não viu, mas você falou...
Um carro (cor de) rosa. [a flor] ► Dois carros (cor de) rosa.

De novo:

Um urso laranja. ► Dois ursos laranja.
Por quê? Porque são...
Dois ursos (que têm a mesma cor daquela fruta que se chama) laranja.

Mas eu quero ver alguém tentar justificar dizendo que, esse tempo todo, era:
Uma tartaruga ninja. ► Duas tartarugas (que praticam a mesma coisa daquele tipo de pessoa que se chama) ninja.
Esta idéia de fezes vai para o buraco com o seguinte exemplo:
Uma tartaruga nadadora. ► Duas tartarugas (que praticam a mesma coisa daquele tipo de pessoa que se chama) nadadora.

Não. Não rolou.

E enquanto você pensa nisso... Diz aí, você vai ao açougue e compra "dois quilo de carne" ou "dois quilos de carne"? E essa palavra nada mais é que uma substituição por abreviação da palavra quilograma, certo?
Aaahhh... então, mesmo cortando a palavra ao meio e usando só o "prefixo" (sem ele estar prefixando nada), ela vai para o plural normalmente, certo?

Interessante isso.

Então... Se eu fizer uma substituição parecida, com uma palavra qualquer que siga a mesma construção prefixo grego + unidade de medida... digamos... assim... megabit!
Um megabit, um mega. Dez megabits...

Isso dói a vista!

PS: eu estou disposto a assumir a minha burrice perante o mundo! Sem grilo. Não sou professor de português e nem inventei o idioma. Ele não é meu. Mas eu quero argumentos decentes... ah, se quero!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Bela Adormecida do Espaço

Título original: La bella durmiente del espacio
Autor: Ralph Barby
Pseudônimo do casal: Rafael Barberán e Àngels Gimeno
Editora: Cedibra  --  Ano livro / história: 1977 / 1973
Coleção: SOS Ficção Científica (Série Verde-11)
Tradução de: Alana Hélade Gandra
Páginas: 128  -- Sem ISBN e acabamento barato
Tamanho: de uma foto (+/- 10x15 cm)

É isso aí, criançada, nem tudo são flores. Todos os livrinhos que eu tinha lido do Coleção SOS até hoje eram histórias bem safadas, mas, dado o contexto, não diria que eram ruins. Exceto talvez o A Nuvem Cósmica, e se teve mais algum faz muito tempo e esqueci. [pior é que no link que acabei de colocar vi que o autor é o mesmo... iiihhh, Ralph Barby, será que o problema é você?] Os dois únicos que eu li desde que comecei o blog até que foram divertidos, já esse agora... O bom deles é que são tão curtos que você lê rápido - nem que seja pela curiosidade de como vai terminar. Então não traumatiza. Mas não foi bom não.

Não dava para esperar grande coisa com um nome desses mas, por isso mesmo, eu estava curioso. Por falar nisso, não há nenhuma mulher verde no livro (falar que as capas desses livros não costumam ter relação com o miolo é padrão, mas não custa avisar): os ETs malignos da história lembram os olhudos de sempre, mas sem narizes e com franjas coloridas. Mas tem sim uma mulher com pouca roupa e um astronauta. E sim, você reconheceu o astronauta! [ou se não reconheceu, você é uma decepção como nerd e desonra sua família e seus antepassados!] [se você for um "nerd de ficção-científica" pelo menos; em Fantasia a negação sou eu, por exemplo, que só li Tolkien, Lewis e, recentemente, Martin, e nunca nem joguei RPG ou um livro jogo]

O casal de escritores (casados na vida real) é conhecido por escrever também histórias mais leves e despreocupadas. E essa faz parte do bolo. Caso vocês não tenham lido o link lá no alto, alguns exemplos de ficção-científica deles são: "Compro múmias siderais", "Ah, que pequeninos", "Tem que pintar os invasores" e "Para a cama, terrestre!".

E o nome dessa história é justa. O enredo é o seguinte: um astronauta (Al Cirus) é salvo por alienígenas e torna-se um "convidado" do planeta deles. Lá eles pedem a ajuda dele para tirar de hibernação uma astronauta de uma nave perdida, que eles salvaram 100 anos antes. Haviam outros dois na mesma nave, mas quando os ets tentaram descongelá-los não deu muito certo. Então eles deixaram a mulher lá, esperando uma chance melhor de sucesso - que é agora o astronauta humano, que conhece todos os procedimentos. Ou seja, um cavaleiro que tirará a dama de seu sono eterno.

E a raça extraterrestre tem uma sociedade estilo insetos, cujos membros são divididos em castas e apenas a rainha (e suas substitutas, já nascidas, chamadas princesas) têm a capacidade de se reproduzirem. E como os ets sabem que a 'bela adormecida' é uma fêmea fértil, ela até é chamada de "princesa humana" por eles.

Mas os pacíficos alienígenas (do planeta Siderium, a "bilhões de milhas") estão meio impacientes com esse descongelamento. O que será que há por trás disto?

Até começou bem... Tem uma parte logo no início, quando os cabeçudos estão se apresentando ao humano:
_ Seja bem-vindo ao planeta Siderium.
_ Siderium? Nunca ouvi falar dele.
_ Há milhões de mundos com vida e dos quais jamais ouviu falar, soberbo terrestre.


HA! TOMA ESSA! O autor deu uma boa sacaneada nesse jeitão antigo de que os alienígenas não só usam termos terrestres que eles não teriam como conhecer, como dos humanos chegarem em qualquer lugar sabendo ou concluindo tudo com exatidão.

Mas pelo jeito não foi proposital, porque passando a boa impressão inicial, assim que ficamos sabendo do horrível plano dos vilões temos só os mocinhos tentando bolar um jeito para escapar, através da porrada. Ou melhor, o mocinho, porque a mocinha (chamada Ágora) é acéfala e chorosa. [como foi que ela se tornou astronauta?!]

Vejam bem, isso dos aliens serem malignos e quererem dominar o universo enganando nossos pobres mocinhos, que costumam ser um sujeito musculoso e altivo e uma mulher loira de beleza fenomenal, isso não me incomoda. Histórias antigas eram assim. Mas nessa abusaram um pouco do machismo e da burrice dos vilões. Além da mocinha chorosa (de "busto redondo e firme, cintura fina e quadris harmoniosamente modelados"), num dado momento até uma doutora alienígena, com um físico completamente diferente do humano, numa sociedade completamente diferente, age como se estivesse ficando interessada no robusto e másculo humano.

No correr da história até ficamos sabendo que, muito tempo atrás, a sociedade deles era fisicamente parecida com a nossa. Mas eles foram se melhorando com o passar do tempo, até virarem um povo que vive abaixo da terra numa sociedade altamente tecnológica, mas com uma sociedade estilo um formigueiro, desprovida de amor e compaixão. Ah, que triste! E essa é a desculpa dada na história para isso, o astronauta deduz que há ainda uma atração primordial no DNA deles pela virilidade humana! Não... não... não! Eu não me sinto atraído por nenhum bicho que deu origem aos humanos. Essa desculpa não cola.

Ah, e a burrice: num dado momento, achando que o astronauta estava dormindo, eles começam a conversar sobre o plano completo deles para o seu futuro de dominação galáctica e o uso que terá a prole do casal terrestre nisto. Sabem aquela cena, típica de desenho animado, quando o vilão começa a conversar com o sub-vilão, de forma completamente desnecessária, sobre o plano completo justo na hora que o mocinho ia entrar na sala: "Eles não sabem que na verdade planejamos dominar a Terra", "E imagina se soubessem que faremos isso usando a nave deles que não foi destruída como dissemos", "Fique calmo, eles nunca a acharão escondida no hangar nº 2, na zona azul, com a senha 12X34Y, que ficará sem proteção na rotação de turno em exatos 17 minutos." Pois então, foi nesse estilo. O plano completo numa conversa aleatória ao lado da única pessoa que não poderia ouvi-la, só porque acharam que ele estava dormindo.

O plano pelo menos era divertido: depois do casal ter 10.000 filhos, porque a mulher seria convertida numa rainha bem estilo formiga, com aquele ventre gigante, os extraterrestres colocariam seus cérebros nos corpos humanos e dominariam o universo. Sendo que parte da prole seria usada como gado, para fornecer a parte restante com carne - coisa que eles não têm no mundo dele. E uma pequena parte para gerar mais humanos.

De positivo na história, a preocupação ecológica dos alienígenas com a flora na superfície do planeta. E só. [e, claro, a parte do "soberbo terrestre", rs!]

E aí, terminamos a história com um pouco mais de machismo:
_ Al, você me salvou!
_ Não quero agradecimentos, Ágora, quero outra coisa...


Ok, tinha rolado um pouco de clima entre eles antes (mas bem pouco e muito rápido). Mesmo assim, nos dois parágrafos seguintes, com o astronauta de volta à sua nave original, o resto da tripulação ainda congelada, e a missão ainda interrompida, ao invés deles saírem de perto do lugar onde os alienígenas o encontraram inicialmente...

Ela dá a outra coisa.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Warrior Wolf Women of the Wasteland

Autor: Carlton Mellick III (de livros como Satan Burger, The Cannibals of Candyland, The Haunted Vagina, I Knocked Up Satan's Daughter, Adolf in Wonderland, Cuddly Holocaust,e outros, muitos com títulos ou capas bem mais provocadores*)
Editora: Eraserhead Press  --  Páginas: 300
Ano: 2009  --  Tamanho: padrão (meia folha A4)
ISBN: 978-1-933929-92-7

* Quanto às capas, desde que começaram a ser feitas (ou relançadas) com a arte do Ed Mironiuk, passaram de assustadoras para até "fofinhas". Eu gosto delas, mas ao passo que alguns livros perderam capas bem artísticas (exs.: War Slut, Fishy-fleshed ou até o The Haunted Vagina), outros eu até pensaria duas vezes antes de comprar se ainda fosse a capa original (exs.: The Menstruating Mall ou Satan Burger). Vejam algumas delas, antes e depois, aqui.

Devaneios estéticos à parte, vamos ao livro em questão.
O que temos é uma espécie de Mad Max com garotas lobisomens! Ou, nas palavras do autor: "Did I just write a fucking Furry book?".
E posso dizer, foi uma excelente surpresa de ano novo! [na verdade, eu terminei esse livro ontem, mas resolvi colocar a data como dia 1 para o blog começar o ano bem]

Eu tenho lido vários livros do gênero "bizarro" ultimamente. Descobri o estilo e estou experimentando os autores e suas maluquices. Mas por causa de algumas reviravoltas extremamente exageradas ou idéias boas com desenvolvimento ruim [principalmente contos] eu estava com receio de me decepcionar com esse livro. Aquela enrolação para finalmente lê-lo pois poderia não atender as expectativas e, no final, a capa e o nome serem as melhores partes, com o miolo não sendo tão bom quanto o conceito.

Estava enganado! Eu tinha medo de que as lobas seriam só coadjuvantes, mais um detalhe do que personagens, um mero algo a mais numa avalanche de escatologia, descrições sexuais e outras anormalidades. Coisas comuns nessas histórias. Felizmente ficou só no medo mesmo. O livro foi uma absurda e divertida aventura pós-apocalíptica, com romance, críticas sociais, crescimentos pessoais, redenção e muita ação. Tudo envolvendo mutantes, uma corporação do mal e mulheres-lobo usando metralhadoras e machados dirigindo motos! [yay!]

Ainda tenho vários livros no gênero para ler e alguns com grandes expectativas.
Esse livro renovou minha fé.

Do que se trata, então, esse Guerreiras Lobisomens das Terras Devastadas? [tecnicamente, "lobisomem" não tem feminino. Mas "Mullheres-Lobos Guerreiras..." ficaria pior - e wastelands é complicado traduzir, mas se terras devastadas foi bom o suficiente para o Stephen King, é bom para mim]

// Aviso pós-postagem escrita: me empolguei um pouco e digitei para cacete! Mas sejamos sinceros, e deve ter sido isso que rolou no meu subconsciente: a minoria que parar aqui e ler essa postagem comprará o livro na seqüência. Ou na verdade já leu. No 2º caso eu posso dar qualquer spoiler, e no 1º quanto mais eu falar, mais vocês se divertirão ou ficarão curiosos! Então... sentem que lá vem texto! //

Premissa: Houve um apocalipse econômico! Os governos caíram, os militares debandaram, os ricos ficaram pobres e os pobres ficaram violentos. E quando não podia piorar, católicos extremistas conseguiram por a mãos em armas atômicas e resolveram destruir todas as cidades com pecadores. No meio do caos, apenas o McDonald's sobreviveu à tudo. [pô, se ainda fosse o Bob's...] [se bem que o Bob's caiu no meu conceito quando pararam de vender hamburguer - você precisa pedir um cheeseburguer sem queijo!, e ser cobrado pelo valor total]

Com o mundo em desordem e sem ninguém para impedi-los, eles reúnem os sobreviventes que acharam e fundam sua pacífica cidade chamada McDonaldlândia.

Religião: Uns 30 anos depois, achando ser melhor para os negócios e para a sociedade criada, eles proíbem todas as religiões a fundam a própria, baseada numa mistura de cristianismo e islamismo (como o hábito de rezar 5 vezes ao dia e algumas mulheres terem que usar burca - mas neste caso, há uma razão não religiosa que falarei em breve), e com seus personagens ocupando o lugar das deidades de ambos: o Ronald McDonald é o novo messias, o Prefeito McCheese o novo deus, Hamburglar o novo diabo, e os Fry Guys são os novos anjos.

Apesar de eu detestar o McDonald's e mais ainda esses personagens ridículos [que graças a deus não vingaram no Brasil], saber quem eles são dá uma pequena ajuda.

Governo: todos na cidade trabalham de alguma forma para a Abençoada Corporação McDonald's, que é ao mesmo tempo a igreja, o governo e a única empresa.

Os policiais são chamados de Fry Guys (caras da fritura?) - e até este momento achava que eles usavam uniformes felpudos por causa da garota pássaro. Faria sentido também ser o termo para os anjos, já que é a personagem com asas. Nunca tinha visto esses "pingos com pernas" do McDonald's antes. Mais um personagem detestável para a lista.

A cidade-estado, aproximadamente do tamanho de Salvador e toda pintada de vermelho e amarelo, é cercada com muros 90 metros para proteger os cidadãos da desolação do mundo externo que, além de ruínas, inclui imensos animais selvagens e perigosas gangs de mulheres lobisomem.

Lá também é proibido o consumo e fabricação de qualquer tipo de alimento que não sejam as McRefeições. E você não pode pular nenhuma das refeições obrigatórias.

E aí, finalmente, a última sessão desta explicação antropológica desta sociedade futura:

Saúde: Raramente alguém vive mais que 50 anos e a maioria é obesa. E anos e anos de fast-food, vacas geneticamente alteradas e novas químicas começaram a causar mutações na população. Homens começaram a ter membros adicionais (outro braço, um novo par de pernas, etc) e mulheres, ao entrarem na vida sexual, começam a virar lobos. Por sorte, não basta ter a primeira menstruação, elas só sofrem transformações ao terem orgasmos. E só neste momento. Se a mulher transar 1 só vez e nunca mais, ela vai ficar parada naquele nível de transformação. [eu posso ter feito vocês pensarem uma coisa errada falando "lobisomem" toda hora. A transformação é fixa e gradual, não tem volta e nem tem relação com a lua cheia. mas vou continuar usando esta palavra mesmo assim]

E como ninguém quer que mulheres virem feras assassinas andando pela cidade, sexo fora do casamento e masturbação também são crimes capitais. E, mesmo no casamento, você precisa pedir permissão para o sexo (apenas para fins de reprodução), para limitar a quantidade de vezes que cada mulher o fará. E é essa a razão para as mulheres casadas andarem de burca: esconder os sinais da transformação. Nesta sociedade que precisa manter a aparência de perfeita, elas não podem andar por aí mostrando bigodinhos felinos, orelhinhas pontudas e pelagem onde não deveria. A Cheetara, por exemplo, seria presa se andasse por lá só de maiô.

Isso, claro, para as mulheres, porque são necessárias para fins de reprodução. Homens com mutações são sumariamente expulsos da cidade se descobertos, para se virarem sozinhos do lado de fora - o que é o mesmo que uma pena de morte. Esta é a mesma pena para as mulheres que comentem o crime de transar antes ou mais do que o devido.

Agora... vocês lembram da parte mais acima sobre "perigosas gangs de mulheres lobisomem" no mundo externo? Agora adivinhem de onde elas vieram e como foi que mudaram de "mulheres com penugem e bigodinhos" para "mulheres-lobo"!


E aí... começa nossa história. Tudo isso acima você fica sabendo aos poucos ao longo dos primeiros capítulos (se bobear, tudo no primeiro apenas), só para ambientar.

Estamos 120 anos depois da fundação da cidade [cerca de 3 gerações apenas? eu teria aumentado isso, fica muito curto para todas as mudanças e, principalmente, para o surgimento de todas as tradições do lado de fora]. Nosso herói (Daniel Togg) é um sujeito de quatro braços (2 deles devidamente escondidos), que, por ensinamento do avô (expulso da cidade quando ele era novo), não só se mantém em forma, como esconde comida para fazer bebidas alcoólicas em segredo.

Seu irmão é um policial e sua antiga namoradinha de colégio foi expulsa da cidade 10 anos antes por ter sido violentada (sem direito de defesa nem nada, sexo sem permissão é sem permissão e pronto!).

E então descobrem que ele tem braços a mais e é expulso também.

Atenção, são leves, mas os spoilers começam aqui.

Mas ao invés de apenas ser expulso, como todos acreditavam que acontecia, ele é levado em comboio para uma base aliada, onde todos moradores são mutantes também e lutam contra as gangs de mulheres-lobisomem. Assim eles ainda servem para alguma coisa e são menos lobas atacando a cidade. E tem outra razão também ainda, que não vou falar, nem mesmo sendo a parte com spoilers, pô, alguma coisa tem que sobrar para vocês descobrirem.

A propósito... mulheres-lobo ou mulheres-lobisomem é muito longo de digitar. No livro as chamam de Bitches. Será isso então, a partir de agora, digitarei só "cadelas". [sem ofensa alguma, elas são as personagens principais e a melhor coisa do livro]

O irmão dele é um dos responsáveis pelo comboio que levará (e outros como ele) para a tal base. Mas eles são atacados por lobos gigantescos. Os que conseguem escapar de virar almoço são encontrados por uma gang de cadelas e tornam-se propriedade delas, e daí podem ser usados ou alugados para execução de serviços, usados como objetos sexuais, ou mesmo (novamente) servir de alimento.

▪ Temos um gordo, amigo do protagonista, que torna-se posse de uma cadela secundária.
▪ O mocinho passa a ser propriedade de uma sádica e mimada cadela ruiva (Pippi).
▪ O irmão policial, que foi encontrado nos destroços por acaso por uma criança da gang, passa a ser propriedade desta. Que está mais interessada em brincar do que alugar, transar ou comer o sujeito. Mas ele não gosta de crianças. E também é o único ali que não estava sendo expulso da cidade, logo, é o que mais pensa num jeito de retornar.
▪ E um cientista da cidade, também mutante, passa a ser propriedade da garota na capa do livro, a Slayer, que é violenta mas é uma das mais racionais. [lendo o livro, eu tinha a sensação de que ela me lembrava alguém... aí deu o estalo: eu a estava imaginando com a voz da Tigresa, do Kung Fu Panda - e é mesmo uma boa comparação]

Agora os spoilers são mais pesados, se preferir, pule até a linha pontilhada.

Ficamos conhecendo também mais alguns das cadelas, todas com boas descrições, diferentes níveis de "lobitude" e personalidades variadas, e aí... outro grande spoiler: o cara reencontra a antiga namorada, Nova, que se integrou a gang depois da expulsão.

Que por sua vez, tenta negociar com a Pippi a posse dele, que apenas a deixa a ruiva ainda mais sádica e possessiva. E, para piorar, a ruiva quer ter um bebê.

E aí a história, que já estava bem legal, engrena de vez, com ânimos extremamente acirrados entre a Nova e a Pippi (que é adoravelmente detestável), o cientista achando tudo interessante e fazendo amizade com a sua dona, e o irmão policial se acostumando em ser uma babá (mas sempre querendo voltar para a família), o exército de mutantes (a base para onde eles iam no começo) atacando as cadelas (e bolando outros planos paralelos), e nossos heróis precisando avaliar sua lealdade e se as motivações e atitudes daqueles que deveriam defender a sociedade estão corretas.

• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •  Daqui para baixo os spoilers voltam a ser leves.

Óbvio que você sabe que os mocinhos e as lobas ficam amigos. Mas mesmo assim, o caminho é torto, trocas de papéis, brigas de casal, machados, pulgas, o Chewbacca [mentira, mas uma das cadelas parece muito com ele] e um bebê a caminho. E cheio de morte, personagens interessantes que tombam mesmo. Eu esperava a saída de qualquer um a qualquer momento, não teve dessa de "óbvio que esse/essa fica vivo até final", foi quase georgemartiano!

E o final nem é tão exageradamente clichê - as cadelas não vão morar na cidade e nem o governo é derrubado nem nada. E também não chega a ser um "a luta continua!". Foi um bom final, correto, e que se encaixou perfeitamente.

Até o destino final do "triângulo" "amoroso" principal ficou bem interessante. Ao ler o livro eu sempre tinha aquela sensação de que "ok, vai acontecer X porque sempre acontece X!", mas o X não parecia correto, não estava encaixando bem na minha cabeça pela história sendo contada e eu não via uma alternativa muito boa. Mas, aos poucos, o cara nos empurra numa direção Y que foi uma solução interessante. Pensei em escrever "e adulta", mas... é um livro sobre gangs de mulheres-lobo em motocicletas, McDonald's e mutantes, incluindo um general de 6 braços que usa uma motosserra em cada uma...

Mas não se engane, também não é literatura para menores de idade.

Nem tem tanta pornografia, mas há algumas passagens um tanto "gráficas" demais. Não adianta, autores de bizarro sempre tem uma queda por fazer algo assim. Mas as passagens são rápidas e sem descrever em excesso. Há uma que é bem horrível mas, por mais estranho que pareça, serviu à história e ao universo criado. De uma forma bem doida e grotesca de imaginar, mas ok, é uma cena rápida. Não vou falar do que estou dizendo não, você reconhecerá a cena se ler, é logo no começo.

E completando, só para saberem, o livro é o 1º de uma quadrilogia. Por enquanto são só dois, mas o 3º já está para sair e o quarto já está sendo pensado. [é vago, o autor ainda quer ver como ficam as vendas do 3º, mas a capa já existe até]. São eles:


Warrior Wolf Women of the Wasteland
Barbarian Beast Bitches of the Badlands, que inclui:
   ▪ Barbarian Beast Babes of the Badlands
   ▪ Horrendous Horror of the Hateful Hamburglar
   ▪ Ferocious Female Furries in the Forbidden Zone
Pippi of the Apocalypse; e
Dog Destroyers of the Deadlands (possível)

E agora, algumas resenhas:
OBS: eu até tentei achar algumas ruins mas, fora da Amazon, não vi. E, mesmo na Amazon, dos 5 que deram nota abaixo de 4, 3 elogiam o livro na verdade.

The Book Hunter: (...)  it sounded like the worst book in the world. (...) After finishing the sample, I knew I wanted to read the whole book! It was that good.
CSI: Librarian: (...) it was also really, really enjoyable. (...) In conclusion, incredibly good.
Dangerous Dan's Book Blog: I can't recommend Warrior Wolf Women of the Wasteland enough. It's not just a great Bizarro book, it's a great book. Period.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Depois do Fim

Título original: Soy… el último
Autor: Curtis Garland
Pseudônimo de: Juan Gallardo Muñoz
Editora: Cedibra  --  Ano livro / história: 1977 / 1972
Coleção: SOS Ficção Científica (Série Amarela-18)
Tradução de: Margarida Santana Gandra
Páginas: 128  -- Sem ISBN e acabamento barato
Tamanho: de uma foto (+/- 10x15 cm)

O futuro... No longínquo ano de 1986! Estados Unidos e China desenvolvem armas com algum novo tipo de radiação e, aí, o navio com elas afunda. [eu não consegui achar a parte certa agora, mas acho que foi um acidente, e não um ataque]. E no espaço, alguns meses depois, um astronauta que estava sozinho é obrigado a descer no planeta pelos protocolos automáticos de sua pequena nave. Ele preferia ficar lá e morrer de fome ao invés de encarar o planeta em sua devastação, mas... não teve jeito. E agora, que tipo de mundo espera o nosso herói?

Finalmente, depois de "algum" tempo, leio mais um livrinho da coleção SOS da Cedibra. O ruim é que, por mera coincidência, foi do mesmo autor da última postagem, e aí... Não só isso, como descubro que ele voltou ao mesmo tema! Tudo bem... Eu meio que pedi por isso! O livro se chama Depois do Fim e em espanhol é Sou o Último, então... obviamente... seria algo pós-apocalíptico com um sujeito que é o último sobrevivente da raça humana. O que já lembra um pouco o Centúria XXV (o tal livro da última postagem).

A propósito, o Centúria nem tanto, mas esse agora, tem que ter rolado uma inspiração no Eu Sou A Lenda. Será muita coincidência caso não tenha tido. Por outro lado, Talvez o filme do Will Smith passe a ser melhor se eu considerá-lo uma adaptação deste livro, e não do do Richard Matheson.

Opa! Nisso que dá escrever a postagem toda fora de ordem... Estava folheando o livro agora, tentando achar a parte sobre a guerra (?) entre os EUA e a China, para escrever certo lá no alto [que eu escrevi depois dessa parte], e esbarrei num devaneio do personagem, que eu já tinha esquecido:
" (...) alterações genéticas provocadas por um cataclismo universal. Este era o caso, sem dúvida, tinha que ser. "Os Mutantes de Mathieson", por exemplo. Mas isto não era literatura. Nem ficção científica. Era a realidade, crua e direta. A última realidade dos últimos dias do planeta."

Na hora eu nem tive o estalo, talvez por Matheson estar com um "i" errado perdido ali no meio. Mas taí... Não só é a prova de que *foi* inspirado de alguma forma, como o autor foi simpático de nem esconder. Por falar em erro, pô, monge é com G, no livro todo estava com J. Mas fora isso, português com todas as próclises e ênclises devidas, gosto disso nos livros mais antigos. E lá está escrito cataclismo com O, que é estranho, mas também é o correto. Bom saber, nunca tinha notado isso.

Mas voltando... Não só temos o humano perdido e sozinho num mundo arrasado, como [AHA! SURPRESA!] ele descobre que existem sobreviventes que só saem a noite [vampiros? não, só fotofobia mesmo]. E aí é que o voltar ao mesmo tema ganha peso: são pessoas mascaradas que "por trás das máscaras estão todos morrendo pela radiação, com a pela destroçada e nojenta". [acabei de repetir a mesma frase da minha outra postagem].

E aí o nosso mocinho (Milton Zorbe) precisa se preocupar em fugir durante o dia e sobreviver durante a noite, até descobrir uma solução mais permanente ou simplesmente desistir.

Claro, como qualquer livrinho dessa coleção (que em quantidade de texto estariam mais para um "conto longo" do que uma novela ou romance), de ficção científica barata, a narrativa é cheia de coisas que "são assim porque são"e você tem que ler atropelando, porque ela não tinha nenhuma intenção de ser algo mais profundo do que só uma aventura ligeira mesmo.

Então, por exemplo, o primeiro contato dele foi com uma mulher que não fez nada para preocupá-lo, fora o fato de não querer mostrar o rosto e continuar conversando com a luz apagada. Aí ele acende a luz mesmo assim, fica assustado com a quantidade de outras pessoas nas sombras e nota que eles usam mantos e máscaras. Ao invés de só se desculpar com aquela gente assustada (que ele faz, pelo menos), ele resolve ficar com medo e incendeia todo o quarterão, só para ter uma baita fogueira (luz para espantar o pessoal que tinha medo de luz). Até onde ele sabia eram só pessoas com máscaras que podiam muito bem viver naquelas casas.

Para alguém que estava desolado por ser o "último" humano, ficar com medo e resolver fugir quando finalmente encontra sobreviventes... não é o que eu faria. Detalhe: "finalmente" é bondade minha, isso foi no 1º dia dele de volta na Terra. Mas ele deu sorte, porque os sobreviventes comiam carne humana. Viu? É esse tipo de conveniência que temos que suportar nesses livrinhos. Mas eles são assim mesmo, só historinhas pulp corridas e cheias de clichê, e sabendo disso, são até divertidos.

Acho que o cara ter ficado mais de 10 meses sozinho no espaço deixou ele ruim da cabeça. Depois, quando há uma rápida trégua e o segredo dos sobreviventes é revelado e eles tiram as máscaras, o cara fica horrorizado demais só porque eles eram feios, como se tivessem lepra. Tudo bem, a minha geração foi insensibilizada de tanto ver filme de zumbi e outras maquiagens divertidas, mas pô, é só carne caindo, sangue e algumas pústulas, talvez algum pus. Deu nojinho e ele decide que a raça humana deixou de ser raça humana. Não convence. [ainda bem que ele foi ser astronauta, e não enfermeiro.]

Ah, e todos os personagens canibais adotam novos nomes, todos tirados da Bíblia, porque eles acham que a raça humana está sendo punida e eles têm que aceitar o castigo. Pode ser um bom livro para iniciar algum amigo religioso mais fervoroso em ficção-científica - várias vezes o personagem conversava com a "mocinha" dizendo que ele acreditava no Senhor e que tinha que manter a fé, e os canibais ainda por cima veneravam um velocino. Essas "indiretas" religiosas incomodaram um pouco, mas eram tão rápidas que... dane-se.

E, claro, no final, ele acha a cura e fica com a mocinha. E aí eles "saem para explorar e repovoar o planeta." [também tirei essa frase da minha outra postagem]

Só um último comentário, dessa vez pelo menos a capa quase fez sentido. É mesmo um astronauta, num lugar devastado, sendo perseguido por pessoas que usam vestimenta monástica. Só que o cara da capa tem barba e bengala! Fez-me pensar mais no Saruman do que em um leproso radioativo canibal. Até imaginei, pela capa, que 'depois do fim' [ha!] o mundo teria descambado de volta para a magia.

Mas é isso. É uma adaptação safada de Eu Sou a Lenda com toques de De Volta ao Planeta dos Macacos, mas continuam sendo bons livrinhos para carregar para salas de espera (ou casamentos) e ler sem compromisso. E como ninguém [ninguém!] resenha esses livros em nenhum lugar, aguardem, que eu volto com mais! [mas se for essa a minha missão na Terra, vou ficar chateado, rs!]

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

The Postmortal

Título americano completo: The Postmortal - A Novel
[o "A Novel" é um complemento bem idiota, já que é um livro, originalmente surgido assim (não foi adaptado de nenhum outra coisa chamada Postmortal), mas como o cara é conhecido por ser blogueiro e americano é um povo estranho, acho que resolveram explicar na capa o que era aquilo...]
Título inglês: The End Specialist
Autor: Drew Magary (de Someone Could Get Hurt: A Memoir of Twenty-First-Century Parenthood)
Editora: Penguin Books  --  Páginas: 370
Ano: 2011  --  Tamanho: padrão (meia folha A4)
ISBN: 978-0-14-311982-1

Sinopse: descobrem a cura do envelhecimento! Você ainda pode morrer, claro, basta ser atropelado, assassinado, decapitado, fuzilado, etc. Ou algum problema de saúde sério. Mas sabendo se cuidar, tendo sorte, e não sendo vítima de nada, o fim dos tempos é o limite. Todo mundo feliz! Ê, coisa boa! Mas o tempo começa a passar e tem gente que começa a pensar em "Mas peraí... Então eu nunca vou poder me aposentar?" e a rever a duração dos casamentos. Já outros, mais sérios já pensam em onde enfiar essa gente toda, que não morre mais e, finalmente, sempre surgem, os maníacos que acham isso errado e resolvem que é hora de começar a matar quem discorda. Padrão.

A história do livro abarca um período de 60 anos e vemos desde a festança inicial até a pocilga que virou o mundo no fim do livro (na verdade, lá pelo meio a coisa já não está boa). OBS: isso não é spoiler, a própria capa do livro já diz que a história irá ladeira abaixo. Está lá, nas letrinhas embaixo do nome do autor [que você não consegue ler na imagem acima]: "The Postmoral will make you regret ever wondering, even secretely, what it would be like to live forever." [ok, rola um exagero, mas deu para pegar o clima]

Reclamemos logo um pouco de cara, porque, afinal... sou ranzinza. rs! [Mas como eu já sei o que vou escrever... A reclamação até pode ser interpretada como um elogio...] Eu queria ter visto mais do mundo criado! Mais política, economia, diferentes culturas lidando com a situação, outros núcleos e etc. Ficamos sabendo de algumas coisas pelo dia-a-dia do personagem principal, mas não tanto como num Guerra Mundial Z, por exemplo, que tinha a desculpa de ser um jornalista entrevistando centenas de pessoas pelo mundo.

O título The Postmortal é americano, ele pareceu dar uma amplitude muito maior ao que seria abordado, fazendo parecer que teríamos uma visão mais ampla e de muitos personagens nesta situação de "pós-mortalidade". [Por mais que o título seja no singular, eu não conseguia pensar nele assim, seria como ler "The Human". Eu não pensaria que a história seria sobre 1 só humano] Já o título britânico original, The End Specialist não só já aponta o foco à um personagem bem específico, como ainda dá a ênfase a fase na vida dele em que ele trabalha com a tal especialização. [e aí você só vai entender o nome do livro lá pelo meio, o que sempre é um charme a mais]

Mais para frente, quando o sujeito arranja o tal emprego, parece que tentaram falar mais do resto do mundo, mas não ficou tão bom. Nem tão afastado do cara, nem tão ligado a ele. Mas legal, melhor que nada.

O livro começa até bem light, parecendo que estamos diante de um futuro glorioso para a humanidade e alegria geral, e cabe a amiga maluquinha do mocinho ser a primeira a dizer aquilo sobre ele nunca mais poder se aposentar, e aí o leitor tem o primeiro "Opa!" mental. E aí, logo depois, a maluquinha morre num atentado a bomba anti-vacina-da-imortalidade, e o livro começa a mostrar que o buraco é mais embaixo.

Na verdade, ficamos sabendo que deu merda antes disso - o primeiro capítulo é em 2093, uns 20 anos depois do fim da história, e lá é bem rapidamente mencionado que "o relato a seguir" é a evidência mais que definitiva que dar imortalidade às pessoas é uma péssima idéia e que isso nunca deveria ser legalizado novamente.

Por falar nisso, o livro é escrito em forma de blog. Na verdade, essa foi a desculpa dada, mas como o livro não é todo em primeira pessoa nem nada, alguém (o tal blogueiro, o mocinho do livro) teria que ter sido muito paranóico para narrar tudo daquele jeito e até reproduzir as falas. Teria sido mais prático apenas deixar tudo como estava, sem darem essa desculpa. Tipo o filme do Robocop ou Tropas Estelares, que do nada surgia um comercial de TV. Bastariam que, do nada, surgissem "links" para notícias da época, reproduções de matérias jornalísticas, ou qualquer coisa. Não afeta em nada, só achei que a "explicação" era desnecessária. Bastaria que o livro, ao invés de ser um resumo do que foi encontrado num "HD" perdido (era o backup do blog e/ou diário do cara), ser, sei lá, a monografia de um aluno do futuro. Ah, e fica a a recomendação (padrão para qualquer história assim) de, ao final do livro, voltarem lá. Lá tinha uma coisa que na hora eu não entendi e esqueci depois. Relendo deu aquele "Ih, agora fez sentido".

Mas voltemos para o passado, no distante 2019.

Depois desse primeiro choque (a maluquinha morrer), vamos acompanhando a vida do sujeito (que é advogado) e as ramificações que a imortalidade causa no psicológico e social das pessoas, como o aumento de preço de tudo e ele não querer se casar com a namorada que é apaixonado porque, afinal, "até que a morte os separe" agora é uma decisão MUITO mais séria. Ficamos sabendo um pouco sobre a vida do pai e da irmã e até, com o passar do tempo, do filho que o cara teve com a namorada, já adulto. E acompanhamos até o casamento que ele finalmente teve, quando finalmente reencontra o amor da vida dele da época do colégio. E claro, lá para o meio do livro, acompanhamos a vida meio merda do cara, na nova profissão. Dessa parte em diante o livro fica um pouco mais chato, entramos na distopia e a história fica um pouco menos saltada. Mas ainda é uma boa leitura.

Eu gostaria é que o autor lançasse agora outro livro no mesmo universo. Eu gostei do personagem e de acompanhar toda a desgraça, mas até o casamento do cara não dá muito certo. E eu queria ter acompanhado como seria a vida "normal" dele nesse mundo desgraçado. Eu queria ver como seria o casamento por tanto tempo, como seria viver com alguém 100 anos tendo ambos cara de 30, e convivendo com seus filhos e netos, todos com a "mesma" idade, o tipo de cansaço mental que isso causaria, esquecimentos e problemas, e tendo que trabalhar num mundo com mais gente do que vaga, e etc. Veja bem, eu não dizendo que queria ler uma história fofinha de amor eterno e riqueza, mas eu queria ver a merda que daria por outro ângulo, e aí o cara cortou esse barato quando fez o casamento acabar muito rápido.

Diga-se de passagem, ô cara para ser azarado! Tudo de ruim acontece com ele! Não vou entrar em spoilers, mas boa parte das desgraças na vida do personagem é puro azar mesmo. Desde a amiga que explode no começo do livro até a última página... [o cara me lembrou o garoto do Elfen Lied.]

Por falar nisso, os personagens. Eu comecei a ler o livro no sábado e na sexta-feira eu fui ao cinema. Vi Questão de Tempo, excelente filme. E o filme me poupou um grande trabalho... Estava lá, já pronta, a cara de cada personagem! O pai que eventualmente morre de doença, a loira gostosona (que aparece no começo de ambos e é um trauma importante na vida do cara), a amiga maluquinha (no filme, a irmã), e a futura esposa (a Rachel McAdams no filme, fofa como nunca). Eu só não reaproveitei a cara do sujeito, principalmente por não lembrar mais dela [e vendo agora, ele tinha uma cara de bom moço exagerada, não ia servir], o meu personagem principal parecia mais um Paul Bettany jovem (vide Coração de Cavaleiro) com cabelo castanho.

Mas é isso. Já falei abrobrinhas suficientes para justificar o fim da postagem.
O livro é a história horrível de um mundo horrível onde as pessoas são imortais - e é justamente isso que deixa tudo tão desgraçado. Mas mesmo com algumas partes chatas e o azar indescritível do cara, foi uma boa leitura.

E ficam quatro resenhas interessantes, para quem quiser ler mais antes de decidir.
[e uma delas cita o Metamorphosis of Prime Intellect, que eu tenho em papel em algum lugar, faz anos, mas agora estou na dúvida se cheguei a ler ou não...]
OBS: o 2º link é cheio de spoilers, o 1º e o 3º vocês podem ler sem se preocupar.

Outra OBS: pensando bem.. a definição do que é a profissão do cara no fim do livro eu não expliquei, porque li sem saber, então quis, de repente, deixar vocês terem a mesma experiência. Mas o que ela é não é spoiler, está em quase tudo que é sinopse por aí, então se vocês quiserem ler o livro sem nem saber isso, não leiam nenhuma delas (provavelmente nenhuma, ponto) e confiem em mim. [hohoho, que perigo!]

Graeme's Fantasy Book Review: If you read only one book this year then I’d seriously consider making it this one.
Terminally Incoherent: Magary’s writing is sharp and witty and deeply satirical.
Staffer's Book Review:  ... a top-notch novel that should have a great deal of appeal to a wide swathe of readers. [essa resenha é curta não fala muito nada além do que eu já disse, mas gostei dela porque o cara foi ao contrário, ele gostou mais da história justamente quando o cara virou o especialista]

E uma de alguém que não gostou, para contrabalançar:
Paper Knife: Aside from his problems with character and motive (...) I am struck too by how superficial this world is. [o divertido é que a maioria dos pontos do cara é totalmente válida, mas eu gostei mesmo assim]

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal!

De vez em quando aqueles links que o pessoal fica mandando no Facebook servem para alguma coisa. Muito bom isso. Boas Festas e um Feliz Natal nerd-cinéfilo para vocês!:

O Natal, por diferentes cineastas:

fonte: Brainstorm9